nós te ajudamos sempre e dessa vez não vai ser diferente

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Não estamos na época das trevas, mas não é como se estivéssemos num caloroso e cego desejo um pelo outro. Pela minha parte poderia, mas após aquela conversa, algo em mim foi atingido e temo que morra aos poucos. Os sentimentos de outrora ainda moram em mim, embora tenham se encorpado e virado algo que não sei claramente o que é. Minha mãe continua me mandando mensagens para levar Josh lá, mas eu não acho isso justo comigo. Eu só queria viver um pouco em paz, por que toda hora aparece alguém me pedindo isso ou aquilo? Eu sei que Josh não vai conhecê-la, porque ele não quer que fiquemos mais sérios, e apresentar aos pais é uma porta. Acho que ele fingiu que tem interesse nisso, porque não tocou mais no assunto e eu confesso que não vou mais falar sobre. O que mais machuca, na verdade, foi que eu sempre crio expectativas em relação a ele e termino assim. Involuntariamente eu atiro no meu próprio pé. Eu achava isso lindo, mas agora lamento.

Não é mais sobre eu ser suficiente ou insuficiente para ele. É mais sobre eu achar que, com aquele pedido de namoro super besta e infantil, todos os meus problemas estariam resolvidos. Não estão. Surgiram mais, pra dar aquele plus no quesito foder minha vida. Não estou assim triste, só estou chateado, porque sinto que estou percorrendo um caminho que irá terminar em breve, repentinamente, que dará para um abismo e que eu cairei deliberadamente. Mas se eu já sei que isso vai acontecer, por que continuo seguindo o caminho? Se eu já sei?

— É a mesma coisa da vida — Bailey May joga uma carta nove vermelha sobre o centro da nossa rodinha.

Estamos jogando Uno no meu apartamento, porque a vida é uma merda e eu preciso me esquecer dela com jogos de cartas e cerveja.

Na verdade, foi porque Josh não pôde sair comigo hoje.

— Você não para de viver só porque sabe que vai morrer no final — Bailey continua.

— É justamente isso. Eu já desisti de viver inúmeras vezes só por saber que vai ter fim — dou de ombros, então agarro meu copo e viro o resto da bebida de uma única vez.

— Ah, Noah, não fica pensando nessas coisas — Krys põe a mão no meu ombro. — O Josh gosta muito de você.

— Até ele decidir não gostar mais — completo.

Krystian joga um bloqueio vermelho e me tira dessa rodada. Então Bailey olha para as próprias cartas, decidindo qual irá jogar.

— Não é assim que o amor funciona — ainda diz, mas não olha para mim.

— Não, é exatamente assim. Com o tempo, o seu amor por aquela pessoa pode mudar até se tornar um carinho. Pode ter motivo ou não, mas vai que você tem interesse em outro alguém e a pessoa com quem você está não te dá mais aquele sentimento louco do início?

— Mas todo mundo sabe que relacionamentos longos não são com base na paixão, Noah — Krys se opõe. — São coisas diferentes. Você acha que sua paixão por Josh vai durar para sempre e vice-versa? Sinto muito, mas você vai continuar quebrando a cara se pensar nisso.

— Credo, Krys — Bailey ri.

— Mas é verdade — Wang se estica para enfiar a mão dentro do saco de salgadinho de banana que está entre eu e Bailey. — Você não pode esperar que tudo irá durar para sempre. Não vão. Só que você tem que administrar as coisas muito bem.

— Não adianta pensar nisso, porque não vai rolar — dobro minhas pernas e me aproximo mais da mesinha de centro, pois estamos sentados no chão jogando cartas sobre ela. — Nem adianta mesmo.

— Você é idiota? — o tom agressivo repentino de Bailey me assusta. Quando olho-o, penso que está se referindo a alguma carta que joguei. Mas eu não joguei nenhuma carta ameaçadora, então fico encarando-o sem saber do que está falando. — O Josh disse que não quer casar. Não quer dizer que vocês não vão ficar juntos por sei lá quantos anos.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now