nós vamos embora

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Uma semana sem notícias do Noah. Uma fucking semana sem notícias de Noah Urrea.

Ao contrário de mim, ele esteve muito presente nas redes sociais. Ele tem postado bastante na conta da floricultura. Mas não é assim tão simples. Ele está biscoitando mais, chamando atenção para si e usando-se como garoto propaganda. Eu poderia dizer que é fenomenal se não estivesse ardendo por dentro diante de tantos comentários sobre como ele é bonito e “queriam levar ele para casa”. E imaginar Noah com outras pessoas me deixa irritado e fraco. Eu nunca imaginei-o apaixonado por alguém senão eu. Então, sim, eu entendo a estratégia dele. Não acho que tenho posição para aprovar ou desaprovar, uma vez que a vida é dele. Só que não posso negar que o excesso de comentários me deixa desconfortável.

Tirei meu gesso e agora estou tentando me acostumar outra vez com meu braço. Achei que seria horrível, mas está sendo melhor do que isso. Aos poucos, eu estou fazendo um pouco de tudo na cozinha outra vez. Pelo menos essa parte da minha vida está dando certo.

Ontem fui pego por um pensamento ruim. De que Noah está estragando minha felicidade. Isso não é verdade, é só que eu estava bravo. Ainda estou, sendo honesto. E ultimamente tenho escutado essas músicas antigas de amor, porque só elas estão me deixando na linha e não a um segundo de surtar. Porque toda vez que estamos bem, surge uma bomba que ele me joga e eu preciso lidar com isso. Ah, pronto, o sentimento voltou. Eu devo parar com isso. Noah não quer me ver triste. Eu sei que não.

Esses dias larguei de mão Happy Together e fui assistir Love Affair de 1939. Esse, sim, comecei e terminei num único suspiro ou até mesmo antes do final de um mísero piscar. Conta a história de duas pessoas comprometidas que se conhecem em um cruzeiro e acabam tendo um caso de amor. A história é bonita e, acredito, para aquela época era original. Eles dizem que se tudo der certo na vida deles até julho, eles largam seus parceiros e se encontram no 102° andar do Empire States, às 17hs, para ficarem juntos. Mas não acontece exatamente como planejado. Tenho algumas críticas sobre o final, porém o que me pegou de jeito foi a canção que a moça entoou numa das cenas nos meados do audiovisual: “Finja estar alegre, coração, ainda que esteja triste, coração. Ele não deve saber disso. Não se desespere, coração, nós ainda podemos compartilhar um final feliz”. E são essas palavras que me impulsionam a amarrar os cadarços e me preparar para sair.

Fingir e não me desesperar. Vou ensinar isso ao meu coração.

Ontem o Lamar nos chamou para um karaokê pela tarde de hoje. Ele não disse quem vai estar lá, mas se Krystian vai estar, com certeza Noah também estará. Eu tento não pensar nisso enquanto faço uma maquiagem leve. Tento não pensar nisso quando pego as chaves, tiro meu celular do carregador e saio de casa. Meu único pecado foi continuar no carro a playlist que estava tocando em casa. Porque a próxima que aparece é uma chamada You always hurt the one you love de The Mills Brothers. Aperto o volante não sei se com raiva ou tristeza — você não evitou se desesperar, coração — e, ao invés de sair logo com o carro, meu coração fica um pouco acelerado e sinto uma ânsia em falta de ar. Porque eu sempre machuco quem amo e não sei mais o que fazer para impedir.

Você sempre magoa aquele que você ama. Aquele que você não deveria magoar mesmo. Você sempre pega a mais bela rosa e esmaga-a até que as pétalas caiam. Você sempre quebra o coração mais gentil com uma palavra apressada da qual você não lembra. Então se eu parti seu coração noite passada, é porque eu te amo acima de tudo”. Esse sou eu? Porra, esse sou eu?

Talvez não seja Noah que estrague minha felicidade. Talvez eu estrague a dele.

— Você ainda vem hoje ou só no próximo dilúvio? — Lamar grita no telefone quando eu atendo sua ligação.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now