TENTATIVA FRUSTRADA

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Quando me dirijo para a UPA, decido que chegou a hora de colocar um ponto final no meu caso com Mayara. Nas últimas vezes que estive com ela, já estava pensando e sonhando com outra mulher. Agora que fiz amor com Açucena, nem consigo pensar na possibilidade de ficar com outra.

Não tenho nenhum compromisso com nenhuma delas, mas uma certeza eu tenho: não quero mais ficar com Mayara. O tempo dela já passou, foi gostoso e prazeroso para ambos, só que nunca rolou esses sentimentos como está acontecendo agora com Açucena.

— Bom dia, pessoal. — Entro rapidamente na UPA, vendo que o atendimento está bem lotado. Não está muito diferente de todos os outros dias que trabalho aqui. Às vezes até ajudo o clínico geral nas suas demandas, quando não tenho mais pacientes na minha especialidade.

— Bom dia, doutor, hoje estamos com uma agenda bem cheia. Parece que todas as mulheres de Cabo querem se consultar com você.

— Deve ser o meu charme, Raylane. Elas adoram me admirar. — Pisco para a atendente. — Acho isso muito bom, se quer saber, assim consigo ajudar cada vez mais garotas a cuidarem de si, valorizarem suas vidas e suas regras.

— Seu charme contribui sim, doutor, mas acredito mais na sua competência, disponibilidade e paciência com elas.

— Isso também conta bastante. Dê-me dez minutos e pode mandar entrar a primeira.

— Okay, doutor. — Assim que ela sai, pego o celular e ligo para Mayara. Ela atende no segundo toque.

— Oi, doutor gostosão. Pensei que tinha me esquecido.

— Imagina, Mayara. Você tem algum compromisso hoje? Precisamos conversar. — Percebo que ela fica muda por alguns segundos.

— Mayara?

— Não tenho compromisso hoje. Que horas você sai da UPA?

— Deixo a UPA às dezoito horas hoje, vou cobrir o médico da tarde.

— Perfeito. Acabo o meu plantão às dezessete horas e passo aí para escolhermos aonde vamos.

— Vou ficar te esperando.

— Tchau, doutor, até mais. — Desligo o celular e não volto a pensar nisso até o final do dia.

A realidade de quem frequenta uma UPA é muito diferente do hospital particular em que trabalho. Atendemos com menor tempo, com menos recursos e às vezes não temos o remédio adequado para um caso específico. Muitas vezes as pessoas chegam mal aqui, são medicadas com o soro universal na veia por algumas horas e quando os liberamos, saem e vão para o ponto de ônibus, doentes e drogados, para retornarem aos seus lares, que nem sempre estão abastecidos com alimentos importantes para seu reestabelecimento. Existe uma diferença cruel entre as classes sociais. Não consigo mudar o mundo, contudo, tento mudar o ambiente onde trabalho, ajudando em tudo que for preciso e do meu alcance.

Acabo o meu plantão e fico aguardando por mais de meia hora, e nada de Mayara aparecer. Tento ligar em seu celular e só cai na caixa postal.

Com certeza, ela entendeu que algo diferente aconteceu. Desde aquele jantar, deve ter percebido um distanciamento. Minha fraqueza aquele dia no hospital, também demonstrou algo errado, pois nunca agi desse modo, totalmente passivo.

Não posso julgar, também pode ter sido algo importante no hospital que demandou a sua presença. Tento ligar mais uma vez e nada. Acabo deixando recado na caixa postal, e decido ir para casa.

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