20 - II

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Enquanto batemos papo aleatório, exceto Fernando, que parece incomodado com a nossa conversa, a caminhonete de Marcelo é estacionada à frente da casa da Maria. Nesse momento a Mariana também aparece com short jeans azul e cropped folgado de alça fina na cor laranja. Seu cabelo agora está preso num rabo de cavalo e os pés continuam com a sandália rasteira. Mari está um arraso, e isso só por causa de sua paixão que vem em direção a porta.

— Boa tarde — cumprimenta batendo a bota na calçada.

Logo após fazer os cumprimentos com a dona da residência e com Nando, ele dá um beijo na bochecha de Mariana, então percebo a mesma ficar levemente ruborizada com o comentário:

— Hum, está muito cheirosa!

Estou sentada ao lado da Mari no sofá de dois lugares e para não continuar segurando vela do casal ao lado, levanto dizendo:

— Rê, pode sentar aqui, vou ficar no outro.

Minha amiga lança um olhar como se fosse me fuzilar e eu apenas sorrio discretamente com uma piscadela. Sento ao lado de Fernando. Não é confortável, mas é o único. A Cléo está do outro lado próxima de Maria que senta numa cadeira de madeira. Poucos minutos ele se levanta e caminha para fora, parando na varanda.

— Mãe, estou saindo e de lá mesmo já pego o pai! — grita antes de ligar o motor da motocicleta.

Olho de relance para os dois do outro lado e vejo a Mari sorri timidamente de algo que o Renato disse. O meu coração se agita de alegria vendo que estão se entendendo, eles formariam um lindo casal, sem dúvidas.

— É mesmo Maria, podemos ver sua horta? Alice gostaria de ver — Cleonice diz chamando minha atenção.

Fico confusa, pois eu nem sei que ela planta horta, como eu poderia querer vê-la? Ao notar minha confusão, Cléo aponta com o olhar para Rê e Mariana. Aí me dou conta do que ela quer e abro o sorriso.

— É verdade, a senhora pode nos acompanhar? — indago ficando de pé.

— Claro, vamos lá! — chama passando pela cozinha e saindo pela porta do fundo.

Eu já tinha vindo aqui, no pé de manga na verdade, mas nunca vi a horta por ela ficar do lado e não exatamente no fundo.

— Uau! Tem de tudo aqui? — questiono entrando no cercado de tela.

— Que nada! Somente cebola, alho, coentro, alface e couve — explica apontando para cada terreno separado com os alimentos.

As plantas estão todas verdes e muito bonita. Acabo não resistindo e pego uma folha de alface, ela é um dos meus legumes preferidos. E a Cléo seguindo o meu gesto faz o mesmo.

— E esses aqui? — aponto para os pés de plantas diferentes.

Dois deles estão num suporte de galho seco e o outro tem a folha verde escuro.

— Ah, eu tinha esquecido. Esses são pés de tomate — mostra o que estão com suporte. — E esse é pimentão.

— Pimentão é bom para temperar a comida, eu não gosto de comê-lo — digo analisando.

Só olhando de perto, percebi que tem pequenos pimentões ainda verde se misturando com as folhas.

— Oh, ele é bom garota! — Maria fala tirando uma folha murcha da alface.

— Eu não gosto de nenhum jeito, pimentão tô fora! — Cléo faz careta.

— Vocês duas — Maria balança a cabeça indignada com nossos gostos.

Continuamos olhando o ambiente procurando alguma coisa para comentar a respeito, queríamos ganhar tempo aqui, enquanto os dois tinham uma conversa séria a sós. Ainda bem que a anfitriã não está incomodada com a nossa conversa. Ela está se divertindo, nos chamando de boba por não gostar de tal alimento, já que decidimos falar o que amamos e não gostamos.

Eu mesmo falei que amo carne vermelha e não abandono por nada nesse mundo, espero nunca ser receitada pelo o médico a retirá-la do meu cardápio. A Maria ama frutas e verduras, em especial o tomate, o abacaxi, a batata e a cenoura. E Cléo ama chocolate, qualquer comida que contém chocolate é com ela mesmo.

Quando retornamos para a casa, peço silêncio a elas, não quero atrapalhar o casal que deixamos na sala. A verdade é que eu espero encontrá-los bem próximos. A mãe da Mari que não é boba já tinha sacado a nossa, assim que decidimos visitar sua horta.

Ando na frente e sou a primeira a chegar na cozinha percebendo um silêncio absurdo.
Mas era para eles estarem conversando. Será que não deu certo?

Esperava encontrar Renato sozinho ou a Mari, já que não conversavam, mas eu tenho uma grande surpresa. Quase grito de felicidade ao vê-los beijando.
Ah, então eu prefiro o silêncio do que eles batendo papo.

— Esperem! — cochicho para as duas que chegam na porta.

— O que ouve Lice? — Cléo pergunta da mesma forma.

É visível a confusão e ansiedade em seu olhar, por eu estar sorrindo.

— Vejam com seus próprios olhos — dou espaço para elas passarem.

A Maria anda meio desconfiada atrás da minha amiga. Também aproximo da porta divisória, sem ter a mesma visão delas.

— Aaah! — a Cleonice solta um grito baixinho, no mesmo instante coloco a mão em sua boca e puxo para o lado.

— Não Cléo, vai atrapalhar os pombinhos! — reclamo.

— Gente, é sério? Não estou sonhando?

Ela está desacreditada assim como eu. Quem iria imaginar que os dois estariam se beijando logo no primeiro dia de conversa? Eles são bem rápido em resolver a situação.

— É real, pode acreditar.

— Olha, eu não sei não, mas esse garoto é muito mulherengo. Ele é seu irmão Cleonice, mas a fama dele não é boa no povoado — Maria interfere falando baixinho também.

Olho para Cléo tentando procurar as palavras certa para falar, a Maria tem razão do que fala e eu sou prova disso. Renato pode machucar a Mari e também pode concertar de vez e viver com apenas uma mulher.

— Nós sabemos. Mas talvez, quem sabe não é o momento para Rê tomar capricho e pensar melhor em seu futuro e aprender a ter uma namorada — Cléo fala antes de mim.

Balanço a cabeça concordando com minha cunhada e quando eu iria dar o meu argumento a respeito, uma voz me interrompe:

— Não precisa ficarem se escondendo, pode vir — Mariana aparece com suas bochechas avermelhadas.

— Não queríamos atrapalhar — falo sorrindo.

Mesmo ela não estando com sorriso nos lábios, eu sei que está bastante feliz, seus olhos estão com um brilho nunca visto antes.

Estou contente pelo Rê e Mari. Espero que o relacionamento dê certo. Ah, eu sinto muito ter que dizer, infelizmente estamos chegando ao fim. Estou muito triste eu me diverti tanto com essa história.

Sem Direção (Concluido)Where stories live. Discover now