14 - IV

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Seguimos em silêncio em direção a saída do cemitério. Dou mais uma olhada para trás, onde a minha tia chora copiosamente junto às duas filhas, fico com pena dela. Mesmo que me fez sofrer tanto, ela amava o marido e não deve ser fácil. Ao passar em frente a uma árvore, ouço uma voz feminina me gritando:

— Alice!? Alice!?

Olho para trás e vejo a loira caminhando apressada em minha direção. Seus cabelos poucos centímetros abaixo do ombro balançam no ar.

— Eu te conheço? — é a primeira pergunta que sai da minha boca.

— Você não me conhece? — devolve a pergunta franzindo o cenho.

Analiso ela de perto. Com macacão preto e tênis da mesma cor. Seus olhos castanhos escuro iguais aos meus.

— Não. Não pode ser. Isso é mentira — balanço a cabeça sorrindo ao constatar quem é ela de fato.

— Sim. Eu sou Alana. Sua irmã — responde também sorrindo.

Antes mesmo dela fechar a boca, vou até a mesma e abraço.

— Ai meu Deus! Eu não acredito! É você! Você está viva! — grito de felicidade.

Algumas pessoas ao nosso redor viram-se para nós. Curiosos e ao mesmo tempo repugnados com o meu escândalo. Com certeza estes não sabem o que é ficar anos longe de um irmão, ou qualquer parente muito próximo. E ainda vê-la viva e bem cuidada é motivo para se alegrar.

— O que Isadora disse a você? — questiona desfazendo o abraço com a testa franzida.

— Ela disse a verdade, que te deu para adoção. Mas são tantos anos, pensei que você tinha morrido.

Alana faz um sinal positivo e direciona o olhar para a tia, que está vindo em nossa direção com o semblante nada agradável.

— E quem é ele? — aponta a cabeça para Thiago.

Por um momento eu tinha esquecido que ele estava ao meu lado. Com a chegada de Lana me fez esquecer de tudo, até do meu tio.

— É meu namorado, Thiago — falo sorrindo.

— Legal. Muito prazer — sorri sem mostrar os dentes.

— O prazer é meu.

— Quem é vivo sempre aparece, não é verdade? — Isadora atropela Thiago, assim que se aproxima de nós, com indiferença.

Alana vira-se para a mesma e cruza os braços.

— Olá Isadora. Não me impressiona que não está feliz com a minha chegada. Não mudou nada! — minha irmã faz o mesmo, olhando dos pés a cabeça.

— Que bom que é inteligente. Assim eu poupo a saliva. Eu nem sei o que você está fazendo aqui — Tia Isadora continua com as mãos atrás da costas.

— Eu não te devo satisfação, mas vou falar. Eu estou aqui por causa de Alice e tio Rodolfo — aponta para mim e depois para a cova.

Eu e Thiago entreolhamos, já prevendo a confusão que ocorrerá. Conheço bem a minha tia, quando começa quer terminar e minha irmã não parece uma mulher que afasta fácil das provocações.

— Você não é bem vinda. Será que colocar você na adoção não foi suficiente, Alana?  — Isadora esbraveja.

Rose e Fátima aproximam confusas, com o quê de interrogação pelas duas estarem discutindo no enterro do pai.

— Vocês duas parem com isso! — repreendo-as. — Esse lugar não é apropriado para discussão.

— Cala a sua boca, ainda não chegou no chiqueiro! — Isadora olha feio para mim.

Sem Direção (Concluido)Where stories live. Discover now