MEIAS VERDADES

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Depois do que aconteceu no consultório, preciso conversar definitivamente com Mayara. Ela não me procurou por uns dias, mas hoje estou de plantão no hospital, irei falar com ela e resolver a nossa situação. Como meu pai me alertou, assumo o filho, mas o relacionamento entre nós, na verdade, nunca existiu. Sei que os homens agem melhor nessa situação de não ter nenhum vínculo emocional, mas sempre achei que ela entendia nossa relação e sabia que não era definitiva.

No meio da tarde, pergunto sobre ela e me falam que está descansando na sala dos médicos. Vou para lá e nem bem chego, ouço sua voz.

— É claro que tenho certeza, Camila. Leonardo já caiu na minha.

— Mayara, ele é médico, com certeza vai se certificar do exame.

— Camila, Leonardo é bonzinho e tolinho. Ele é todo politicamente correto. O exame de sangue já consegui de uma grávida que estava na enfermaria. Finjo uns enjoos, desejos e ele nem vai desconfiar. — Fico quieto encostado na parede do lado de fora, segurando-me para não invadir a sala e mandá-la para o inferno. Elas não percebem a minha presença.

— Mas a barriga precisa crescer, amiga.

— Nem precisa. Assim que a sirigaita cair fora, finjo um acidente e perco a criança. Leonardo ficará ainda mais próximo de mim, quando eu fingir carência, depressão pela perda do bebê. — Não consigo ouvir mais nem um minuto dessa conversa indigesta. Saio rápido, com passos firmes, para bem longe dessa sala. Vou até o pronto-socorro, entro em um consultório sem uso e tranco a porta.

Não acredito no que meus ouvidos escutaram. Até onde vai o ciúme de uma mulher? Ela é capaz de mentir, enganar e destruir um amor verdadeiro por conta de possessividade. Como se fosse possível transferir esse amor de uma pessoa para a outra. Fico assim uns quinze minutos, digerindo as palavras dela, sem compreender sua atitude e resolvo agir bem rápido, quero ver até onde vai a sua ousadia. Ligo no laboratório do hospital e pergunto quando acontecerá a coleta de sangue dos funcionários. Está marcado para quarta-feira. Daqui dois dias. Sua armação está com os dias contados e por Deus, não precisarei fazer nada errado para desmascará-la.

Na quarta-feira todos os funcionários fazem o exame bimestral obrigatório e assim que fico sabendo que ela foi ao laboratório, peço para o chefe do laboratório incluir no exame de Mayara um teste de gravidez. No meio da tarde, ele me leva o resultado pessoalmente.

— Como você esperava, Leonardo, ela não está grávida.

— Cadela... Devia esfregar esse exame na cara dela e acabar com tudo isso, mas quero ver até onde vai a sua mentira.

— Esse tipo de mulher é a mais perigosa. Gostosa, boa de cama e totalmente sem caráter.

— Costumo conhecer bem as pessoas e juro que nunca percebi esse lado dela. Talvez ela tenha se mostrado, porque comecei a gostar de alguém.

— Com certeza, doutor. Ela achou que você estava no papo.

— Muito obrigado, Raul. Sei que esse pedido não é de todo ético, mas não poderia assumir um filho sem ter certeza. — Ele levanta da minha mesa, estica a mão e eu aperto.

— Segredo nosso, amigo. Até mais, doutor. Boa sorte. — Quando ele sai, fechando a porta, dou um soco na mesa.

— Te peguei, Mayara.

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