nós não vamos terminar por isso

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Josh

— Já é a segunda vez que você faz uma apresentação péssima, Erick! — eu reclamo, pondo o prato em frente a ele para que perceba o erro. — Refaça.

— Sim, chef! — ele exclama meio cansado e vira-se para preparar outro.

— Eu não quero que meus clientes comam algo que se parece com lixo — vou comentando, a medida que me afasto dele.

— Claro que não, chef!

Ajeito o mise en place antes de dar uma ordem para que Joel adiante o molho. Lavo minhas mãos e, embora minha mão direita ainda tenha o gesso, fico feliz por pelo menos limpar os dedos. Peço que Richard fique no meu lugar enquanto estou fora da cozinha. Quero dar uma olhada no salão.

Não demora muito para eu ficar a par de tudo. Tem três mesas com pedidos atrasados e isso me estressa mais que qualquer coisa. Dou uma avisada na cozinha sobre isso e confesso que é prazeroso escutar um "certo, chef". Mordo o lábio inferior ao chegar perto de Lamar, que está em seu posto habitual, mais como um hospedeiro.

— Tudo bem por aqui? — questiono.

— Uhum — ele concorda com a cabeça.

Passamos algum tempo observando a movimentação do restaurante, até ele me cutucar no braço para me chamar atenção.

— Tem falado com Noah? — é o que pergunta.

— Hm? — viro o rosto na sua direção. — Por quê?

— Sei lá... Tem falado ou não?

— Não muito, sendo sincero.

— Ah... — ele encolhe os ombros e olha para outra direção.

Isso me incomoda.

— Por quê?

— Ele tem andado meio triste, eu acho — Lamar volta a me olhar. — No dia que nos vimos, ele não estava lá com uma cara muito alegre ou sei lá. Ele parecia meio abatido, até mesmo sua aparência deu uma decaída. Não sabia se vocês estavam conversando ou não... enfim, acho que você pode conversar um pouco pra tentar ajudar ele, seja lá o que esteja deixando ele pra baixo.

Olho para o meu braço engessado e fico pensando sobre isso. Por que o Noah está passando por algo e não me contou?

— Que estranho. Ele não me disse nada.

— Talvez ele não queira te preocupar, não sei — meu amigo parece respirar fundo. — Fale com ele. Pelo menos se mostre como opção para ele se apoiar.

— Não creio que você está preocupado com ele — viro-me de frente para Lamar, porque pode ser que ele esteja mentindo para tirar uma com a minha cara.

— Noah é tipo cachorro morto. Por que chutar? É muita maldade — ele fala isso sorrindo, então sei que está brincando, mas a rapidez com que desfaz o sorriso me faz pensar que há certa ponta de verdade nisso.

— Haha, muito engraçado — reviro os olhos e me preparo para me afastar. — Fique de olho aí. Vou me ausentar um pouco.

Lamar acaba meneando a cabeça. Depois disso, eu decido subir para o escritório. Estou cansadinho, mas não tanto quanto antes, assim que voltei a trabalhar. Estou menos destruído. Lavo as mãos no banheiro e pego meu celular de cima da mesa. Distraidamente, passo os olhos em algumas redes sociais. Há duas horas atrás, Noah postou no seu twitter o seguinte: “estamos em 29? porque tudo que estou vivendo é uma grande depressão”. E isso me fez pensar.

Solto um suspiro e ligo para o seu número. Após quatro toques, ele atende.

— Noah, hey! — distraidamente eu ponho a mão no peito e, por cima da camisa, agarro o pingente do colar que ele me deu. — Tá ocupado?

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now