Descobrindo o paradeiro de Valentina.

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♠ Marcelo Clark ♠

Vim à Berna certo de que precisaria apenas pegá-la e voltar, mas a caçada se formou e é atraente demais. Não darei um gosto do alívio antes de capturá-la.

Se Valentina respondesse à mensagem enviada há algumas horas, eu saberia exatamente onde ela estava. Porém, com uma mãe como Ilana Becker era mesmo improvável que Valentina fosse vacilar assim.

De: fareidetudo@gmail.com
Para: val.mom.enternallove@gmail.com

Por quanto tempo você pensa que vai conseguir se esconder de mim, garotinha?

Ao enviar o e-mail sorrio...

Isso está ficando interessante. Como essa menina pode me tirar do sério assim?

Encaro minhas próprias palavras, uma ameaça que a tiraria o sono por dias, e me deixei imaginar como foderia Valentina Becker assim que ela pisar em meu território.

***

Não consigo me concentrar no trabalho enquanto penso em Valentina e sua fuga inconsequente. Depois de quase um mês nesse jogo de gato e rato, estou estressado, puto, e meu corpo implora por um alívio.

Talvez eu passe no cassino mais tarde, encontre algo ou alguém para foder. Entretanto, ainda preciso resolver ao menos uma parte do problema.
Pego meu telefone e me conecto com minha recepcionista.

— Chame John aqui, agora.
Dez minutos mais tarde, meu advogado entra na sala com suas rugas e terno impecável. Ele está com olheiras, certamente, não dormiu suas horas necessárias de descanso.

Eu o entendo, porque também estou longe de me sentir tranquilo com a organização à beira de uma "expansão" e o sumiço de minha futura mulher.

— Alguma notícia da garota? — pergunto logo.

Depois dos fracassos de Dave, deixei a tarefa de encontrar Valentina com meu homem de maior confiança e competência. Quando ele me disser onde ela está, eu irei até os confins do inferno para buscá-la.

— Nada boas, eu já estava vindo para cá para informá-lo sobre isso — responde John sentando-se à minha frente. — Pedi a um amigo em Berna para verificar a foto que Becker ofereceu, ele deve ter trabalhado em todos os meios de transporte público daquela cidade, e conseguiu rastrear a rota dela.

Foi para Genebra, num trem. As câmeras da estação pegaram o rosto dela.

— Genebra? — Ergo minha sobrancelha. — Acharam ela lá?

— Isso ficou a cargo de outro amigo que fez uma gentil visita para a ex-senhora Becker.

— Dei ordens expressas para não tocar em Ilana, John.

— Ele não tocou. Se me permite ser sincero, Marcelo, admiro seu jeito pragmático de conseguir as coisas, mas nem sempre precisamos colocar uma faca no pescoço de alguém ou decepar membros.

Levanto ainda mais a sobrancelha com a declaração, mas não me ofendo. Esse homem aconselhou e defendeu meu pai por décadas, é ainda meu padrinho. A única pessoa na qual posso confiar e aceitar críticas.

Espero John concluir sua explicação, sem mudar minha expressão.

— Despendi um pouco de dinheiro para forjar um problema de conexão na casa da senhora Howard e mandei um técnico para olhar o computador dela. Manutenção de rotina.

— E...?

— Meu contato achou alguns e-mails trocados com uma conta logada em Genebra, numa loja de eletrônicos de shopping. — Ele faz uma pausa dramática.

— Com a quantia certa, ele conseguiu localizar uma gentil senhora chamada Giulia. Cinquenta anos, filho adolescente, apartamento pequeno na periferia...

— Foi uma conversa amigável e... "limpa"? — pergunto. Toda vez que eu digo a palavra "limpa", John entende que era um código para "não-violência".

— Não muito, atirou no meu contato com uma Beretta, mas ele apontou outra para o garoto dela.

— E o discurso sobre não ter de decepar ninguém? — Permito-me brincar.

— Ainda somos quem somos, Celo.

— Onde você arranja homens tão bons? E por quê não estão trabalhando conosco? — indago levantando-me e enchendo um copo de uísque até a metade, frustrado.

— Eles são bons porque não se reportam a ninguém. A segurança de uma folha de pagamento pode deixar alguns homens... relaxados.

John coleciona muitos contatos ao redor do mundo e isso o torna um excelente advogado e aliado. Encho um copo para ele também, depois que ele o pega, encosto os quadris na mesa para ouvi-lo melhor e faço um aceno de "continue".

— Ele teve de atirar na perna do menino, houve um pouco de sangue no carpete, mas conseguiu um nome... Katerina Bohn Sette. Berlim, Alemanha.

— Passaporte falso, nome novo...

— Exatamente. E você sabe o que aquele país significa para nós.

Xingo baixinho ao lembrar de cinco anos antes. Clã Strauss, quinze soldados mortos. Quinze soldados meus e a perda do meu acesso ao mercado de armas irlandês e alemão.
Europeus filhos da puta, o senso de "união" de alguns deles me dava nojo às vezes.

— Significa que eu não posso agir diretamente no território. – Respondo.

— Isso. Se alguém do Strauss souber que você está lá, vão te caçar como um coelho no mato e não podemos nos dar ao luxo de enviar soldados para morrer. Não às vésperas da nossa... "operação" por aqui.

— Merda...

A Alemanha foi um fiasco para os meus negócios, por pouco a própria Interpol não pegou os dois lados do conflito naquela noite sangrenta, e a inimizade entre Ragazzi e Strauss ficou ainda mais pesada depois que tentei tomar seu território.

Eu não posso pisar naquele solo, nunca mais.

— A garota é tão importante assim, Marcelo? — pergunta John. Sei que ele acha aquela perseguição uma bobagem, uma distração dos meus negócios. — Você pode ter qualquer mulher nessa cidade, no mundo, aliás. Por que essa pirralha?

Respiro fundo, revirando os olhos.

— Por que essa "pirralha" vale trinta milhões de dólares.

— Realmente é muita grana, mas vale a pena?

— Claro que vale! — Perco um pouco a linha, mas logo me recomponho.

Pelo olhar que ele dirige a mim, e o modo como balança a cabeça, sei que está tirando a conclusão certa.

— Entendi. É por causa do Becker, não é? Pelo amor de Deus... — John se remexe na cadeira, soltando o ar. — Isso nem foi confirmado!

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

P.S: O que será que não foi confirmado? Qual segredo do Becker? Vamos descobrir no próximo capítulo. Boa leitura 😘

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