2 - IV

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Sentada segurando o rosto entre as mãos, deixo as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas e caírem sobre minhas pernas. Morar na casa de desconhecidos está me causando um imensurável sofrimento, não é pior do que os meus problemas passado, mas me faz lembrar das coisas ruins a quase todo momento.

Depois de alguns minutos Thiago aparece no quarto pedindo minha permissão para entrar. Ele vem até a cama e me abraça tentando me acalmar. No momento em que sinto seu toque calafrios percorrem por toda a extensão do meu corpo. Ainda me perguntava, porquê sempre que ele me toca eu sinto aquilo.

— O que houve, por que está chorando? Eu não vou deixar a minha irmã te atacar desse jeito! — diz sério. — Vamos para a sacada?

Ele pega na minha mão e me levanta. Thiago é tão diferente de sua família, mesmo não me conhecendo me ajuda nos momentos difíceis. Mas apesar de tudo eu não posso culpá-los. A minha reação não seria a mesma se eles estivessem na minha casa?

Thiago senta ao meu lado em outra cadeira e permanece calado por um tempo, talvez esperando eu me sentir melhor.

— Você está se sentido melhor? — pergunta me analisando.

Afirmo com cabeça.

— Você quer almoçar? Se quiser? Eu vou pegar.

Eu não entendo a sua preocupação comigo. Jamais imaginei que um dia teria alguém tanto tão preocupado assim com a minha vida.

— Por que você cuida tão bem de mim? Mesmo eu não fazendo parte da sua família? — indago desviando da sua pergunta.

Ele balança a cabeça em negativo, aquela pergunta parece boba para ele.

— Porque eu me sinto responsável! Eu te encontrei sozinha, sabia que você não conhecia ninguém. Só que eu não sei nada sobre você.

Olho para ele, para tentar entender o que ele quer dizer. Ele tem dúvidas sobre mim?

— Se você quer saber se eu sou de um grupo de bandido eu não… — Começo a falar mas sou interrompida.

— Não, que isso? Eu jamais duvidei de você! Eu queria saber, mais sobre você. O que você veio fazer aqui?

Olho para as árvores ao longe, ainda não me sinto preparada para contar. Levanto e olho para ele, analiso-o para saber se estava me questionando quanto a sua incredulidade.

— Prefiro não falar disso agora. Você me entende? A única coisa que posso dizer é que foi um desentendimento familiar e eu não gosto de lembrar.

Ele balança a cabeça em positivo. Fica de pé e aproxima de mim.

— Eu te entendo! Mas um dia você terá que me contar. — Faz uma pausa colocando as mãos no bolso. — Você quer almoçar? — nego. — Então vamos passeiar? Para espantar a tristeza. — Ele sorri e eu correspondo.

— Onde? — pergunto curiosa.

— Estava pensando em te levar em um riacho que tem aqui. Lá está bem fresco a essa hora. — Diz apontando para o fundo da casa.

— Só se for à cavalo. — Menciono sorrindo.

— Você sabe montar? — Ele franze a testa inclinando levemente a cabeça.

— Não, claro que não. Eu quero experimentar. Nunca andei à cavalo. — digo, já me sentido um pouco animada.

Ao ouvir minhas palavras Thiago abre um lindo sorriso.

Acompanho-o até a cozinha onde ele me serve um pouco de salada de frutas dizendo que não me quer ver com fome. O que me faz revirar os olhos ao ver ele saindo para selar o cavalo. Percebo que vou ter que aturar essa preocupação toda comigo.

Quando enfio a última colher da salada na boca. Ele reaparece:

— Vamos Alice?

Sigo-o para fora da casa. Ainda bem que não encontro ninguém da família dele. Parece que eles gostam de tirar uma soneca depois do almoço. Thiago me ajuda a montar no cavalo, depois sobe sentando se atrás de mim me segurando pela cintura. Fico desconfortável com tanta proximidade.

— Vai devagar. — digo, quando ele faz o animal galopar rápido — É a minha primeira vez! —Thiago gargalha alto.

Quando seu corpo balança junto ao meu pelos movimentos do galope sinto cada célula do meu corpo tomar vida.

Depois de alguns minutos, chegamos em pequena mata, já começo sentir o refresco vindo do riacho.

É um lugar desse que eu precisava para relaxar.

Depois de mais alguns passos ele desce do cavalo.

— Segura na sela. —  Diz, segurando a Rédea.

—  Para Thiago eu vou cair. Para! — Grito com muito medo.

Uma forte gargalhada irrompe por sua boca e ele se contorce, no início pensei que ele estava passando mal. Seu riso é tão contagiante que mesmo com toda minha vergonha eu também começo sorrir. Já recuperado da crise de risos ele me pega no colo e coloca no chão.

Nós dois sentamos perto do riacho em cima de uma pedra. Nunca fiquei diante de um riacho antes, a sensação é ótima o ar que eu respiro é diferente.

— É ótimo sentir esse ar não é? — pergunto olhando-o.

— Muito bom. — Responde, percebo que o seu olhar está diferente.

— Você é muito linda. — Ele toca o meu rosto.

Seu rosto está a centímetros dos meus, Thiago não desvia seu olhar. Seu hálito tem cheiro de hortelã o que me leva a olhar para seus lábios, fazendo-o morder seu lábio inferior. Meu coração acelera na expectativa do que virá em breve. Ele cola a ponta do nariz no meu, seus lábios carnudos me incendeiam quando entram em contato com os meus. Abro minha boca, correspondendo quando sua língua avança de um modo delicado. Um beijo suave, mas cheio de desejo.
Ainda posso sentir o sabor da salada de frutas que acabara de comer.
Uma de suas mãos desliza para minha nuca enquanto que a outra me mantem presa pela cintura. Me entrego segurando seus braços, pressionando meu corpo contra o dele. Percorro minhas mãos pela extensão de seus ombros largos. Seus beijos se tornam mais intensos, mordiscando meus lábios me fazendo puxar seus cabelos.
Nós esperávamos por esse momento.



Humm! Primeiro beijo dos desconhecidos.

Sem Direção (Concluido)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora