3 - IV

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Passa uma semana e Thiago nunca trocou palavras comigo. A sua irmã já percebeu que não estamos conversando e me questionou, mas eu disse que não sabia. A família toda já perceberam, só não comentaram.


Nós já almoçamos, estamos esperando a Mariana e o Fernando para mergulhar no riacho.
As vezes a chata da Laissa faz comentários bobos ao meu respeito. Bem típico dela.
O pai deles parece não gostar muito da minha presença. A mãe é um pouco legal, mas raramente conversa comigo.
Eu não estou sentido solitária nesta casa, por causa da Cléo. Ela está tornando uma amiga que eu nunca tive antes.

Quando os dois chegam, Fernando me cumprimenta com um beijo na bochecha.

— Você está linda! — ele me elogia.

Eu uso short jeans curto e uma regata azul clara.

— Obrigada. Você também está. — Respondo envergonhada.

Fernando veste uma blusa branca regata deixando os músculos visível e calça jogger preta.

Quando eu olho para os demais, Thiago nos fuzila com os olhos, ele desvia assim que me percebe olhando.

— Vamos pessoal? — Mariana chama.

A Laissa convidou a ruiva que conversava com ela no dia do jogo.
Assim que chegamos no riacho, as meninas tiram a roupa e ficam apenas de biquínis, e os meninos de sungas. Não faz calor e nem frio, mas eu não estou com vontade de entrar na água. Sento numa pedra e coloco os meus pés na água.
Depois de alguns minutos sentada e sorrindo da diversão deles, a Mari sente a minha falta.

— Alice, você não vai entrar na água? — Ela grita.

— Não. Estou bem. Não estou afim de entrar.

Laissa gargalha de algo que eu não sei, ou prefiro não dá importância.

— Nossa! Ela é de açúcar, vai derreter na água. — Ela sorri novamente.

Ninguém sorri, nem mesmo a amiga dela.
Cléo olha para ela com o olhar de reprovação.

— Eu não sou de açúcar. Apenas não quero entrar. Tem algo errado nisso? — questiono.

Todos param de brincar e me olha. Reviro os olhos, só é o que me faltava, agora sou o centro da atenção.

— Vem Lice? Vem divertir!

Cléo faz sinal com a mão me chamando para ir até eles.

— Gente, deixa ela. Se ela não está afim, não obriga a garota. — Thiago pronuncia olhando nos meus olhos.

Algo dentro de mim agita de felicidade, depois de uma semana é a primeira vez que ele fala algo me olhando.

Fernando começa a vir em minha direção. Se eu achei o corpo dele sexy no dia do jogo, hoje está mais. Com sunga e as gotas d'água escorrendo por sua barriga, nossa é de ficar sem ar. Todos aqui tem esse corpo divino?

Mordo o meu lábio observando-o sem desviar os olhos. Fernando chama a minha atenção balançando as mãos na frente do meu rosto.

— Eu sei, o meu corpo é sexy. Mas não precisa babar tanto assim. — Diz convencido.

Ele senta ao meu lado. Ao voltar o olhar para a diversão dos demais Thiago ainda me olha e bem sério.

Será que ele percebeu os meus olhos na barriga do Fernando?

— Por que você não quer entrar na água? O seu corpo é tão lindo. Tem belas curvas. Deveria mostrá-las. Não tenha vergonha.

Olho para ele, mas não disse nada. Eu conheço o meu corpo e sei que tenho curvas, porém não estou a fim de divertir. Eu também nem sei nadar.

— Você me perdoa Alice? — diz de repente.

Volto minha atenção para ele sem entender.

— Pelo o quê?

Fernando sorri de canto.

— Por isso! — me pega no colo e leva em direção ao pessoal.

Tento sair do seus braços, mas é em vão. Dou tapas em seu peitoral, mas não acontece nada. O que ele faz é sorrir das minhai tentativas falhas.

— Me solta Fernando! Me solta! — grito.

As meninas sorriem e Renato grita:

— É isso aí Fernando! Joga ela na água!

Eles comemoram o meu constrangimento.
Lembro que posso me livrar dele arranhando a sua pele. Sem pensar duas vezes começo a passar as unhas em seu peito.
Ele grita e me solta dentro da água. Só depois eu percebo que eu arranhei ele muito tarde. Já estamos no local certo.

— Você está louca Alice? Aí, nossa! Parece gata, com essas unhas afiadas.

Sorrio.

— Você me provocou.

Ele sorri. Passa água onde saia sangue e vem em minha direção e segura os meus braços.

— Agora você vai me pagar. E sabe com quê? — questiona. — Com um beijo!

— Oh! — as meninas batem palmas eufóricas.

— Sai, sai! — Peço.

Tento soltar, mas ele tem muita força. Dou um chute nele quando ele aproxima de mim. Tem muita água, ao invés da minha perna ir em direção dele, assim que ela sai do chão a outra não consegue me sustentar. Eu caio dentro da água e Fernando quase cai também. Ele me solta para não cair. Entra água no meu nariz, e no mesmo instante Fernando me puxa para fora. Tosso para recuperar da água que entrou pelas minhas narinas.

— Você está louca! Você sabe que não pode fazer isso na água! — Ele fala assim que eu me recupero.

— Louco é você! Eu nunca entrei em um rio antes. — Digo ainda sentindo um incômodo.

Ele pisca algumas vezes. Laissa solta uma risada estranha.

— Ai que ridículo! É a primeira vez que vê um rio! Que hilário! — debocha.

Fecho a cara para ela.

— Eu não disse que não vi. Eu disse que nunca entrei. — Disparo.

— Dá no mesmo. — ela dá de ombros.

Fecho a cara novamente.

— Eu não tenho medo de cara feia! — ela completa me dando um empurrão, se Fernando não me segurasse eu cairia dentro da água mais uma vez.

— O que é isso Laissa! — Cléo grita.

Não revido, pois ela volta a nadar.

— Pessoal vamos voltar a nadar. — Renato chama a atenção de todos.

Eles voltam a nadar.

— Desculpa ter te molhado. Você quer que eu te ensine nadar? — Fernando me pergunta depois que todos voltam a nadar.

— Não. Não precisa. Eu vou sair da água.

Ele franze a testa e não diz nenhuma palavra.

Ando para fora da água, sentando na mesma pedra e assisto eles. Eu não devia ter aceitado o convite. Prefiro estar na sacada neste momento. Sinto meus olhos cheio de lágrimas. Estou me sentido fraca por não ter socado a cara da Laissa. Agora é tarde para pensar nisso.

Depois de alguns minutos Laissa começa a discutir com irmã por minha causa.

— Para mim ela não deveria estar aqui. Ela é uma desconhecida. Não sei o que ela faz aqui. — Ela dispara essas palavras olhando para Cléo e em seguida me olhando feio.

Levanto da pedra, pego a minha toalha colocando sobre os meus ombros e saio. Não quero ficar dando ouvidos para ela, sem fazer nada. Não quero me sentir pior do já sinto.


Tadinha da Alice, sempre sofrendo com as atitudes da Laissa.
Mas ela sabia que não seria fácil, com pessoas que ela não conhece.

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Sem Direção (Concluido)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant