DESAFIANDO O MEDO

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— Nossa, Thereza. Você não precisava ter feito isso. Saber que somos uma família já me bastava.

— Tenho muitos bens, Açucena, ainda mais, quando fiquei viúva. Você é minha herdeira legal, só cumprimos a lei. Estarei aqui para ajudá-la a administrar tudo isso. Quero que você tome o seu lugar de direito. Sempre respeitando as suas vontades, é claro. — Saímos do escritório dos advogados dela e entramos no seu carro, parado na porta, com o Dimas a espera.

— Antes disso, mãe, precisam prender o Cleomir. Não posso ficar a vida inteira com um guarda-costas a tiracolo.

— Eu sei disso, filha. Ele evaporou, nem a polícia e, nem meus homens conseguiram encontrá-lo.

Desde o dia que voltamos da viagem a Porto de Galinhas, tenho um poste atrás de mim, para onde quer que eu vá. Não mudei minha rotina porque um bandido está à solta. Tenho medo, todos os dias ao sair de casa, sinto aquele aperto no peito, possivelmente um início de pânico, entretanto, não o deixo assumir meus atos. Apenas estou de maneira precavida para não ser pega de surpresa.

Não vou mentir, estou com receio que ele tente fazer comigo o que fez meses atrás. Para quem sempre foi uma alma livre, o que estou vivendo agora é semelhante a uma prisão.

A parte boa disso tudo é que morando com a minha mãe biológica, estou perto do doutor Leonardo. Perto demais.

Depois da nossa viagem, armada para me proteger, não estivemos mais sozinhos. Combinei com ele que resolvesse os seus problemas com a enfermeira antes de assumirmos alguma coisa e estou respeitando o seu tempo.

Só que não está sendo fácil conviver tão próximo e mesmo assim tão distante. Depois que me entreguei para ele, vi o quanto o amor preenche o coração. Também quero ele me preenchendo completamente de todas as formas. Em uma atitude aventureira, resolvo não resistir a esse desejo que estou sentindo em meu peito. Não sei o que o futuro me reserva e quero viver o presente intensamente.

Decido agir por conta própria.

Fico à espreita e vejo quando ele chega do hospital. Para e olha para a casa grande, aparentando cansaço e muito abatido. Calculo o tempo de ele tomar um banho e de fazer uma refeição. Enquanto isso tomo um banho bem gostoso, visto uma lingerie rosa-choque, que Thereza me ajudou a comprar, coloco um vestido bem leve, soltinho e mais curto que os habituais e desço. Minha mãe, sentada na sala, lendo um livro já fica em alerta.

— Vai sair, filha?

— Vou, mas não se preocupe. Fica perto, a alguns passos daqui. — Minha mãe sorri para mim, compreensiva.

— Vai fazer uma visitinha de médico?

— Vou fazer uma visitinha para o médico. Leonardo anda muito distante e preciso descobrir o que está acontecendo.

— Isso mesmo, Açucena, está na hora do Leonardo se posicionar. Só me avise se for ficar lá. — Vou até minha mãe e beijo o seu rosto.

— Você bem que podia arrumar alguém, mãe. Agora que você me encontrou, pode muito bem abrir seu coração.

— Quem sabe aparece um mocinho da sua idade para eu criar. — Rimos juntas.

— Quem sabe, mãe. Só aviso que dá um trabalhão. Estou indo.

— Cuide-se, querida. — Saio na porta e o brutamontes já está atrás de mim.

— Não precisa me acompanhar, Jurley, não vou sair da propriedade. Vou até à casa do doutor Leonardo.

— Tudo bem, senhorita Avellar.

— Só Açucena, já te falei. — Ele sorri para mim e pede licença. Quando chego próximo à casa do Leonardo, vejo-o na rede, sentado, balançando levemente, de bermuda e sem camisa. Começo a salivar, mas me controlo a tempo. Percebo-o absorto.

VEM CUIDAR DE MIMWhere stories live. Discover now