1 - III

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Depois de alguns minutos sentada no sofá, e Thiago demorando uma eternidade, tive curiosidade de ver suas coisas.
Levanto e mancando caminho até uma bancada com as suas coisas. Vejo perfumes, cremes de pele e cabelo.

Assusto quando Thiago entra no quarto.

— Já está melhor né? Está curiando as minhas coisas. — Ele fala e solta uma gargalhada. Eu acompanho sorrindo baixo.

— Desculpa. Eu e minha curiosidade.

Ele não diz nada, apenas cuida da minha ferida com o kit de primeiro socorros.

— O seu quarto já está preparado. Vou mostrá-lo. — Comenta terminando de colocar as ataduras.

— Os seus pais não falaram nada?
Questiono.

Na verdade, quero saber como seu pai reagiu, sei bem que ele foi contra a minha hospedagem aqui.

— Eu disse que serei responsável, se acontecer alguma coisa.

Acontecer alguma coisa? Ele também pensa que sou uma bandida.

— Você sabe que eu não irei fazer nada, certo? — Falo, esperando que ele confie em mim.

O meu coração acelera imaginando dúvidas da sua parte.

— Eu sei. — Ele diz passando a mão na nuca.

Não sei se é paranóia minha, ou realmente aquele eu sei, saiu um pouco duvidoso. Tudo bem, ele não pode apostar todas as fichas em mim, ele não me conhece e eu também não confio totalmente nele.

— Você vai precisar tomar banho. E como você não tem roupas, posso emprestar uma blusa para você dormir.

Emprestar sua blusa? Ele disse isso mesmo.

— Tá bom. As minhas roupas estão na mata. Quando eu vi aquela cobra gigante, soltei minhas malas e... Elas ficaram lá. — Digo lembrando do momento em que vi a cobra.

O meu corpo arrepia. Espero nunca mais ter que vê uma novamente.

— Vamos pegá-las amanhã. É próximo de lá? De onde você estava? — pergunta apontando para a direção onde me encontrou.

Fico bastante surpresa, ele está mesmo disposto a me abrigar na casa dos pais.

— Está sim. Eu não andei para longe não. As minhas pernas falharam, eu não consegui correr. — Eu sou uma pessoa desastrada, completo somente para mim.

Thiago começa a rir. Não entendo o motivo do riso, talvez ele leu meus pensamentos. Oh, isso não existe.

— O que foi? — coloco as mãos na cintura e ergo uma sobrancelha.

— Nada não.

Diz e entra em uma porta a qual penso ser o closet, pois ele sai com uma blusa preta na mão depois de alguns segundos.

No percurso do seu quarto até o de hóspedes encontramos o seu irmão.

— Uai, Thiago. Nem apresenta a menina. — Fala me analisando da cabeça aos pés.

Thiago faz uma careta para ele depois olha para mim.

— Alice esse é meu irmão Renato.

Humm. O irmão dele também não fica para trás na beleza.

— Oi. Prazer. — Dou um sorriso para ser simpática.

Estico a mão para pegar a dele. Ao invés dele apertá-la, ele leva a minha mão até a boca e beija o dorso.

— Muito prazer. — Responde sorrindo, mostrando covinhas nas bochechas.

Thiago me leva até o quarto e indica onde fica o banheiro.

— Ei? — ele para na porta e vira-se para mim. — Posso te fazer uma pergunta? — pergunto esperando um sim.

— Claro. — Coloca as mãos no bolso da calça e deu um belo sorriso.

— O que você fazia lá na mata? Como você me encontrou? — estalo meus dedos, percebendo que estou sendo curiosa demais.

— Você disse uma pergunta e fez duas. _ Ele me lembra abrindo mais o sorriso.

Ai é verdade, duas perguntas. Já foi não posso fazer mais nada.

— Mas tudo bem. Eu simplesmente resolvi entrar na mata. Não sei muito bem por quê. Os gados da minha família não estão naquele pasto, e eu quis olhar assim mesmo, estamos querendo colocá-los lá no mês que vem. Daí eu consegui escutar o seu grito e quando eu cheguei lá eu te vi caída e a cobra aproximando, então sem pensar duas vezes a matei.

Fico calada assimilando a sua resposta. O que ele fala faz sentido e que bom que chegou à tempo.

— Respondi as perguntas? — pergunta me tirando dos pensamentos.

— Ah, sim. Com certeza. — Deixei escapar um sorriso tímido. — Mas, e a atadura?

— É verdade. Vou deixar algumas aqui, sobre a cama. — Disse retirando e colocando em cima da cama.

Não preciso de muitas ataduras pois ele só tinha usado uma na minha perna, mas foi ótimo deixar três, assim eu não preciso importuná-lo nos dias seguintes.

Fazia muito frio. Inverno. A água do chuveiro estava morna. Os pensamentos negativos fugiram durante os vinte minutos de banho eu me senti bem mais relaxada. Diferente do quarto o banheiro é composto por cerâmica branca.

Alguém bate na porta do quarto.

— Posso entrar? — Thiago pergunta.

— Sim. — Se eu dissesse não, ele não entraria?

Ele veste uma bermuda jeans e uma camiseta preta com uma blusa de frio aberta por cima.

— Você quer jantar?

— Estou sem fome. Só quero dormir, estou com sono.

Finjo bocejar na última palavra, para ele retirar do quarto.
Ele assente um pouco triste e sai.
Com certeza os pais dele não vão me tratar bem, como ele me trata. Não estou pronta para ouvir aquelas palavras do pai dele novamente.

Deito na cama. É bem confortável e grande. Maior do que a minha.
O frio mais tarde aumenta. Coloco a minha cabeça dentro do cobertor para me aquecer melhor.
Durmo tranquila que até sonho. Esse sonho tem me perseguido muito.

Estava dentro do avião, embarcando para Paris. A minha irmã estava ao meu lado. Segurou em minha mão e disse firme:

— Vou te mostrar uma coisa lá em Paris.

Fiquei anciosa quando cheguei na sua casa.
A minha irmã me levou até o apartamento, muito lindo por sinal. Cheirava à riqueza.
Abriu o seu quarto enorme e me mostrou uma grande mala. Ela destrancou, e ali havia muitas e muitas notas de 100 reais.

— Nossa, são todas sua?

— São nossa querida.

Acordo tão pensativa. O que significa esse sonho mesmo? Pergunto a mim mesma. A ultima vez sonhei com a minha prima, nós encontramos dinheiro em sacolas.
Espero que a minha irmã esteja viva. Sinto muitas saudades dela, mesmo não lembrando.

Amanhã será um dia duro, não sei se vou conseguir suportar. Enfrentar os pais do Thiago me enchendo de perguntas não será fácil.
Viro para o outro lado e volto a dormir.

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