SUANDO FRIO

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Chego atrasado ao consultório, porque passei no hospital mais cedo para visitar minhas pacientes. Agora tenho que correr para dar conta da minha agenda do dia.

— Bom dia, Beatriz. Como está a minha agenda hoje? Atrasada, não é?

— Bom dia, doutor Leonardo. Ainda não está atrasada, mas está bem apertada. Sua primeira paciente em meia hora é a dona Açucena. — Estanco na frente da secretária e sinto todo o meu sangue gelar.

— Tem certeza, Bia? A dona Açucena, filha da Thereza?

— Isso mesmo, doutor. Faz um mês do ocorrido com ela, é necessário repetir todos os exames. Thereza mesmo que ligou e marcou. Tudo bem com você, parece pálido? Se alimentou hoje?

— Estou bem, Beatriz. Vou me organizar, me avise quando elas chegarem. — Entro na minha sala, largo minhas coisas e sento, pesadamente, na minha cadeira. Puta merda, como vou atendê-la sem pensar no sonho erótico que tive e que ainda povoa meus pensamentos?

E quando olhar para seu órgão genital e constatar que é igual ao meu sonho, o que faço? Estou perdido. Quantas mulheres atendi desde que sou ginecologista e nunca estive nessa situação. Louco para me enterrar numa carne que terei que examinar profissionalmente.

Levanto, vou até o banheiro, lavo o rosto tentando aplacar essa sensação de luxúria, de tesão que acomete todo o meu corpo. Tenho ainda alguns minutos e resolvo pedir um conselho para o melhor, o campeão. Ligo para o meu pai, Fabrício.

— Bom dia, pai.

— Bom dia, filho, que bom ouvir sua voz. Tudo bem por aí?

— Liguei porque preciso de um apoio moral pai, e só você pode me aconselhar ou me acalmar, porque acho que preciso mesmo é disso, calma. — Conversamos por uns dez minutos e ele consegue me deixar mais tranquilo. Seus conselhos são importantes e sua voz me coloca de volta no meu modo médico.

Toca o interfone e isso faz meu corpo inteiro arrepiar e meu coração acelerar.

— Sim, Beatriz?

— Dona Açucena chegou, doutor. — Olho o consultório e tudo está no lugar.

— Pede para ela entrar, Bia. — Isso é muito estranho, parece um deja-vú. Açucena entra no consultório timidamente, com um vestidinho floral, linda, perfumada, mexendo com os meus pensamentos obscenos.

— Bom dia, doutor Leonardo. — Ela sorri para mim, como no sonho.

— Bom dia, Açucena, sente-se por favor. Que bom que você veio para a consulta. Como você está se sentindo?

Minhas mãos suam quando pego a caneta para fazer as anotações.

— Nesse momento, um pouco incomodada. Sou sua amiga, não é mesmo, mas é a primeira vez que sou sua paciente, sem contar no hospital, que me lembro vagamente. — Ela também está tensa, consigo perceber pelo tremor da sua voz.

— Aqui podemos fazer o seguinte. Sou seu médico e você é minha paciente. Deixaremos o restante de lado. — Tentarei agir assim também, espero.

— Okay. Vou tentar, mas sabe que em partes a culpa é sua.

— O que foi que eu fiz? — Fico sem saber o porquê ela disse isso.

— O doutor sabe muito bem o que fez, ou melhor, o que deixou de fazer em minha casa há alguns dias. — Eu e minha boca grande, agora ambos sabemos da minha atração por ela. Idiota.

— Perdoe-me, Açucena, acho que estava um pouco alegre aquele dia. Vamos voltar à consulta, você sente alguma dor?

— Não, estou bem e não sinto mais nenhum incômodo. Todos os roxos do corpo também sumiram.

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