CORRENDO PERIGO

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Chego em casa mais cedo porque não é dia de aula na ONG. Leonardo não deu certeza que viria, mesmo assim resolvo preparar um prato para o caso de ele aparecer.

Estou sentindo falta dele, saudades, desejo, tudo misturado. Na verdade, sinto falta da sua presença. Não consigo tirar da cabeça o que fizemos na beira da piscina. Foi um ato de loucura, mas foi muito bom, foi gostoso. Senti-me bem, apesar dos momentos horríveis que passei. Quero avançar um pouco mais, só que tenho medo de não conseguir chegar até o fim.

Deixo tudo pronto na cozinha e vou até à praia assistir ao pôr do Sol. Ando até à areia, tiro o chinelo, estendo a canga e me sento olhando o final da tarde. Pego o celular, tiro umas fotos e estou procurando uma música para colocar para tocar, quando vejo a sombra de duas pessoas cobrindo o resto de claridade do dia.

— Está sozinha, gatinha? — Sinto um tremor em todo o corpo e congelo, apavorada. São dois rapazes, aparentando serem mais jovens que eu.

— Sabe que tu és gostosa galega, e bem que a gente podia brincar juntinhos, não acha? — O outro rapaz encosta no que está mais perto de mim.

— Mas a gente não quer te machucar, só queremos o celular e a grana. — Olho para os lados e não vejo ninguém para me socorrer. Consigo responder, nem sei como, porque sinto meu corpo travado.

— Não tenho dinheiro, estava somente vendo o pôr do Sol. Pode levar o celular, é o que tenho.

— Passa aí, gatinha. — Eu estico o braço e o rapaz com o semblante malvado segura em meu cotovelo, erguendo-me do chão. Fico em pânico e começo a gritar, enlouquecidamente. Os moleques se assustam e começam a correr com o meu celular. Grito por socorro e choro sem parar. Os vizinhos aparecem e não consigo me mexer. Só gritar e chorar.

De repente, dois braços me envolvem e me pegam no colo. É ele, o meu salvador. Conheço o seu cheiro. Doutor Leonardo me leva para casa no colo. Agarro o seu pescoço e ele diz alguma coisa para mim, mas não entendo nada. Ele abre a porta de casa, colocando-me no chão, tranca todas as janelas e a porta, e me leva para o banheiro.

Tira toda a minha roupa, e não esboço nenhuma reação. Coloca-me embaixo do chuveiro e aquela água morna caindo sobre mim, começa a me tirar do estado de choque e letargia. É como se estivesse bêbada e alguém quisesse me acordar.

— Açucena, responde para mim, você está me ouvindo?

— Estou, Leo.

— Graças a Deus. — Ele lava o meu cabelo, o meu corpo e me sinto tão protegida com seus cuidados. Fecha a torneira, pega uma toalha e seca meus cabelos. Nessa hora tenho consciência da minha nudez.

— Pode deixar que me seco, Leonardo. — Ele olha para meus olhos e pondera.

— Tudo bem. Vou buscar uma roupa para você.

Ele sai do banheiro e sinto a sua ausência. Menos de um minuto depois, volta com uma calcinha vermelha e uma camisola de malha, com todo o cuidado do mundo me ajuda a colocar a roupa e me leva para a cama.

— Como você está se sentindo?

— Agora estou bem, graças aos seus cuidados.

— Fiquei preocupado com o seu estado de choque. Quis que você voltasse o mais rápido ao normal. Peço desculpas por colocar você no chuveiro, mas é o modo mais rápido de reação. — Sorrio para ele, envergonhada.

— Está desculpado. — Vejo que ele esboça um ar de alívio por estar de volta.

— Afinal, o que aconteceu? — pergunta, cuidadoso e preocupado.

— Dois moleques bandidinhos, batedores de carteira, queriam o meu celular e dinheiro. Quando estiquei o braço para entregar o celular, que era o que tinha, ele agarrou no meu braço e esse toque me fez começar a gritar sem parar. Foi quando você chegou. — Ouço bater na porta, mas não quero falar com ninguém. Leonardo vai até lá, conversa com alguém e entra.

— Um vizinho veio trazer o seu celular. Acho que você assustou os moleques e eles deixaram na lojinha de enfeites no final da praia.

— Menos mal. Terei menos trabalho agora. Tudo isso me deu uma moleza, uma leseira. — Deito na cama onde estou sentada e Leonardo ajeita o travesseiro e as cobertas.

— É normal isso. A adrenalina abaixou e vem um cansaço. Vou deixar você descansar.

— Leo?

— Pode falar.

— Deita aqui comigo, por favor? Estou com medo.

— Deito, vou só apagar as luzes e tirar minhas roupas molhadas. — Olho para ele espantada.

— Que vacilo meu, nem lembrei que você está molhado. Coloque-as nas cadeiras lá na cozinha que com esse calor logo estarão secas. — Lembro do Leo tirando a roupa e indo na cozinha, mas adormeço antes de ele voltar.

VEM CUIDAR DE MIMWhere stories live. Discover now