nós deveríamos ser como todo mundo

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Acendo um cigarro e sento à mesa. Meus amigos me olham cheios de expectativas, mas eu não tenho lá muitas coisas para falar.

— Nada hoje? — Krystian questiona, com seu típico tom de "é sério que me fez sair de casa para isso?”. Bem, eu não o culpo. Eu decepciono quase sempre.

— O que tem para falar? — guardo o isqueiro no bolso do moletom. — Daqui a pouco ele chega. Como vou contar se ele vai estar aqui?

— Então a desculpa da vez é essa? — Bailey, mesmo enfiando três batatas fritas de vez na boca, decide falar.

— Não é bem uma desculpa... — encolho os ombros.

— Aproveita que ele ainda não está aqui e conta, bobo — Krys sorri de um jeitinho traquina e eu dou de ombros.

Estamos num barzinho, sentados no canto, meio escondidos. Eu acabei de voltar da faculdade e ainda estou com minha mochila por perto, claro. Estamos esperando Va Te Fouder e Josh chegarem, porque vamos ficar aqui por um tempo e depois voltar para casa. Não sei quem vai cuidar do Josh hoje à noite, mas espero que seja eu.

— Gente — inclino meu corpo para frente. Com o cigarro entre o indicador e médio direito, eu trago profundamente e solto a fumaça devagar. — Eu vou contar uma coisa aqui. Não me achem bobo, por favor.

— Você sempre é bobo, Noah Urrea — Bailey revira os olhos e pega o copo de cerveja dele.

— Mas vai soar bem bobo — dou duas batidinhas do cigarro no cinzeiro. — É que esses dias nosso relacionamento anda meio estranho, mas hoje eu... eu me senti bem com tudo sabe? Até mesmo pelo que passamos, eu só estou... Sei lá... Sabe?

— Não, você não disse nada com nada — Bailey responde.

— Krystian vai saber. Ele namorou por anos — quando eu falo isso, Krys praticamente se engasga com a própria cerveja. — Ele sabe que há brigas e momentos ruins, mas mesmo assim continuam juntos, porque essas coisas fazem parte.

— Se você realmente gostar da pessoa, essas pequenas brigas não são nada — Wang concorda comigo.

— A real é que passei a aula toda pensando sobre isso... — ponho o cigarro entre os lábios de novo e percebo uma coisa: estou fumando e daqui a pouco o Josh chega. Não é lá uma boa ideia estar cheirando a cigarro quando ele aparecer. — Eu vou me alistar no exército quando eu terminar a faculdade. Como vou terminar em breve... vou me alistar em breve.

— Sério? — Krystian arregala os olhos, claramente bem surpreso.

— Sim, eu não tenho mais como enrolar. Daqui a pouco tempo já estou chegando na idade limite — encolho os ombros. — Eu deveria ter ido antes, na verdade. Acho que eu deveria ter me alistado aos dezenove, iria me evitar muita coisa...

— Yah, não venha com tristeza, Noah! — Bailey põe a mão sobre meu antebraço esquerdo e eu sorrio de uma maneira triste. Eles sabem muito bem que nessa época eu fiz muita merda. — Mas se você quiser se alistar depois da faculdade, tudo bem. Mas seria ruim, não? Mal irá conseguir um emprego depois. O bom é arranjar um emprego assim que se forma.

— Eu não estou fazendo faculdade para arranjar emprego — falo com sinceridade. — Eu só quero aprender. E se eu puder trancar antes disso só para me alistar, e voltar depois, está tudo bem também. Eu tenho a vida inteira para arranjar um emprego.

— Você sabe que pode aparecer lá na empresa se precisar de qualquer coisa, né? Eu sempre te disse isso — Krystian olha-me seriamente.

Eu engulo em seco.

— Eu sei, eu sei. Eu tenho minha floricultura agora e estou indo muito bem. Eu só nunca demonstrei interesse em trabalhar na sua empresa porque achei errado. É injusto, porque eu vou entrar por ser seu amigo e eu nem sei fazer nada que venha provar meu valor. E há pessoas aí fora que realmente têm competência e merecem trabalhar lá — inclino a cabeça para o lado, porque estou pensando no assunto. — Mas um dia eu levo a sua proposta em consideração. Por enquanto, estou feliz onde estou. Obrigado, Krys.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now