ENCANTADORA

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O que eu faço com essa mulher adormecida em meus braços? É a primeira vez que posso olhá-la sem constrangimento. Aqui, em meus braços, Açucena, parece uma boneca de pano, mole, largada, frágil e, ao mesmo tempo, quente e linda, muito linda.

Ajeito-a em meus braços, organizo-me para não a derrubar, porque ela não é uma mulher pequena. Levanto de uma só vez e a carrego até o seu quarto, abaixando para colocá-la na cama. Ela resmunga, mas não acorda e ainda enlaça o meu pescoço. Respiro bem devagarinho para não movimentar muito seu corpo.

Coloco-a lentamente na cama, ela me solta e se aninha no seu travesseiro. Sinto desejo de tocar toda a sua pele exposta e chego a aproximar minha mão de suas pernas desnudas, contudo, se ela acordar de repente pode ficar aterrorizada. Tudo que aconteceu com ela ainda é muito recente.

Mesmo assim, corro o risco e deslizo suavemente meus dedos pelo seu rosto para arrumar alguns fios de cabelo que caem nele. Sou ainda mais ousado e depois de cobri-la com um lençol, beijo a sua têmpora. Sinto o calor em meus lábios e acho melhor sair do quarto antes que cometa uma loucura. Deixo o abajur aceso, verifico se a janela está fechada e apenas encosto a porta.

Vou até à sala apenas para desligar a televisão. Não conseguirei assistir a série sozinho. Deito na minha cama e durmo pensando nela.

Acordo assustado com o despertador, desligo e pulo da cama. São cinco e meia da manhã. Tenho uma cesárea marcada no hospital de Cabo. Visto minhas roupas brancas, vou até à cozinha, engulo meu café e deixo tudo arrumado para Açucena tomar o seu quando acordar.

Entro no quarto e resolvo avisar que estou saindo para que ela não se assuste quando levantar.

— Eí, garota... Acorda dorminhoca... — Ela abre os olhos e espreguiça lentamente, enquanto fito os bicos dos seus seios furando a blusinha dela. Sinto uma fisgada no meio das pernas.

Nessa hora ela toma consciência que está na minha frente, toda apetitosa e bem à vontade. Sorri para mim, sem malícia.

— Bom dia, Leonardo. Já está pronto para o batente? Que horas são?

— Ainda é muito cedo, tenho uma cirurgia daqui a pouco. Te acordei somente para avisar que estou saindo, durma mais um pouco e tome café antes de ir embora. — Estou levantando da cama quando ela pergunta:

— Como vim parar na cama?

— Eu te trouxe no colo. Não posso dizer que foi fácil. — Pisco para ela.

— Aí... que vergonha. Abusei total da sua hospitalidade.

— Apesar da senhorita dormir cedo, adorei a sua companhia. Podemos repetir mais vezes.

— Só que da próxima vez, irei cozinhar, lá na minha casinha, que está meio abandonada. — Ela se espreguiça mais uma vez.

— Tá combinado. Tchau, gata.

— Tchau, doutor Leonardo. — Ela abre os braços, e entro neles. Faço um esforço sobre-humano para sair dali, mas o dever me chama. Beijo seus cabelos.

— Obrigada, mais uma vez.

— Não tem de quê. — Saio correndo do quarto e dessa maldita tentação. Será muito difícil ser amigo dela.  

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