A AMIZADE

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Hoje é dia de atender as jovens gestantes na UPA. Faço os exames de pré-natal, enquanto a psicóloga ministra uma palestra e a pediatra ensina os primeiros cuidados com o bebê. Como a classe menos assistida ainda não faz uso da camisinha e contraceptivos. Cada vez mais jovens engravidam e não tem condições físicas, psicológicas e financeiras de criar uma criança. Isso faz com que o tráfico de bebês aumente nessa região. Junto a essa nova equipe, estou tentando mudar esses números em Cabo de Santo Agostinho, e nesses seis meses de trabalho, tenho visto uma mudança pequena, mas significativa.

Quando chego à minha casa, cansado do trabalho, vejo luzes acesas na mansão e decido averiguar se tudo está bem. Thereza sempre está em seu canto, é difícil ver movimentação na casa. Entro pela cozinha e ouço vozes na sala de jantar. Grito da cozinha mesmo.

— Boa noite, posso invadir? — E caminho para lá.

— Entra, Leonardo, chegou em boa hora. Acabamos de sentar à mesa. — Vou entrando na sala de jantar e me detenho na porta. Sinto o sangue correr mais rápido em minhas veias, quando vejo Açucena sentada ao lado de Thereza, bem à vontade, vestida de shorts jeans e camiseta sem mangas, com os cabelos molhados, provavelmente saída do banho há pouco tempo.

— Parece mesmo uma boa hora. Olá, Açucena, fico feliz em te encontrar aqui. Acredito que estão finalmente se entendendo. — Ela me olha com curiosidade, sem entender o que eu estou fazendo ali. Encosto na cadeira oposta a elas.

— Olá, doutor Leonardo. Estamos nos conhecendo, vim passar uns dias com a minha mãe, Thereza — ela diz tentando me mostrar que já está sabendo das coisas.

— Desculpe perguntar, sei que é um horário impróprio, mas o meu lado médico quer saber se está tudo bem com você? Tem sentido dores? — Seus olhos brilham e olham para mim, surpresos.

— Agradeço a sua preocupação, doutor. Estou vivendo um dia de cada vez. Minhas dores diminuíram muito. Quando sumir todos os hematomas, acho que conseguirei me olhar melhor no espelho.

— Quer jantar conosco, Leonardo? — Thereza pergunta.

— Hoje não, Thereza. É a primeira noite de vocês e também hoje o dia foi puxado na UPA, preciso de banho e cama. Bom jantar para vocês. Até mais, Açucena. — Saio pelo mesmo caminho, dando tempo de ouvir a Thereza explicando para ela que eu moro na edícula junto a casa grande.

Andando em direção à minha casa, quero entender o porquê essa menina mexe comigo como nenhuma outra mexeu. Gostei de vê-la sorrindo, vestida num shortinho jeans curtinho e uma camiseta justa no corpo, revelando os seus seios bonitos. Não devia pensar assim, mas é mais forte do que eu, ela é bem gostosa, uma mulher interessante para os meus olhos de homem.

Entro, jogo minha roupa na poltrona do quarto e entro no chuveiro. Preciso parar de olhar a garota com interesse carnal. Ela é filha da minha amiga, além de minha paciente. Essa é duplamente fruto proibido. Além do mais, acabou de ser violentada por um tremendo filho da puta e sei como isso reprime qualquer desejo sexual, quando acontece. Saio do banho, visto uma bermuda, faço um lanche e deito na rede da varanda. As luzes da casa ainda estão acesas, isso mostra que elas estão se dando bem.

Toda essa atenção da Thereza, ajudará a dissipar os problemas psicológicos gerados pelo trauma que ela vivenciou. Envio uma mensagem para meu pai e para minha meia-irmã. Patrícia se envolveu com um cara em Orlando. Mal chegou lá e já está apaixonada.

Mulheres...

Entro em casa, deito na cama e apago. 

VEM CUIDAR DE MIMWhere stories live. Discover now