A caçada começa.

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♠ Marcelo Clark ♠

Berna

Estou saindo do banho e ouço meu telefone tocar sobre a mesa de cabeceira, caminho até ela e na tela aparece o nome de Dave.
O que será que houve?

— Qual o problema? — Do outro lado da linha Dave me relata que uma movimentação à noite o fez sair do carro. Uma silhueta com um lenço na cabeça passou por ele, e bastou a porta do carro ser aberta para que ela começasse a correr. Certamente era a minha Valentina. Dave descreveu como ela tinha se jogado sobre uma cerca, para dentro de um pequeno bosque.

Voltou para pegar o carro e persegui-la. Porém, encontrou seus quatro pneus cortados, tão vazios que o aro podia tocar o asfalto molhado. Segundo ele, Ilana Howard ofereceu seu melhor sorriso de triunfo enquanto o olhava da porta. Dave perguntou se podia “dar um jeito na velha”.

— Não toque nela. Entendeu?

Me causa um gostoso frio na barriga ao tentar imaginar qual seria o plano delas. A antiga senhora Becker é conhecida por sua esperteza, portanto, Valentina deve ter aprendido alguma coisa. O que essas duas estão armando?

Agora sim, a caçada começa e eu estou louco para saber o que ela fará. Todas as suas decisões, seus planos maquinados naquela cabecinha juvenil me indicarão o quão bem Valentina Becker pode ser esperta.

No meu mundo, você precisa olhar por cima do ombro em todos os momentos, seus maiores aliados podem se tornar seus carrascos.

Eu me troco rapidamente e tento ajeitar os cabelos com a mão. Pego a chave e aviso Gregório que iremos sair. Ao chegar ao hall do hotel, ele está já está à minha espera.

— Boa noite, senhor.

Enquanto a Mercedes se desloca para casa de Valentina, meu coração fica muito inquieto. É uma mistura de raiva e excitação, tudo junto, e os minutos que passo dentro da carro parecem infinitos, até que sou avisado pelo motorista que finalmente chegamos.

Quando o veículo para e eu desço, Dave já vem ao meu encontro, preocupado. É bom que esteja, o medo é um excelente domesticador.

— Dave, essa será a última vez que falha em cumprir uma ordem minha, entendeu?

Vejo que ele se cala e fecha os punhos, ele trabalha há bastante tempo comigo para saber as consequências do seu “erro”. Eu o olho com uma cara que ele já conhece e faço sinal para que ele pegue uma gazua e abra a fechadura da casa.

Berna é uma cidade tão introvertida, que eu mal me preocupo com os olhos dos vizinhos.

Sem cerimônias, Dave faz o seu serviço. Como um predador, entro em silêncio na toca das Howards.

Ah, a deliciosa adrenalina…

— Reviste a casa. Ache qualquer coisa que possa indicar o paradeiro dela.

Dou as ordens ao Dave mesmo sabendo que ele não encontrará nada. Caminho pela casa e encontro Ilana na cozinha, preparando o jantar como se eu não tivesse invadindo sua casa.

— É assim que você costuma entrar na casa dos outros? Não sabe esperar ser atendido?

Ilana fala de modo calmo, quase debochando. Não estou totalmente surpreso com isso.

— Você sabe muito bem por que estou aqui! Não se faça desentendida.

— Não encontrei nada, senhor. — Dave retorna.

— Me dê sua mão direita — Peço em tom natural sem deixar de encarar Ilana.

Dave continua atônito.

— Senhor?

— Me dê a porra da sua mão direita, Dave. — digo espaçadamente, impaciente.

Trêmulo, ele estende a mão, consigo ver sua pele começar a brilhar com o suor brotando. Seguro seu dedo médio de forma a empurrá-lo gradativamente para trás com o polegar, num ângulo em que, definitivamente, não é natural.

Num único movimento, ouço o som dos ossos e tendões estirando-se embaixo da pele enquanto o homem se ajoelha, grunhindo de dor.

— Para o carro, eu e a senhora Howard temos assuntos sérios a tratar — digo com voz quase sibilante e, finalmente, vejo o medo nela. Assim que Dave se retira com o rosto vermelho de dor, caminho até a mulher. A raiva toma conta de mim, não por Valentina, mas por outros fatores que me faziam acumular estresse daquela vida desgraçada. Eu preciso descontar em alguém, e Ilana é o bode expiatório perfeito.

Eu a agarro pelo pescoço, seus olhos se arregalam e ficam vermelhos.

— Onde ela está? — sussurro enquanto Ilana luta para respirar.

— Você nunca vai achá-la — Ela responde com a voz amassada pelas minhas mãos. É bom vê-la sufocar e, se eu me esforçar um pouco, posso até ver Valentina em seu rosto. Isso me excita.

Porém, o vislumbre quase sexual se esvai ao lembrar de outra voz soando daquele mesmo jeito.

“Caesar…”

As palavras se arrastam na boca de minha mãe como folhas secas pisadas, em minha lembrança.

“…está me matando…”

Finalmente a solto, seus pés voltam a tocar totalmente o chão e o ar passa livre pela garganta seca. Com desespero, ela tenta se distanciar. Eu me aproximo com uma voz que, claramente, a gela até os ossos.

— Ilana, Ilana… Você só está adiando o inevitável, querida — digo quase cantarolando, enquanto acaricio seus cabelos e me divirto com seu corpo trêmulo de terror.

— Me torture se quiser, mas não vou dizer onde ela está! Não fará dela mais um dos seus brinquedos! — Ela esbraveja como uma leoa, e tenta me estapear. Não é difícil segurar seus pulsos.

— Valentina é minha filha, farei de tudo para protegê-la de você! Pode me matar! Faça logo, jamais vou dizer onde ela está!

— Eu não vou te matar, Ilana! Não vou fazer mal a mãe da minha futura rainha.

— O quê?

Nem eu estou acreditando no que eu acabei de dizer, mas mantenho-me firme.

— Não ouviu errado. Você querendo ou não, ela vai se tornar minha!

— Marcelo, pelo amor de Deus, Valentina ainda é uma menina! Por que ela? Dê um prazo e eu te devolvo o dinheiro, mas deixe a minha filha em paz.

Ver Ilana me implorar para desistir de sua queridinha, só me faz querer tê-la ainda mais.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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