PRÓLOGO

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Não consigo mais suportar esse lugar escuro, cheirando a enxofre, sem ar puro. Respiro com dificuldade. Até quando meu algoz me deixará aqui? Eu não sei, estou perdida. Estou suja, exausta e com medo. Na verdade, medo é muito pouco.

Estou apavorada.

Sinto dentro de mim que não tenho mais tempo. Quando ele me trancou aqui era gentil, ainda me tratava bem, parecia querer cuidar de mim. Achei que a prisão era algo passageiro. Uma proteção excessiva. Com o passar do tempo, aliás, nem sei há quanto tempo estou aqui, nem ao certo se é dia ou noite, percebi uma mudança no seu comportamento. Agressivo, irritado, quase um louco.

Eu não sei o que ele tem.

Quando ele entra nesse lugar onde me trancou, e quando não são os momentos que passaram a ser habituais para mim, fecho os olhos fingindo dormir para enganar minha mente. Tento me blindar e não o deixar entrar nos meus pensamentos. Até agora ele não me violou inteiramente, mas sinto que esse é o seu desejo, que esse dia está chegando a cada investida sua. Nos primeiros dias, foram somente beijos e abraços apertados, como quando nós começamos a nos conhecer. Ele ficava conversando comigo, contando sobre o seu dia como se fôssemos bons amigos.

Eu acreditei que éramos amigos.

Depois ele começou a exigir que eu ficasse somente com a lingerie que ele dizia ter comprado para mim, mas sem tocar a minha pele. Apenas para apreciar, olhava com os olhos vidrados, como se estivesse vendo além de mim. Nunca dizia nada, somente observava com os olhos vazios. Nos últimos dias, ele tocava meus seios com suas mãos e roçava os dedos em mim, além de me obrigar a masturbá-lo. Assim que ele saía e trancava a porta, arrumava forças e corria para o banheiro, abria o chuveiro de onde caía somente água fria e me esfregava com força para ver se assim conseguia apagar suas marcas em meu corpo.

Estou ficando fraca.

Será que alguém vai me encontrar, antes desse bandido acabar com a minha vida?

Meus pais não fazem ideia que estou trancafiada aqui. Ele me fez escrever uma mensagem avisando que iria viajar por um tempo para procurar emprego em outra cidade. Moro sozinha e não tenho amigos tão próximos. Conheço todos da comunidade, por lecionar como substituta na escola municipal e trabalhar no projeto juvenil de uma ONG da cidade, mas ninguém tão íntimo para sentir a minha ausência ou para questionar minha viagem repentina.

Enquanto divago, escuto a chave girar na porta de aço. Ele nunca aparece duas vezes seguidas. Temo pelo pior. Continuo sentada na cama onde estou.

— Olá, querida. — Sorri diabolicamente, está possuído. — Estranhando minha presença? Quero que vista esta roupa que comprei especialmente para você. — Ele abre a roupa e olha para ela fascinado. — Olha que linda, toda branquinha. Será nossa noite de núpcias, você agora será minha. Só minha. — Caminha em minha direção com um olhar parado e um sorriso maquiavélico no rosto.

Minhas pernas enrijecem. Ele começa puxando minhas roupas com violência, deixando-me nua. Minhas lágrimas escorrem no rosto feito cascata, mas são ignoradas.

Não tenho mais forças para reagir.

Ele passa uma camisola branca e curta pela minha cabeça, coloca-me em pé e me gira como se fosse um prêmio.

— Linda. — Ele me olha com os olhos saltados, parecendo um louco, cego de qualquer sentimento. Nunca o vi assim.

Fecho os olhos, chegou a hora. Não adiantará me debater, isso só pioraria a situação. Ele bate no meu rosto, porque não consigo controlar as lágrimas, arranca suas roupas e nesse instante peço a Deus por um milagre.

É a última coisa que me lembro.

Perco os sentidos.

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