4 - II

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Acordo com a claridade do sol batendo na janela, esqueci de fechar a cortina ontem. Pulo da cama pegando o relógio para verificar às horas. Arregalo os olhos assustada ao ver que falta quinze para às nove. Dormi muito. Ou não. Quando Thiago saiu do quarto eu demorei dormir ontem. Chorei bastante pensando no sofrimento que passei com minha tia e a minha prima.
Os meus pais morreram em um acidente de carro e até hoje eu sinto a falta deles, mesmo não lembrando de suas feições, pois eu tinha apenas 4 anos.

O café da manhã fora posto sobre a mesinha. Demorei tanto acordar, que elas até trouxeram para o quarto.

Depois de tomar o café, descido andar um pouco pelo quintal da casa, sentando no banco na frente da casa. O sol está quente, mas me aquece com o friozinho que faz. Na lateral da casa pude ver quatro carros na garagem: a Hilux 4x4 do Thiago, um Fiat 500, uma Frontier e um Ford Ranger. Eu ainda não sabia quem é o dono de cada um, exceto o de Thiago.

— É imprecionante, como uma pessoa folgada acha que está na sua casa. Come onde quer e anda por onde quer. — Laissa surge ao meu lado.

Estava me sentindo bem até ela aparecer. A conversa com Thiago começa vir a minha mente, sinto os meus olhos encherem de lágrimas, respiro fundo e impeço elas de descerem.

— Eu não sou folgada Laissa. Só não quero ficar presa dentro do quarto. — Digo sem dirigir o olhar à ela.

Uma breve gargalhada sai de sua boca.

— Mas não precisa ficar no quarto, é só voltar para onde você veio. — Diz dando meia volta e entra dentro da casa.

Alguns minutos depois também entro indo direto para o quarto, o sol estava queimando a minha pele.
Fico na sacada observando a bela paisagem. Nunca me canso de olhar a natureza. Ela é tão linda e tem pessoas que a destroem. Mesmo as folhas secas nos galhos ela continua bela.
Thiago chega e fica ao meu lado, olhando na mesma direção. Dessa vez eu não assusto.

— Oi. Você durmiu tanto hoje. Nem tive oportunidade de te dar um bom dia. — Diz sorrindo.

Continuo em silêncio.
Ele pega na minha mão, o meu corpo arrepia no instante em que sua mão me toca.
Thiago me afasta da beira da sacada e me aproxima do quarto de hóspedes.

— Você é muito linda. — Diz acariciando o meu rosto com a outra mão.

Fecho os olhos sentindo o toque suave de sua mão calosa na minha bochecha. Ele aproxima o corpo colando nossos narizes e um selinho é seguido por um beijo calmo. Coloco uma mão em sua nuca e a outra no cabelo macio. Thiago segura em minha cintura e puxa meu corpo contra o seu, fazendo o beijo intensificar um pouco mais e a sua língua aumenta o ritmo da exploração. Movimento a minha com a mesma velocidade sentindo o seu bom gosto.
Cortamos o beijo quando escutamos batidas de palmas.
Nossas respirações estam aceleradas.

Fico vermelha de vergonha ao ver Cléo parada próximo de nós, com um sorriso no rosto.

— Desculpa atrapalhar vocês. Eu não sabia que Ti estava aqui. Vocês deviam ter mais privacidade. Por que não foram para o quarto? — ela pergunta quando nos afastamos.

Com as palavras dela eu fico roxa de vergonha.

— Para Cléo. Está fazendo Alice envergonhar. — Thiago repreende a irmã.

Ela me olha e fica surpresa ao ver minha situação.

— Desculpa Lice. — Diz dando um breve sorriso torto.

— Lice!? Já está íntima assim? — ele questiona com o cenho franzido.

Cléo apenas sorri.

— Eu vim para conversar com Alice, será que posso? — pergunta olhando diretamente para o irmão.

Thiago me olha, sorri e depois dá um beijo na minha bochecha antes de sair.

— Não tenha vergonha Lice. — Dá uma pausa e continua: — Se vocês começar a namorar vai ver como o meu irmão é um fofo. Ele é muito carinhoso! — ela diz com muito orgulho de ter um irmão como ele.

Se eu tivesse um irmão como ele também ficaria orgulhosa.
Eu não iria perguntar sobre a vida de Thiago, mas como ela começou a falar, vi uma oportunidade de conhecer um pouco mais dele.

— Ele já teve alguma namorada?

Faço uma pergunta boba e me arrependo no instante. Um homem com 22 anos, é claro, que já teve namorada.

Ela sorri de canto e senta numa cadeira, faço o mesmo sentando ao seu lado.

— Namorada mesmo. Ele já teve duas. Uma quando estudava na sétima serie. E outra é da cidade. Essa última traiu ele.

Abro a boca em um O. Uma mulher trair ele, só pode estar brincando. Será que ela não gostava dele?

— E a primeira é daqui? Do povoado?

Ela acena positivo com a cabeça.

— Bom, eu vim aqui para conversar sobre outra coisa. E o meu irmão me contou sobre o seu passado, eu sinto muito.

Fico triste. Ele me prometeu não contar para ninguém, e contou para Cléo. Não pode confiar em homem mesmo. Balanço a cabeça reprovando a atitude dele.

— Calma! Eu não vou contar para ninguém. Ele me pediu isso. Ti confia em mim, e ele sabe que nós somos amigas.

Continuo em silêncio.

— Eu não quero falar sobre o seu passado Alice. Eu quero conhecer você. Mas não sobre o seu sofrimento quero saber das coisas boas.

Suspiro aliviada e alegro.

— Sobre o quê? — pergunto curiosa.

— Se você já namorou? Quando e como foi o seu primeiro beijo?

— Com o seu irmão. — Falo fazendo ela arregalar os olhos.

— Brincadeira! Meu primeiro beijo foi com quatorze. — Respondo sorrindo.

Cleo franze levemente o cenho.

— Nossa! Tarde hein!

— Pois é, também acho. A minha tia nunca me deixou ir em festas antes dos quinze. O meu primeiro beijo foi no colégio. E me conta o seu. Como foi? O meu não foi bom e nem péssimo. — Suspiro lembrando de como fiquei nervosa.

— O meu foi bom. Com onze anos, com um garoto que morava aqui. E eu namoro um garoto da cidade. Ele é um amor.

Seus olhos brilham enquanto fala do namorado.

Humm. Será que os meus vão brilhar desse modo, ao falar do meu namorado?

Depois do almoço nós continuamos a conversar. Sorimos bastante contando nossas histórias. As verganhas que já passamos ou as mentiras quando aprontava algo, claro que essa parte foi a Cléo que contou, pois eu não me lembro de mentir coisas assim. Até porque se minha tia descobrisse o castigo seria maior.
Nesse momento eu pude sentir paz e tranquilidade. Me permitir soltar boas gargalhadas, fazia tempo que não sorria daquela maneira.

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Sem Direção (Concluido)Where stories live. Discover now