VISITA INESPERADA

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Quando todas as crianças saem da sala de aula, consigo finalmente pensar no que acontecerá essa noite. Leonardo me convidou para jantar em sua casa e imagino como isso acabará. Na sua cama, principalmente se ele estiver com os mesmos desejos que eu.

Desde aquela noite em que fizemos sexo, confesso que não paro de pensar nele. Senti-me tão bem ao seu lado, ele me tratou com tanto carinho e tanta atenção naquela noite, que em nenhum momento pensei na violência que sofri. Só queria experimentar o que ele tinha para me oferecer. Adorei o seu cheiro, a textura da sua pele ao encontro da minha, suas mãos me acariciando, até seu sexo enterrado em mim foi especial. Ele me guiou para o melhor orgasmo que já tive e não sei muito bem, ainda estou confusa, mas acho que quero repetir tudo de novo, e talvez de novo. Agora entendo quando ele falou que alguns vícios são difíceis de largar, posso me viciar no doutor bem facilmente.

Minha única preocupação é estar confundindo os sentimentos, achando que ele tem algum interesse real em mim, enquanto sei que ele mantém um relacionamento com a enfermeira.

Pego minhas coisas e vou para casa me arrumar. Está muito calor, tomo um banho bem gostoso e coloco um vestido que Thereza insistiu que eu pegasse no shopping. Um vestido feito de renda, bege, com um decote generoso e com uma saia curta esvoaçante. Muito lindo, porém, um pouco ousado. Como combina com o momento, com o que vai dentro de mim, resolvo usá-lo. Tranço o cabelo suavemente, deixando bem leve e ouso passar uma maquiagem clarinha. Coloco uma rasteirinha no pé e me olho no espelho. Nem me reconheço, sempre me achei bonita, mas com o visual de hoje estou realmente incrível. Minha pele está vistosa, meus olhos azuis têm um brilho especial, tudo em mim transborda sensualidade.

Escuto a buzina do motorista da minha mãe que veio me buscar.

— Posso me acostumar com toda essa mordomia. Roupa nova, motorista na porta. Você está chique mesmo, Açucena. — Rindo de mim mesma, tranco a porta e entro no carro, cumprimentando o Dimas.

Antes de ir para a casa do Leonardo passo para ver a minha mãe.

— Minha Nossa Senhora, como você está linda, querida. Desculpa falar, mas nem o doutor Leonardo vai resistir ao seu encanto. — Fico toda envergonhada com a indireta dela.

— Assim fico sem graça, mãe. Ele apenas me convidou para jantar. Sabe que ele tem um relacionamento com a enfermeira.

— Que eu saiba, ela apenas frequenta a cama dele, Açucena. Nunca o vi olhar para ela assim como olha para você. Ele te quer, minha filha.

— Ai... mãe. Estou um pouco confusa, tenho medo que nossos sentimentos estejam ambíguos. Ele se achando meu protetor, e eu achando que devo gratidão.

— Faz o seguinte, filha, deixa as coisas acontecerem. Na hora certa vocês saberão o que é realidade, e o que é ilusão. Agora vá, não deixe aquele gato esperando. Se decidir algo diferente do que ficar lá, estarei por aqui. — Mãe sempre tem uma palavra certa na hora certa.

— Está bem. — Mais uma vez, Thereza me abraça daquele jeito apertado, e vou em direção a casa do Leonardo.

Antes de chegar à porta, ouço vozes de mulher. É a enfermeira. E agora, o que faço?

— Desculpe, Leonardo, mas precisei instrumentar uma cirurgia de emergência naquele dia que combinamos, que durou cinco horas. Saí do hospital exausta, cheguei em casa e adormeci.

— Devia pelo menos ter enviado uma mensagem. Hoje não podemos conversar, estou ocupado. — Leonardo olha para a porta e me vê. Como sempre faz, me olha de baixo para cima, fazendo cara de extasiado. Ela vira e fica me olhando também.

— Entendi, está fazendo um jantar para sua vizinha.

Ela caminha em minha direção e me cumprimenta com um abraço. Vejo ódio em seu olhar, mas mantenho a calma. Minha vontade é dizer que não estou fazendo nada demais, estou apenas aceitando um convite de um amigo para jantar. Não entendo o seu ódio, se ela não sabe nada sobre nós termos ficados juntos.

— Boa noite, Açucena. Entra... entra, vamos aproveitar a boa comida que o Leo costuma fazer, para brindarmos a minha grande revelação. — Leonardo intervém.

— O que você está falando, Mayara? Podemos deixar para ter essa conversa num outro momento. — diz, caminhando em minha direção.

— Olá, Açucena. Venha, estou acabando de preparar nosso jantar — avisa, sem graça pela situação, e me beija no rosto, falando baixinho em meu ouvido — Você está encantadora.

Mayara está com raiva e decide acabar com o jantar, despejando um balde de água congelante sobre nossas cabeças.

— Doutor, pega um champagne, vamos brindar. Se bem que só posso brindar com água. Daqui, até sete meses, não posso consumir bebida alcoólica. — Leonardo para tudo e olha para ela boquiaberto.

— O que você está falando, Mayara? — Ela alisa a barriga chapada.

— Isso mesmo que você ouviu. Estou grávida de dois meses, Leo. Você vai ser pai, querido. Enfim, vai trazer seu próprio filho ao mundo. Deve ter acontecido naquele dia que transamos na praia, não é emocionante? — Comenta, sarcástica, e se vira para mim toda sorridente, como quem diz, agora quero ver você me encarar.

Fico mortificada. Sabia que eles tinham um lance, mas não achava que fosse tão liberal, transando sem proteção.. Tento manter uma frieza na voz ao falar, sem saber se conseguirei passar essa impressão.

— Claro que é emocionante, Mayara. Parabéns para você e parabéns para o doutor Leonardo. Acho que podemos deixar o jantar para outra ocasião, afinal vocês devem ter muito o que conversarem e comemorarem. — Parece que ele realmente não sabe muito o que fazer. Mayara chega perto do médico e puxa a mão dele para a sua barriga.

— Leo, será que é uma menina ou um menino? Por isso estava tão indisposta e com sono todos esses dias. — Leonardo emudece e não faz nenhum gesto para me impedir de fugir.

— Boa noite para vocês. — Viro-me com o resto de dignidade que me sobra e corro desse pesadelo. Porque isso só pode ser um pesadelo.

Minha mãe está sentada na sacada tomando um vinho e escutando uma música instrumental quando entro. Ela estranha o meu jeito.

— O que aconteceu, minha filha? Leonardo teve alguma emergência? — Lágrimas escorrem pelo meu rosto, quando respondo, já sem controle nenhum, me entregandoa decepção.

— Teve sim, mãe. Ele vai ter que programar o parto do seu próprio filho. — Thereza vem até mim, aconchega-me em seus braços, me acalmando, dizendo palavras de carinho e só depois consigo contar o que aconteceu.

VEM CUIDAR DE MIMWhere stories live. Discover now