nós arrasamos

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Noah

Às vezes não sei o que fazer com a minha vida. Sinto-me, muitas vezes, insatisfeito e eu não sei porque ou do quê. Ultimamente tenho me sentido bem e brilhante, mas um pensamento meio vazio me faz acordar pra vida e encarar a parede. Tenho escrito algumas coisas no meu caderno. Algumas frases, na verdade. Em sua maioria, são pessimistas ou vão contra algum tradicionalismo ou senso comum. Eu gosto disso. Gosto de romper barreiras.

De alguma forma, tenho pensado estar preso numa ilusão, numa fantasia, numa comédia romântica tosca que não faz sentido e é recheada de momentos ou situações previsíveis. E tem o drama. Ah, sempre tem o drama. Vez ou outra sinto-o correr pelas minhas veias, porém tenho tentado ser racional e não chorar. Sabe, acho que não choro mais como antes. Pelo menos não como em dez anos atrás. E está tudo bem. Estou bem, sendo honesto. Ando vivendo muitas coisas ao mesmo tempo... E, bem, eu havia ficado um pouco chateado com a ideia de estar perdendo minha essência ou meu senso de realidade. Eu não sou um diamante achado na lama. Eu sou a própria lama e pertenço a ela. Às vezes eu só quero um pôr do sol simplório ao lado de um posto de gasolina com alguém que gosto.

E ele também gosta, é o que me disse. Então caminhamos de mãos dadas, vamos comer num restaurante, damos uma passadinha no shopping e, enfim, voltamos para a casa dele. Eu quero deixar o drama no passado. E, se for para viver uma comédia romântica, que tenha mais riso e romance do que momentos previsíveis ou dolorosos. Gosto da ideia de controlar minha vida. Afinal, sou eu vivendo ela, certo? Acho que ninguém pode me parar. Sinto-me imbatível, às vezes. Chegamos em casa, é banho na certa, roupas confortáveis deslizam pelos nossos corpos e, por incrível que pareça, sentamos em frente a televisão com sorvete e alguns acompanhamentos que inventamos.

Eu coloquei jujuba (embora endureça, por conta da temperatura), marshmallow de cores pastéis (Josh literalmente tem três pacotes grandes dentro da dispensa), farelo de biscoito de chocolate e chocolate que derretemos no microondas em alguns segundos. Josh disse que não gosta "dessas viadagens de tornar o sorvete uma bagunça com tantas coisas que não se conversam e te impedem de degustar com calma e deliberadamente identificar cada elemento". Mandei ele se foder e continuo tomando meu sorvete, mesmo depois de uma pequena discussão por conta disso.

- Quando você passar na televisão de novo - começo, já que acabou de passar a propaganda de um outro reality de culinária e isso me faz lembrar Josh. - Promete que vai flertar com a câmera para eu pensar que está flertando comigo?

- Não - sua resposta é rápida, curta e grossa.

- Por que não?

- Porque não - ele vira o rosto para mim e sorri com a boca cheia de sorvete.

- Por que porque não? - eu provoco, então capturo um marshmellow e enfio na boca.

- Pra que fazer isso na televisão?

- Ué. Porque sim.

- Eu posso fazer com você aqui agora - ele se inclina o suficiente para pôr a cabeça no meu ombro direito por alguns segundos, mas depois de uma risada se afasta.

- Oh, é só no off?

- Eu amo o off.

Eu rio meio sem jeito e concordo com a cabeça.

- Hm... Por que só tinha sorvete e picolé de coco na geladeira? - questiono, percebendo quão bom o sorvete de coco fica com jujuba dura de iogurte de morango.

- Porque eu gosto de coco, ora. Gosto de shampoo de coco, sorvete de coco, água de coco, hidratante de coco... Eu gosto de coco.

Arqueio o cenho, só que nem é por conta da minha luta em mastigar a jujuba. Estou fitando Josh.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now