O encontro com a mentora parte l.

82 7 0
                                    

♥ Valentina Becker ♥

Novamente a campainha toca, e ouço uma voz suave chamar pelo meu nome.

Caminho até a porta com receio e espero mais uma vez.

— Valentina, está tudo bem. Meu nome é Giulia, sua mãe me avisou que estaria aqui.

Ao ouvir que minha mãe a avisou, um alívio paira sobre meu coração. Então eu abro a porta para a Giulia.

— Desculpa não atender antes, eu estava com medo.

Giulia entra e vem logo me dando um abraço apertado como se estivesse me dizendo para ser forte.

— Não tem problema, eu sou amiga da sua mãe e eu sei o que vocês passaram com seu pai.

Ela tem olhos muito azuis e bem suíços, e muito mais rugas do que eu posso contar, mas parece gentil e bem-intencionada.

Então a deixo entrar e a ajudo a tirar o casaco pesado.

— Sou praticamente a caseira. Eu sempre a mantenho limpa e quando sua mãe me avisou que iria te trazer eu providenciei tudo que imaginei que precisaria. Mas caso ainda falte algo ou precise de alguma coisa, me avise.

— Obrigada, Giulia. Depois dessa semana inteira sozinha, é bom ter um pouco de companhia.

Mamãe sempre cautelosa. Quem diria que esse cuidado estaria me dando a liberdade agora.

— Fica tranquila, minha querida. Sua mãe foi casada com seu pai por muitos anos. Com certeza ela vai saber lidar com esse homem.

Ela me olha com um olhar carinhoso e acaricia minha bochecha. Esforço-me para não me emocionar lembrando da minha mãe. Só faz uma semana, mas parece que já é uma vida inteira.

— Espero que você tenha razão.

— É claro que eu tenho! — Giulia diz abrindo sua bolsa.

Ela tira um pacote de papel pardo dobrado e um envelope. É robusto e não dar nenhum indicativo do que contém e, com a expressão de espera no rosto da velha senhora, eu o abro.

Um passaporte, uma identidade nova, e um maço muito grosso de euros, não em francos suíços.

— O que é isso tudo? — pergunto, mas o que eu quero mesmo é saber o que isso significa. De acordo com meus novos documentos, meu nome agora seria Katerina Bohn Sette.

— Quer sair e dar uma volta na redondeza? Há lugares lindos!

— E é seguro? — pergunto, apreensiva.

— Minha prioridade e a de sua mãe é sua segurança, querida. Conheço Genebra como a palma da minha mão, confie.

Talvez se eu estiver acompanhada chame menos atenção. Pelo tempo que já passou, talvez Marcelo Clark tenha desistido e voltado para os Estados Unidos. Eu quero acreditar nisso, mas meus instintos ainda estão em alerta.

— Vou te levar para conhecer o Jardim Inglês! É um lindo lugar. Bem diferente de onde você anda fazendo bicos, ou pensa que não estou te observando? Com certeza vai trazer paz pro seu coração.

Me sinto uma boba, ao saber que estava sendo observada o tempo todo. Do mesmo jeito que essa velha senhora esteve em meu encalço, poderia ser os homens de Marcelo Clark.

— Paz é tudo que eu almejo nesse momento, mas infelizmente não consigo ter.

Depois de me arrumar, nós duas entramos em seu Mini Cooper anos sessenta, simples e bem cuidado. Aproveito para, finalmente, apreciar com prazer a vista da gelada Genebra.

— Nunca pensei que fosse ter que viver olhando por cima do ombro o tempo inteiro.

Giulia me dá um toque no ombro quando começamos a passar pela Pont du Mont-Blac. Vejo o lago de Genebra e Jet d'Eau esguichar água em direção ao céu. Não muito distante dali, conforme ela segue com o carro, chegamos ao Jardim Inglês. O relógio de flores acusa que o inverno logo vai reinar.

Descemos e começamos a andar, e ver o quão esplêndido é o lugar. O parque é magnífico. Andamos em volta da orla e chegamos à roda gigante, atrás do desenho de relógio feito pelas flores. No fim do dia, voltamos ao lago onde as pessoas podem passear de barco ou simplesmente ver a natureza à sua volta.

Ao sentar em um dos bancos, por um segundo, quase me esqueço porque estou em Genebra, agora não mais sozinha. Contudo, ainda escondida como se eu fosse uma criminosa.

— É realmente um lugar mágico.

— Sua mãe adorava esse lugar e você sempre pode se misturar à multidão.

Ficamos quietas, vendo as pessoas passarem, sentadas num banco úmido.

— A senhora não respondeu minha pergunta. Por quê o passaporte e o dinheiro de outro país? Pensei que ficaria em Genebra até as coisas se aquietarem.

Giulia cruza as pernas sem me encarar e diz:

— Genebra é apenas a primeira parte do plano de sua mãe para você, querida.

Ela se cala enquanto um casal passa em nossa frente. Quando eles estão distantes o suficiente, continua:

— Ela pensou em tudo. Quando seu pai era um homem de negócios, tinha muitos inimigos além de si próprio. Sempre houve um planejamento para impedir que algo acontecesse com você ou com sua mãe.

Mamãe nunca falava sobre o passado, sobre como ela era quando meu pai ainda estava conosco. Eu tinha tão poucas lembranças dele ou dessa época de luxo… Era apenas uma criança.

— Marcelo Clark — falo — O que a senhora sabe dele?

— Não muito, apenas que ele tem negócios lucrativos às margens da lei e que a polícia de New York está quase toda metida no bolso dele.

Giulia parece ter tanto desprezo pelo homem quanto eu.

— Não sei se Jack foi atrás dele de propósito, mas se não foi, esbarrar com Carter e a laia dele foi uma infeliz coincidência. Por isso precisamos agir rápido.

— E o que eu devo fazer?

— Primeiro, precisará sair do país por um tempo — diz, e um receio toma conta de mim. — Você vai para Munique.

— Munique?! Alemanha? — pergunto ainda mais agitada.

— Marcelo tem inimigos no país, gente poderosa que não aparece em jornais, gente que poderia ameaçar o negócio dele nos Estados Unidos.

— Então vou sair de um lugar perigoso para ir para outro? É esse o grande plano da mamãe?

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

Sem EscolhaWhere stories live. Discover now