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Paro em uma foto. Onde eu e minha irmã sujava uma a outra com farinha de trigo. Estávamos somente de calcinha. Eu tinha quase dois anos e minha irmã quatro. Temos dois anos e dois meses de diferença. Eu sabia exatamente por que nas fotos tem as datas em que elas foram tiradas.

Sorrio feito uma boba, pensando se a minha irmã lembra de mim. Será que ela sabe da minha existência? Eu só sei dá dela por causa da minha tia Isadora. Será que ela está viva?
Tantas perguntas sem respostas.

— É sua prima? — Thiago chega de repente me fazendo levantar assustada.

— Você assustou mais uma vez? — indaga segurando o riso.

— Claro! Você aparece do nada e fala perto de mim. Como você quer que eu reajo? — olho feio para ele.

— Desculpa. Senta ai. — Pede.

Sento na cama novamente e ele senta ao meu lado.

— E respondendo a sua pergunta. Ela não é minha prima, é a minha irmã. — Falo dando um leve suspiro.

Thiago arregala os olhos e me fita.

— Você tem irmã? Onde ela está? — ergue uma sobrancelha.

— Isso eu também não sei. É uma longa história Ti. — Respondo olhando para a cerâmica marrom.

— Ti!? Humm! Gostei. Mas pode contar. Eu tenho bastante tempo. — Diz com um sorriso galanteador nos lábios.

Suspiro outra vez.

— Ei! O jantar está pronto. — Márcia grita atrás da porta.

Thiago vai até lá, abre e diz:

— Traga o jantar meu e da Alice no meu quarto, por favor.

— Sim, senhor. — Responde.

— Vem, vamos para o meu quarto.

Thiago pega no meu braço me levando para a sacada.

— Vamos passar pela sacada.

— Para quem disse que o quarto não é o lugar ideal para comer. Olha só? — comento relembrando do segundo dia em sua casa.

Solto uma breve risada.

— É uma excessão. — Sorri. — E você não vai querer contar a história da sua irmã na frente minha família, ou vai? — pergunta quando chegamos na porta do seu quarto.

— Não mesmo. — Concordo.

Em menos de um minuto a Márcia traz a comida nossa.

— Pode começar.

— Então, como você sabe, a minha tia não é uma pessoa muito legal. Na ausência do meu tio, ela colocou minha irmã na adoção. — Thiago leva a mão à boca, e faz sinal para eu continuar. — Segundo ela a minha irmã dava bastante trabalho, e o único jeito foi colocar lá. Quando o meu tio Rodolfo voltou um mês depois. Ele procurou por ela. Foi até a adoção, eles entregaram o endereço da família que havia adotado. Mas quando ele chegou na casa, no mesmo endereço. A casa estava vazia e escrita "aluga-se".
O meu tio ligou para número em busca de informações sobre os moradores anterior. O dono falou o mesmo nome dos que adotaram minha irmã, mas não conseguiu descobrir para onde eles tinham mudado.

— Que triste. — Thiago fala olhando para o prato.

Nós estamos jantando na sacada. Um friozinho bate no meu rosto e corpo me fazendo arrepiar.
Ficamos em silêncio o restante  do jantar até finalizá-la.

— Você já pensou em procurá-la? — Thiago pergunta após o jantar.

— Impossível. Eu não sei onde ela está morando. Na verdade eu não sei se ela está viva. — Passo a mão no meu rosto.

Thiago estreita os olhos.

— Não diga isso Alice. Nada é impossível para Deus.

Ele coloca a mão no meu joelho. Eu me recuo.

— O que foi? Fiz algo errado? — pergunta preocupado.

— Não. É que.. Eu não gosto que colocam a mão na minha perna. — Falo sem jeito.

Ele franze o cenho.

— Por quê? — questiona.

— Deixa pra lá. Nada demais. — Respondo desviando os olhos.

— Me fale Alice, por favor! — ele diz segurando as minhas mãos, fazendo com que eu olho nos seus lindos olhos verdes.

Os seus olhos brilham através da luz do local, percebo que está interessado no assunto.

— Eu nunca comentei isso com ninguém. É muito estranho de falar.

Thiago desvia os olhos de mim.

— Vamos entrar. Está fazendo frio. — Diz me levando para o seu quarto.

Vai até o closet me deixando sentada em sua cama.
Ele volta com duas jaquetas. Me entrega uma e veste a outra.

— Nós somos amigos, não somos? — confirmo com cabeça. — Então confia em mim. Amigos confia um no outro.

Thiago sabe bem jogar as palavras, ele consegue me convencer em menos de cinco minutos.

— Não conte à ninguém. Nem mesmo para sua irmã.

— Não contarei. — Diz sentando ao meu lado.

— Por onde eu começo mesmo? — pergunto olhando para ele.

Mesmo confiando nele, não consigo controlar o nervosismo.

— Que tal, pelo começo? — diz sorrindo.

— Não tem graça nenhuma. — Digo sem demonstrar sorriso.

— Desculpa. — fica serio. — Ok. Vou fazer a pergunta novamente. Por que você não gosta que toca no seu corpo? — Ele ergue a sobrancelha.

— Eu tenho um trauma.

Thiago coça a nuca.

- Trauma!? De quê? — questiona confuso.

Fecho os meus olhos e conto até dez. Pensando em falar ou não.

— Ai, eu não sei é muito complicado de dizer! Eu não consigo. Vou voltar para o meu quarto. — Falo começando a levantar e ir em direção a porta.

Thiago me impede de seguir segurando minha mão e fica em minha frente.

— Confiança Alice. — Implora.

— Não é confiança Thiago! É a coragem que eu não tenho. — Digo quase choramingando com o olhar para baixo.

Ele toca no meu queixo, para olhar para ele.

— Você foi estuprada?



E aí? Será que Alice  foi mesmo estuprada?

Não esqueça de clicar na estrelinha.

Sem Direção (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora