nós estamos assumindo mesmo?

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Deito a cabeça no gramado, olhando o céu, meus pensamentos em turbulência. Toca aquela música de Marvin Gaye, How sweet it is (to be loved by you), e eu aqui percebendo quão doce é ser amado por ele. Agora há pouco tirei algumas fotos dele com a câmera que encontrei no meu quarto. Noah tem uma vibe de vovô cottagecore quando quer, então eu o vesti com algumas roupinhas fofas que ele trouxe — eu fiz as combinações, porque se dependesse dele só teria breguice — e pedi que fizesse algumas poses enquanto eu tirava a foto. Os resultados foram incríveis e nem creio que tirei umas 120 fotos dele. Mais tarde vou fazer o processo de pós produção e num outro dia posso entregar o book dele. Para quê agência de modelo se existe euzinho aqui?

— Você me deve cem mil dólares pelas fotos — eu falo, após respirar fundo um ar tão escasso de poluição e sujeiras.

— Como é? — ele vira a cabeça na minha direção, agora percebo que tem uns pedacinhos de grama grudados nos fios dos seus cabelos.

Estamos deitados sob o sol poente que está praticamente mais lá do que cá. Se o sol parte daqui, ele irá surgir em outro lugar. Se algo sair de mim, aonde que irá? Eu gosto de ver quando ele rola pela grama e não liga se a camisa sobe e sua barriguinha fofa fica exposta. Só para quando encosta numa árvore, depois ri feito criança da própria idiotice.

— Você está fugindo da sua dívida, Noah Urrea? — lhe questiono.

— Que absurdo! Claro que não! — ele se enrola numa concha quando me vê engatinhar até sua direção. — Eu estou cochilando só.

— Eu quero meu cem mil — peço, fingindo que estou checando os bolsos da sua calça, ainda que eu saiba que estão vazios.

Já se passaram algumas horas desde aquela briga ridícula com a minha família. Fomos ao meu quarto, trocamos de roupa, escutamos música no fone e nos escondemos em lugares aleatórios da casa para não nos acharem. Acho que já estou melhor, porque consigo rir sem tanta preocupação. No entanto, não dá para esquecer, certo?

— Ai! — ele grita, empurrando o corpo para longe de mim num jeito tão dramático e tão gay que eu preciso até parar pra analisar a desgraça da cena. — Ui! Não me toque! Não tolero assédio!

— Velho, você é dramático pra dedéu — dou um tapa na sua coxa e ele ri no meio de um gemido de dor. — Cadê meu dinheiro?

— Eu vou te pagar, eu juro! — começa a choramingar falsamente. Eu preciso rir disso.

Me deu vontade de brincar de sugar daddy, mas vou dar um descanso para ele hoje. Noah merece.

— Muito bem — me levanto e ajudo-o a fazer o mesmo.

Acho que eu e Noah estamos ficando muito, muito colados. Agora há pouco minha irmã apareceu com o namorado, dizendo ela que passou o dia fora, passeando com Ethan pelas ruas da cidade. Eu falei ao Noah que vamos passear amanhã e ele pareceu concordar. Não estamos muito em contato com a minha família, ainda mais porque basicamente a única pessoa que ainda fala comigo direito é minha mãe. Eu a encontro na cozinha e ela me convida para preparar um almoço de pazes amanhã. Eu digo que sim, pois não quero parecer rude ou arrogante. Eu não quero maquiar as brigas com um almoço, só que... Bem, não tenho muitas opções agora.

— Mas você se lembra quando estava estudando em Paris e quando vinha aqui, ficava cozinhando comigo e me explicando tudo que aprendia? — ela remexe o baú das memórias e arranca uma das quais raramente lembro.

— Ah, sim — sorrio, concordando com a cabeça.

Eu tiro uma caixinha de leite de morango da geladeira e entrego a Noah, que está sentado à mesa da cozinha e não para de cutucar a câmera que usei para tirar fotos dele.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now