17 - III

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Tento concentrar no livro que peguei na biblioteca, mas está sendo impossível. A minha mente está em Mariana. Penso em como ela se sente hoje, em relação a minha descoberta de ontem. Espero que esteja bem. Não me orgulho por ter olhado suas coisas e fico ao mesmo tempo sem entender. Não parece que ela gosta dele, Mari sabe disfarçar muito bem. Hoje Cléo retornou a casa dela, para terminar o trabalho, mas sem eu dessa vez.

Jogo o livro para o lado na cama e deito olhando para o teto, frustada por não consegui lê-lo. Tento pensar em outra coisa. Como será amanhã na casa dos meus pais? O que mais tem escrito naquele diário? Estou curiosa para descobri. Tem uma coisa que não encaixa na minha memória. Por que tia Isadora não gosta de mim, se ela era amiga da minha mãe?

Duas batidas na porta do quarto me tira dos pensamentos. Quem será? Algumas das criadas? Ou Thiago? Thi não, ele saiu após o almoço com o pai, para chegar a um acordo na compra de bezerros.

— Entra! — grito me virando para a porta.

Nem fecho a boca e Rose aparece com a cara de choro. Levanto rapidamente e caminho até ela.

— O que aconteceu? Por que está chorando? Isadora fez algo? — pergunto preocupada e a abraço.

Dificilmente vejo a Roseane daquele jeito. A última vez, foi quando descobriu a traição do ex namorado. Não é o caso de hoje, pois ela não namora. Com certeza foi a minha tia, ela não tem limites.

— Não fez — Rose começa a chorar novamente. — Ela nem está ligando para a morte do papai, vai completar duas semanas amanhã e ela já está querendo a herança. Você acredita?

Afasto dela e a encaro. Seus olhos estão vermelhos e semblante triste. Eu a compreendo totalmente, estou sofrendo muito também. Seco suas lágrimas com as mãos e arrasto-a para sentar na cama.

— É, eu acredito sim — falo ainda segurando em seu braço.

— Mãe disse que amanhã mesmo, irá no cartório ver o testamento — diz balançando a cabeça com os olhos cheios de água.

Acaricio sua mão, para deixá-la mais confortável.

— Eu não entendo, parece que ela não ama ou amava o pai. Só foi ele partir, sem pensar duas, a minha mãe deseja a herança. Fátima também está contra a atitude dela, pedimos para esperar ao menos um mês, porém ela não dá ouvidos a nós — Rose tira a mão que eu segurava e limpa o rosto com o dorso.

— Eu sinto muito. Sinto mesmo por não poder fazer nada — digo levantando e a abraço.

Ficamos por um tempo assim, até perceber que ela está mais calma.

— Eu tenho novidades — volto a sentar ao seu lado.

— Estou ouvindo — apesar de seu olhar está triste, sua voz está natural.

— Eu e Lana entramos na casa dos nossos pais, encontramos muitas coisas interessantes lá — sorrio ao lembrar das minhas coisas quando pequena — Amanhã retornaremos, se você quiser ir.

— Ah não vai dá. Amanhã tenho que trabalhar na frutaria. Sabe como é a mamãe, ela nos deu alguns dias de folga, mas continuou trabalhando — ela solta um suspiro frustrada.

— Sei, se tem uma coisa que tenho orgulho dela, é que é muito trabalhadora — respondo com sinceridade.

— Ela é ambiciosa, isso sim — afirma passando a mão no rabo de cavalo e puxa para frente.

— Então, mas você pode dormir hoje aqui, amanhã eu Thiago vamos sair cedo — mudo de assunto.

A casa nem é minha e estou convidando uma pessoa, antes mesmo de falar com a dona.

Sem Direção (Concluido)Where stories live. Discover now