A AUDÁCIA NO JANTAR l.

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          ♠ Marcelo Clark ♠


Com meu ataque iminente a Mikhail e Siggy Strauss não posso me arriscar a levá-la num lugar público, então tomei a iniciativa de preparar um lugar especialmente para nós dois no terraço do arranha-céu da minha família em Manhattan. Antigamente, o lugar havia sido o centro de todo o dinheiro de New York, de toda a sujeira na qual nos baseamos por anos, mas agora, apesar de funcionar como um edifício corporativo diverso, ainda pertence à família Clark. Meus negócios vão além da fachada bonita de um prédio. Entram nas casas das pessoas e nas veias dos jovens... Eu não preciso de um símbolo, apenas de eficiência.


Ainda assim, é inegável que me agrada ver o semblante de Valentina mudar quando chegamos ao topo, onde a brisa sopra gélida e a paisagem é estonteante. Como um mar escuro e vivo, cravejado de estrelas, vemos o Empire State Building brilhando à distância. Ela não diz nada por vários segundos, apenas aprecia a vista, e eu também.


— Como tem tanto dinheiro, Marcelo? — pergunta, quebrando o silêncio.


— Você não iria gostar de saber, meu amor.


— Se vamos passar o resto de nossas vidas juntos, ou pelo menos até que eu perca a utilidade, acho adequado nos conhecermos ao menos um pouco.


Ela ainda não desistiu dessa ideia, isso sim é uma surpresa! Valentina insistindo em me conhecer? Querendo saber de mim? Um homem que ela venderia a alma para ver morto? Dei um risinho, pensando. Realmente, não seria uma má ideia impressionar minha própria esposa.


— A família Clark começou seu império como fabricantes de bebidas alcoólicas, tínhamos o melhor uísque e bourbon de New York, sempre nos demos bem por aqui... — conto, mirando o horizonte iluminado. — E então veio a maldita Lei Seca nos anos 1920 e tivemos que nos reinventar, tudo virou um caos.


— Foi quando entraram as drogas — Valentina completou, e me virei para ela surpreso. — Não achou que eu não fosse perceber, não é? Homem rico, muitos guardas e nenhuma empresa.


— Tinha esquecido o quão xereta você consegue ser — falo, mas não tentando insultá-la, o que provoca um sinal mínimo de sorriso nela. Prossegui com minha breve história. — Continuamos legalmente com o bourbon e o uísque por algumas décadas para esconder parte da fonte do verdadeiro lucro. O ópio e as medicações controladas. Tínhamos nosso próprio médico registrado e muito dinheiro para ganhar. Era o avô de John, que hoje é meu advogado.
Valentina agora olha para mim, parece interessada no meu relato, o que não é novidade dada a quantidade de livros que ela lê. Apenas com o olhar curioso me incita a continuar.


— Naquela época, sem a bebida, as pessoas se matavam por um pouco de diversão alucinógena e nós facilitávamos isso. Eram homens cansados, castigados e viciados, procurando um pouco de alento e os Clark deram isso a eles.


— Ópio, maconha e cocaína — diz ela, acertando na mosca. — Eu li algo sobre esse período na sua biblioteca.


— A questão toda é sobreviver, contornar as adversidades, Valentina... Aceitar o que não pode ser mudado e adaptar-se para que isso trabalhe a seu favor, inconscientemente. — As palavras saem da minha boca perdendo-se no vento e nas memórias da voz de meu próprio pai me dizendo isso. Quando a encaro, seu olhar está muito mais perdido que o meu, absorvendo minhas palavras. Ela está linda. Seguro gentilmente seu braço, chamando sua atenção e indico a mesa solitária no centro do terraço, arrumada para resistir ao vento e preservar a elegância com um pequeno arranjo de rosas vermelhas.


— E é isso que vai fazer daqui alguns meses? — indaga, e paro um pouco, incerto do que ela quis dizer. — Vi alguns documentos no seu relatório. "Remessas", "segurança", "logística"... Tenho certeza de que não se trata de um carro novo ou um negócio seu.


— Tem razão, mas isso é assunto meu. Hoje seremos apenas nós dois.


Ela parece decepcionada com minha interrupção, mas não me importo, a noite ainda é uma criança. Meses atrás, eu não me imaginaria agindo como um perfeito cavalheiro com nenhuma das mulheres com quem já estive. Rosas, jantares, romance... Isso não era para mim, e o intuito desse belo circo é atingir o mais delicioso dos objetivos. Valentina Becker foi dada a mim por Nicholas Becker, o homem que provavelmente tinha uma pequena participação na morte dos meus pais, portanto, parte bem-sucedida de minha vingança. Ela ser bonita foi um bônus interessante, seu gênio forte e língua afiada me intrigam.


Enquanto a ajudo a tomar lugar na mesa, penso em como será gostoso enterrar meu pau dentro daquela mulher. Dominá-la de todas as formas possíveis, fazê-la minha, forçar seu corpo a me desejar e a nunca se voltar contra o prazer que a proporcionarei. Tomo meu lugar na extremidade oposta ainda me deliciando com a fantasia.
Percebo seu olhar inquieto, suas mãos sobre o colo.


— O que foi? Não está gostando?


— É que... Isso definitivamente não é você, Marcelo.


— E o que você acha que sou eu? — provoco. Faço um sinal, e um dos mordomos que costuma nos atender em casa se aproxima com uma garrafa de champanhe. Ambas as taças de cristal são servidas, mas Valentina ainda não toca a dela.


— Você não iria gostar de saber, meu amor — repete as palavras em tom amargo que eu havia dito minutos antes como uma sutil provocação. Garotinha sagaz.


— Eu te contei uma história, agora quero que você faça o mesmo... Diga, Valentina, o que acha que eu sou?


♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦


P.S: Nossa garota está ficando audaciosa! Será esse o verdadeiro poder feminino que temos dentro de nós quando decidimos lutar por algo? Ficou curioso para saber o que vem a seguir? Continue comigo e amanhã terá a continuação. Não esqueçam, curtam, comentem e compartilhem com seus amigos. Paz e luz no coração, beijos.

Sem EscolhaWhere stories live. Discover now