nós fizemos um bom trabalho

152 32 1
                                    

— Ai, estou com dor em todos os lugares do meu corpo! — exclamo cheio de cansaço ao me jogar de costas no sofá da sala de Noah.

— Eu estou morto de vergonha — Noah se joga sobre mim e eu solto um gemido sofrido pelo impacto do seu corpo. — Será que fomos bem?

— Nós fizemos um bom trabalho, meu bem — ponho a mão no seu cabelo e passo a esfregar as pontas dos dedos no seu couro cabeludo. — Você foi ótimo.

— Quando você disse que passou cada segundo da sua viagem a Itália pensando em mim, você estava maquiando ou falando a verdade?

— Obviamente não passei cada segundo pensando em você, mas pensei em alguns momentos, sim.

— Você... — uma pausa abrupta, para depois largar a frase no ar.

— O quê?

— Se arrependeu de fazer a viagem? — ele ergue o olhar para mim e eu desço a mão para acariciar seu rosto. Amo quando usa maquiagem leve, mas também amo sentir sua pele sem nadica de nada.

— Não, foi uma das melhores coisas da minha vida — estremeço com essa troca de olhar. — E ficar um pouco separados serviu de lição, não?

— É... — não sei se ele concorda por concordar ou realmente pensa assim. — Mas pelo menos falamos várias verdades. Fico feliz por isso.

— Você é um amor, sabia? — deixo um beijinho no seu nariz e me movo devagar para levantar sem fazer muito estrago na posição que ele está. — Vou tomar um banho, porque estou um chiclete.

— Chicletes são gostosos — seu tom ambíguo pincela meus tímpanos e sou obrigado a rir.

— Você está impossível hoje, Noah Urrea! — me sento na ponta do sofá para tirar o tênis e ele me observa atentamente.

— Você pode tirar a roupa na minha frente, que nem antigamente?

— Por quê?

— Sinto falta de te observar.

— Tarado. Stalker. Obcecado.

— Para, é sério! — ele ri e tenta me dar um chutinho, mas eu me levanto antes que sua bota me alcance.

— O que você vai me dar em troca?

— Minha ilustre presença?

— Que de ilustre não tem nada, né?

— Credo, seu cavalo desgraçado! — Noah joga uma almofada em mim, porém foi tão fraco que eu seguro. Devolvo na mesma moeda, porque não sou besta nem nada.

— Você sabe qual a minha resposta pra isso, certo?

Ele revira os olhos e diz, afinando a voz para tentar me imitar:

— “Você não me chama de cavalo desgraçado quando está montando” Hahaha, muito engraçado. Me caguei de rir.

— Você sabe quão feliz estou por você ter gravado? Nem eu lembrava!

— Eu me lembro de cada momento com você — ele se senta no sofá e eu me aproximo.

— Oh, que fofo... — tenho seu rosto nas mãos e lhe deixo um beijo longo na testa. — Tá com fome?

— De você? Sempre!

— Amado? Tome tento na tua vida, seu maníaco! — eu dou um tapa no ombro esquerdo dele, porém sua indiferença a isso é tão imensa que ele somente ri feito criança.

A real é que me sinto animado, porque desde que brincamos um pouco antes da entrevista, ele ficou um pouco melhor. Durante a entrevista ficamos de mãos dadas, eu fazendo carinho na sua. Tiramos algumas fotos fofas (inclusive tem uma que estamos abraçados e eu achei linda, irá ficar melhor na pós produção) e ele ficou bem relaxado comigo. No caminho, voltou escutando música indiana (eu acho????? não faço a mínima ideia) e, por incrível que pareça, ele cantarolou. Está em Punjabi. Eu nem sabia que ele escutava músicas assim.

Tem um milhão de coisas que eu não sei sobre ele e às vezes parece que os outros conhecem mais ele do que eu. Zabdiel conhece ele melhor. Bailey conhece ele melhor. Krystian conhece ele melhor. Às vezes até os estereótipos que Lamar impõe sobre ele batem. Eu acho que passei tanto tempo tentando não me apaixonar por ele, lidando com confusões internas, que perdi o momento que deveria conhecê-lo de verdade — o que ele gosta ou não gosta. Tudo bem, decerto que sei inúmeras coisas sobre ele, porém eu sinto que tem coisas que eu deveria saber, os outros sabem, menos eu. Fico meio chateado.

— Estou brincando — me diz entre risos e eu me afasto para ir ao banheiro tomar banho. — Mas, ei!

— Hm? — viro-me.

— Aquilo que te pedi... Da roupa... Eu estava falando sério.

Parado no corredor à caminho do banheiro, escoro-me na parede e gargalho com a cara de cachorrinho sem dono que está a fazer. Como o lado direito da minha franja está solta, ao contrário do lado esquerdo (vivo empurrando para a minha orelha), eu abaixo um pouco a cabeça para que a franja cubra um pouco do meu rosto enquanto puxo a camisa de dentro da calça. Que vida miserável... Não acredito que estou fazendo isso. A questão é que não estou nem vou sensualizar. Ainda mais porque eu nem sei que horas são, daqui a pouco tenho que voltar ao restaurante, então não posso ficar perdendo muito tempo.

Vou abrindo minha camisa com pressa e, quando levanto os olhos, vejo Noah sentado no sofá, segurando uma almofada no colo, enquanto me olha atentamente. Meio sem jeito, encaminho-me ao sofá e paro na sua frente. Seus olhos estão lambuzados de fascínio e necessidade. Não é como se ele estivesse sendo malicioso. E bem na frente dele eu tiro minha camisa. No mesmo instante que a jogo no sofá, ele empurra a almofada para fora do colo e segura meu quadril com uma das mãos, levemente me puxando para sua direção. Atendo o seu pedido e quase instantaneamente me sento em seu colo.

Ele tira meu cabelo detrás da orelha e fica a acariciar meu rosto com delicadeza. Acho que a melhor parte de ficar com ele são esses carinhos e o sentimento de que ele não me vê como objeto ou oportunidade para realizar uma vontade individualista. Ele me vê não do jeito que sou, mas de um jeito melhor. Me vê como se eu fosse o oxigênio que incendeia seu corpo após um quase afogamento. Não sei se isso é bom, porém não sei como mudar. Gosto de como as coisas estão, para ser franco. A ironia do coração agoniado é querer pressa no que ansiosamente almejou.

— Merda — o celular que vibra é retirado por mim do meu bolso. Tem uma mensagem de Erick perguntando se irei voltar hoje ou não. Então eu acabo de lembrar de algo. — Banana! Preciso ir... Achei que tinha pelo menos trinta minutos aqui, mas é melhor eu ir logo...

— Oh, sério? — tenta me segurar pelo quadril, porém me afasto rapidamente.

— Sim... Jurava que daria para eu tomar banho antes de ir... Que droga — enfio meus braços com pressa na camisa e procuro meus tênis pelo chão.

Eu simplesmente esqueci. Esqueci. Esqueci. Não é só porque eu preciso estar lá para liderar a cozinha, preciso estar lá para treinar o pessoal de um prato novo que eu estarei incluindo como “Especial do chef” em breve. E eu esqueci disso. Agora eu lembro. Vou passar num mercado e comprar cebolinha também, porque esse prato em específico precisa. E eu estou animado, já que esses dias estive ocupado com ele, tentando aperfeiçoar e ter uma versão definitiva. Erick vai me ajudar nisso, por isso preciso chegar cedo e, de quebra, também sair tarde. Estou muito apreensivo em deixar Noah sozinho, por que vai que ele fica meio deprimido ou ansioso? Mas não posso. E, por isso, lhe dou um beijo rápido e pego minhas coisas sem nem mesmo amarrar o tênis.

— Você volta hoje? — ele quer saber, assim que eu abro a porta para sair.

— Me espere, posso chegar tarde. Tente ficar acordado.

— Tá bom! Te amo, tá?

— Também.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now