O ENCONTRO

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Dia de folga total para um médico ginecologista é difícil de acontecer. Hoje não vou ao consultório, nem à UPA e muito menos ao hospital. Torço para que nenhum bebê resolva nascer na minha folga. Mesmo assim, como de hábito, levanto cedo, tomo um café reforçado, com direito a tapioca e bolo de rolo, e me sento na rede da varanda da casa.

Dia lindo, sol quente queimando a pele logo cedo, uma brisa gostosa vinda do mar. Desde o dia que assumi o hospital de Cabo de Santo Agostinho e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), encantei-me com essa terra nordestina.

Linda Recife.

As pessoas são mais sinceras, mais cuca-fresca, mais gentis. Mesmo assim, com um povo mais aberto, todos os dias vejo os dois lados da saúde. Divido-me entre a saúde pública e a saúde particular, com seus convênios e atendimentos vips. Quando estou exercendo a medicina, em qualquer lugar, procuro fazer com que todos os atendimentos sejam únicos, em qualquer situação e ambiente. Improviso, crio, invento, mas busco ao máximo a igualdade humana, porque a social é bem discrepante e ainda não tenho poder de mudá-la totalmente.

Formei-me em Medicina no Rio de Janeiro. Fiz residência no hospital público de lá, então vi muitas coisas que não desejo nem ao meu pior inimigo. Procurando trabalho na especialização que escolhi, deparei-me com um concurso em Recife. O Rio já não me encantava mais e queria fazer a diferença na vida das pessoas. Nem acreditei quando saiu o resultado, passei no concurso e a vaga era minha. Minha mãe não ficou muito feliz, pois queria que seu filho atendesse a nata da sociedade carioca. Meu pai e sua nova esposa vibraram com a minha vitória e com meus objetivos. Estava convicto da minha decisão aos vinte e sete anos de idade. Escolhi essa profissão para fazer a diferença e não para ganhar dinheiro.

Quando cheguei do Rio de Janeiro a Cabo de Santo Agostinho, pequena cidade de Recife, meu pai arrumou um lugar maneiro para que eu morasse. Thereza Avellar, amiga dele, dona de uma casa de veraneio enorme com uma edícula novinha, nunca usada, não deixou o filho de seu amigo morar em outro lugar que não fosse ali.

Realmente me encantei com o lugar e me apossei dele. Depois de alguns meses praticamente sozinho no lugar, surpreendentemente, Thereza veio ficar na mansão em Cabo. Acabamos estreitando relações e ficamos amigos. Ela me contou o porquê veio e acompanhei nesses três meses sua busca pela filha, que foi roubada no dia do seu nascimento, pelo próprio pai de Thereza.

As pistas que ela seguiu, depois de muitos anos, finalmente eram verdadeiras. Os pais adotivos foram encontrados, a moça ganhou o nome de Açucena, mas misteriosamente está desaparecida há muitos dias. Os pais adotivos dela moram em Jaboatão dos Guararapes, uma cidade próxima de Cabo, porém, Açucena mora e trabalha em Cabo do Santo Agostinho, coincidentemente.

Sabemos somente que ela enviou uma mensagem dizendo que iria para Recife procurar emprego, o que foi muito estranho, pois ela já tem dois empregos e os adora, segundo seus alunos. Checamos todos os traslados feitos nos últimos dias por meios rodoviários e ela não utilizou desse meio de transporte. Buscando informações aqui e ali, na escola onde substitui professoras, na ONG onde leciona dança para jovens, descobrimos que um homem estava muito interessado nela e andava cercando-a. Os alunos dela confirmaram que este homem continua frequentando a ONG.

Thereza teve uma ideia e se despiu de toda sua vaidade, transformando-se em uma simples ajudante na ONG para conseguir atrair a atenção do rapaz. E ela conseguiu. Fiquei com muito medo de ela agir sozinha, mas Thereza me prometeu que seu motorista sempre estaria por perto e se fosse necessário viria falar comigo.

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