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Me jogo na cama e começo a chorar. Derramo em lágrimas, molhando o travesseiro todo. Me sinto péssima, por não ter um lugar para onde ir. Algumas lembranças ruins vem a minha mente a todo custo. Tento afastá-las, mas está muito difícil.
Minha cabeça doí tanto. Parece que a qualquer momento vai explodir. Não sei por quantas horas fico chorando.
Quando as meninas chegam do colégio ainda não tinha pregado os olhos. Por um momento pensei que não dormiria essa noite.

Acordo sentido dor de cabeça. Continuo deitada. Reflito sobre o ocorrido de ontem.

Será que ele ficou com raiva?

Eu não deveria ter feito aquilo, mas não foi por meu querer, agi por impulso. Agora não tenho coragem de encará-lo.

Levanto e vou até a sacada, para espantar a dor de cabeça. Fico por uns dez minutos, ao me sentir melhor volto para o quarto.
Me sinto bem cansada. O dia de ontem foi muito bom, já à noite não posso dizer a mesma coisa.

Vou para a sala de jantar contra a minha vontade. ninguém me obrigou. Mas também não posso ficar presa no quarto, alguem pode desconfiar de algo e isso não é bom.
Todos estavam na mesa, exceto o pai. Thiago e as meninas levantaram cedo hoje, já que eles chegaram tarde da noite.

— Olá. — Digo sentando na mesa sem olhar para Thiago.

Todos respondem, menos Laissa. Não entendo porque essa garota tem tanta raiva de mim. Não fiz nada para deixá-la com esse ódio todo.
Sento e cmeço a comer em silêncio.

— Alice? — Marta me chama.

Fico surpresa, ela nunca agira dessa forma. Ao mesmo tempo tenho receio. E se eu fiz algo que não a agradou?

— Thiago estava me falando que você queria fazer alguma coisa, trabalhar. Como você sabe, aqui não tem trabalho como na cidade. Amanhã Thiago vai até a cidade fazer compras, você poderia ir, para distrair um pouco. O que você acha? — pergunta, eu olho para Thiago.

Quero saber a resposta dele. Se ele estiver com raiva não me querer que eu o acompanho. Eu não quero correr o risco de ser envergonhada na frente da família dele.
Ele me olha, dá de ombros e leva uma garfada à boca. Volto a atenção para Marta, ela me olha esperando a resposta.

— Pode ser. — Respondo sem jeito. — Ah, Dona Marta, eu quero saber, já que não tem trabalho, eu quero saber se posso ajudar as criadas.

— Não precisa me chamar de dona, somente Marta, por favor. Mas eu não sei porquê você...

— Eu gosto, eu quero ajudar. Eu preciso fazer alguma coisa. Irei me sentir melhor.

Marta não gostou de ser interrompida, ela repreende a minha atitude com um olhar sério.

— Ta bom, se você quer tanto. Por mim tudo bem.

Continuo a comer em silêncio.
Sou a última a finalizar o café seguindo direto para o quarto. Abro a cortina e a janela. Sinto o ar refrescante invadir o quarto. Não quero ir para a sacada, pois a Laissa pode estar ou ir lá e poderá me insultar. Não estou afim de começar uma briga logo de manhã.
Sento em uma cadeira próximo da janela e começo a ler o livro.
Os únicos quartos com janela que não dão para sacada, são os quartos das laterais, segundo Thiago. O quarto dele, do irmão, dos pais e o de hóspedes que é onde eu durmo, são os únicos com janelas que a sacada não cerca. Os outros tem uma janela, mas com a sacada na frente.

Quando Thiago leva as meninas para o ponto de ônibus, decido sair do cômodo e andar pelo quintal da casa, passando longe da casinha dos cães. Eles podem andar até seis metros da morada e eu não quero ser atacada.

Passo pela porta do fundo observando o local.
No curral alguns homens prendem bezerros, outros colocam rações do lado de fora, em cocheiras.
Caminho por um pequeno pasto até onde eles estão. Onde eu passo só tem cavalos. Os cavalos são bonitos, altos e musculosos.
Dois homens vem em minha direção. Paro de andar. Um é jovem e outro aparenta ter uns quarenta. Eles ficam me olhando, enquanto caminham.

— Olá! — falo.

— Olá! — Eles respondem.

— O que você está fazendo aqui? — o mais velho pergunta.

Eles parecem, talvez seja pai e filho. Acho que já vi o mais jovem jogando bola, no dia em que assisti.

Antes de abrir a boca para responder, um homem de voz rouca que coloca ração, grita:

— Menina, o que você faz aqui? Volte para lá. Aqui não é lugar de mulher!

Fico pasma com o que ele acaba de dizer. Será que ele vive nas décadas passadas ainda?
Com certeza sim, para dizer que o lugar de mulher é ficar dentro de casa.

— Quem é você para dizer onde é o lugar de mulher? Lugar de mulher é onde ela quiser! — grito para ele escutar muito bem.

Ouço algumas vaias e risadas. Ele me olha com a cara fechada e volta a fazer os afazeres. Passo pelo arame e vou ate a beira do curral, onde dois homens conversam.

— Olá! — cumprimento e eles respondem. — Vocês prendem os bezerros para tirar leite da mãe deles? — pergunto atiçando minha curiosidade incontrolável.

— Sim. —  eles respondem e começam sorrir.

— O que foi? — cruzo os braços.

— Nada. — Um deles responde.

— Alice!? O que você faz aqui?

Ouço a voz de Thiago. Ele se encontra do outro lado da cerca.

— Me sentia entediada dentro da casa, resolvir andar um pouco, só isso. — Dou de ombros.

— Ah! Vamos? — ele gesticula com a mão.

— Tchau! Bom descanso para vocês. — Digo assim que começo a andar ao lado de Thiago.


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Sem Direção (Concluido)Where stories live. Discover now