nós vamos ficar bem?

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Josh ficou me olhando o tempo todo. Eu estive assistindo ao programa, então nem pude dar muita atenção. Mas teve um momento em que conseguiu sentar ao meu lado e, como havíamos desligado as luzes, tentou segurar a minha mão. Conseguiu por breves dois segundos. Eu separei. Depois, deixou a mão na minha coxa e acariciou com cuidado. Eu afastei. E então ele desistiu.

O episódio terminou há quinze minutos. Estamos já de saída, porque comemos o resto e ficamos batendo papo. Eu tenho certa pressa de chegar em casa, porque eu tenho que adiantar algumas coisas do trabalho da faculdade. Final de semestre e eu estou enlouquecendo. Quero dar o meu melhor, embora eu saiba que não há como colocá-lo em atividade sempre. A consequência sempre é a frustração.

Eu engulo em seco após me despedir de todo mundo e brevemente dar tchau ao Josh. Não que eu esteja querendo afastá-lo de mim — quer dizer, não só isso —, mas é que eu preciso desse tempo para mim também. E ficar me encontrando com ele em banheiros não ajuda muito. Ainda mais quando eu ainda guardo a memória muscular dos seus lábios esfregando em meu pescoço.

— Você não quer ir para minha casa comer? — Bailey chama minha atenção quando saímos do restaurante. — Ou quer que eu te deixe em casa?

— Em casa mesmo — caminhamos lado a lado em direção a sua motocicleta. — Tenho coisas para fazer.

— Me sentindo rejeitado — ele ri baixinho e abre o bauleto atrás da moto.

Ponho as mãos dentro do casaco e espero quando tira os dois capacetes e me entrega um. Ainda bem que eu vim com uma jaqueta, caso contrário morreria de frio me transportando de moto por aí.

— Noah — atrás de mim, uma voz conhecida me chama. Solto um suspiro antes de me virar. Bailey tranca o compartimento e sinto sua movimentação para sentar na moto enquanto olho para o Josh. — Mon ange...

Então agora ele vai começar a me chamar de “meu anjo”?

— Oi — minha voz sai baixa. — O que foi?

Vejo seus olhos correrem rapidamente para Bailey e depois voltar para mim. Ele está hesitante.

Ça va? — ele questiona se estou bem em francês. Por que está falando comigo em francês?

Balanço a cabeça positivamente. Quando percebo que irá falar mais, preparo meu cérebro para processar o francês.

— Você não quer ir comigo? — ele questiona em francês.

Amo quando fala “avec moi”. Suas bochechas ficam fofas.

— Não — eu respondo, também em francês. Bailey solta um barulho incômodo atrás de mim. Deve ser por isso que Josh está falando em francês. Não quer que ele escute. — Obrigado.

— Cuide-se bem, meu amor — ele fala ao pegar o capacete da minha mão. Eu mudo minha postura só de escutar esse “mon amour” no final.

Porra, isso é sério? O Josh me chamando de “meu amor”?

— Meu docinho — eu respondo com um sorriso no rosto. Sua expressão de preocupação se esvai e um sorriso tímido escapole dos seus lábios. Eu não sei se “ma louloute” se traduz como docinho, porque só é um jeito carinhoso de se referir ao seu amor. Espero que o Josh interprete desse jeito.

— Para com isso — ele tira a franja do rosto e estende o capacete.

De início, não sei o que ele irá fazer ao aproximar de mim, porém no momento em que ergue o capacete, percebo que quer colocar na minha cabeça. Inclino-me para ajudar no encaixe. Ele ainda ajeita minha franja preta após colocar o capacete.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde as histórias ganham vida. Descobre agora