8 - I

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Remexo na cama. O calor dessa manhã me deixa exausta. Parece que eu não dormi bem. E tenho certeza que não.

Obrigado meu Deus por mais um ano de vida!
Penso, antes de resmungar. Enfim o meu aniversário chegou, e mais uma vez eu não vou comemorar com os meus pais. Eles estão mortos. E a minha irmã eu não sei se existe ainda. A única pessoa que poderia me parabenizar é a Rose, porém ela não está aqui.
Se o meu tio estivesse ele também alegrava o meu dia. Mas ele é muito ausente, trabalha em caminhões, fazendo entrega longe da cidade e pode demorar até um mês para retornar.

Pego o lençol e jogo bruscamente para o lado. No calor dormir com cobertores está fora dos meus planos, a única forma foi apelar pelo lençol, não gosto de dormir sem algo para me cobri.

— Parabéns!

Olho assustada de onde veio a voz melodiosa, e antes mesmo de encontrar os olhos de Thiago, puxo o lençol para o meu corpo novamente.

Graças à Deus eu não tenho costumes de dormir somente com peças íntimas.

Sento na cama esfregando os olhos e balbuciando.

— Como você soube? — questiono.

Ele sorri levantando da cadeira e senta na cama.

— Pedi a minha irmã Cléo, para olhar os seus documentos. — Responde coçando acima da sobrancelha direita.

— Somente para saber o dia do meu aniversário? — pergunto erguendo a sobrancelha.

— Sim! — abre um breve sorriso.

— E por que não perguntou para mim?

Ele levanta e alonga os braços.

— Queria fazer uma surpresa. — Diz balbuciando, quase não entendo.

Logo em seguida Thiago se retira para eu tomar banho e colocar uma roupa decente.

Ontem Cléo me convidou, para ir com ela hoje na casa da Mariana, fazer um trabalho de matemática. Achei bom, preciso sair e me distrair um pouco e também conhecer mais o povoado.

Os dias se passaram rápido demais e já faz mais de um mês que estou na casa de Thiago, quase dois. A cada dia me sinto mais confortável. Passar o aniversário em um lugar um pouco estranho, parece não ser muito bom, porém eu não tenho muitas escolhas. Não é como numa prova que tem as opções de A até o E. É apenas uma.

Quando chego na sala de jantar, sou recebida com um " parabéns à você ".
Fico paralisada, todos sabiam do meu aniversário, na verdade, foi Thiago que contou à eles. Nunca recebi carinho daquele jeito em toda minha vida. Eu sempre desejei, mas a minha tia nunca me abraçou no meu aniversário. Na verdade, que eu me lembre ela nunca me abraçou. E eu aqui pensando que seria ruim passar o aniversário na casa de Thiago.
Sinto lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas.

Quando eu iria imaginar que uma família que eu mal conheço me desejasse felicidades? Nunca!

Quando finalizam com o viva, Thiago vem até mim e me abraça. Ao invés de me sentir tranquila e parar de chorar eu choro mais ainda, estragando a bela camiseta preta dele.

— Não chore Alice. Hoje é um dia lindo. Você tem que ficar feliz. — Thiago diz desfazendo o abraço e limpando minhas lágrimas.

— Sorria! — Diz sorrindo, com os olhos marejados.

Forço um sorriso ainda chorando.

Depois vem a Cléo, Renato, Marta, Marcelo e as criadas me abraçam. Marcelo me abraçou meio sem jeito.

Sem Direção (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora