nós deveríamos fugir do país

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Eu ajeito o boné na minha cabeça e solto um suspiro. A verdade é que, não sei como, sinto-me cansado. Mesmo assim, me sento, me aconchego, seguro na barra de ferro atrás de mim que forma um círculo que é o disco. Essa droga nem tem cinto de segurança, então estou jogado aos lobos. E Noah parece tão pleno ao meu lado que eu começo a me questionar se apenas eu problematizo a situação. Talvez problematizo tudo mesmo. No entanto, não sinto que dessa vez seja mero exagero ou capricho da minha parte. Enxugo as palmas das mãos na calça bege e volto a segurar na barra, porque de repente elas começaram a suar.

Estou nervoso e acabo mutando tudo ao meu redor. Não sei quando vai começar a girar, mas certamente levará mais um punhado de tempo, visto que ainda tem gente entrando. Solto outro suspiro e viro o rosto para Noah. Ele está ansioso; já eu, quero que termine logo. Estico meus braços e seguro com firmeza, as últimas pessoas estão entrando. Urrea sussurra algo sobre provar que não vai cair ou passar vergonha. Eu peço que, por favor, não tente nada. Ele apenas abana a cabeça e não sei o que isso quer dizer. Bem, vou ter que esperar para ver.

Trezentos anos depois, cá estamos nós numa aventura que sabemos bem como irá terminar. Minha felicidade é que já tem algum tempo desde que comemos, então certamente não irei vomitar. Conquanto, tenho certeza de que ficarei tonto, pois a música já começou e estamos girando devagar. Aperto mais a minha mão contra a barra de ferro e rezo a dez deuses diferentes para que isso não aumente a velocidade e eu saia voando para o além. Hipérbole, compreendo, sei que nem sempre sou assim. Mas é que me dá raiva ver Noah tão animado, quando na verdade estou tremendo de nervoso em escorregar e me bater em alguma coisa ou alguém.

— Que brinquedo besta, achei que iria ser mais bruto! — Noah ri ao meu lado.

Eu acabo revirando os olhos, pois o meu medo me faz perceber coisas que talvez ele não esteja tão atento.

— É que está no início. Essa porra ainda vai girar que nem um Beyblade!

— Beau, deixe de ser exagerado...

— Espia a merda, Noah.

Ele ri e sacode a cabeça, como quem desacreditando. Deixe estar, quero estar vivo para dizer que avisei.

Decerto, a velocidade aumenta e gradativamente o Disco vai remexendo-se também, se inclinando para um lado, depois para outro, e eu dou graças a Osíris eu estar pendurado ainda. A moça que está do outro lado do brinquedo acaba se desprendendo e escorregando para o centro dele. Minha vontade é rir, afinal é engraçado, mas o peso na consciência me impede de respirar e eu me contenho, já que poderia muito bem ser eu ali. Espero não ser eu ali.

— Eu vou lá ajudar ela — Noah se solta e rapidamente projeta o corpo para o meio do Disco em movimento.

Simplesmente não consigo impedi-lo, porque já está feito. Ele vai cambaleando até ela, segura pelos antebraços e a puxa pra cima. A menina, meio tonta, consegue jogar o corpo para uma das extremidades do Disco e cai sentada no assento, ao lado de um homem cujo rosto está vermelho de tanto rir da situação. Eu fico olhando ele, ao invés de me atentar a Noah. Eu sei lá, de alguma forma entendo ele... Acho que se eu estivesse vendo um vídeo na internet, com certeza estaria rindo...

O barulho do DJ me atenta de algo, assim como o fato do Disco se inclinar mais e ficar nesse vai e volta infindável. Quando olho Noah, ele está caído no meio do Disco sem saber o que fazer para se levantar, porque toda vez que tenta, acaba caindo com o movimento do brinquedo (sério, quando eu sair vou meter o DJ na porrada). Urrea está literalmente rindo no chão, e todo mundo está rindo dele também. Tenta ficar de joelhos, mas um remelexo arremessa ele de volta ao chão. Eu acabo rindo de verdade, porque a cara que ele fez ao cair de novo me faz perder a pose. Ele tinha dito que não iria passar vergonha, mas aqui estamos nós.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now