Preocupação se transforma em fúria l.

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♠ Marcelo Clark ♠

— Merda...

Ouço Erik praguejando. Levo a mão na maçaneta e está trancada, meto o pé na porta e a arrombo.

Vejo meu amigo um pouco encurvado para frente, como se pegasse uma carga pesada. Quando me aproximo, percebo o vestido preto espalhado pelo chão.

— O que houve?

— Um homem a abordou, já estão fazendo uma busca pela propriedade — Informa o militar, passando o braço sob as pernas dela. Os cabelos descoloridos e macios caem sobre o preto do paletó dele. A visão de Erik com minha mulher no colo me incomoda. Apresso-me para tirá-la dele, sem parecer muito afobado.

— Peça o carro, vamos para a casa de campo — Ordeno e Erik não responde, apenas obedece e sai em disparada, reproduzindo as ordens para o resto da equipe. — Peça para continuarem a festa e chame o médico, vamos passar na casa dele primeiro.

Caminho rápido em direção ao carro, meus homens seguem atrás. Entro no carro já dando ordens a Dave no volante.

— Rápido. Para a residência do médico. Erik entra no banco de trás, está com uma arma de grosso calibre pendendo na cintura. Seus olhos estão atentos lá fora.

— Olhos em tudo — diz ele, tocando no comunicador.

— O que aconteceu? O que disse para ela? — Pergunto.

— Eu não disse nada, ela estava falando do homem que a abordou quando começou a surtar — respondeu. — Ela tem dormido e comido muito mal. Hoje mesmo, ela não comeu nada e dormiu o dia todo.

— Porra... E você não fez nada?

— O que esperava que eu fizesse? Forçasse a comida pela garganta dela?

— Se fosse preciso...

— Você me designou para protegê-la, não para torturá-la.

— Trouxe você aqui para fazer o necessário, se eu achar que você não está fazendo seu trabalho direito, sabe para onde vai depois da carta de demissão.

Eu estava puto, não queria mais ameaçar Erik, já tinha feito isso demais. Mas estava a ponto de explodir!

Como alguém pôde conseguir entrar na minha casa e abordar Valentina embaixo do meu teto?

— Descubra quem é esse filho da puta — Exijo a Erik entre os dentes, aninhando Valentina em meus braços.

Ele não responde, nunca foi do tipo que respondesse ao óbvio.

— Chegamos. — Dave desce e abre a porta do carro. Erik e eu entramos às pressas na casa de Igor, com ela no colo, mal chegamos aos degraus da fachada do triplex vermelho quando o doutor Igor Veltsen sai vestido com um roupão de dormir sobre o pijama largo.

— Há quanto tempo ela desmaiou? —Indaga o médico, já verificando as órbitas de Valentina. Estão vidradas e não reagem ao passar da pequena lanterna.

— Há cerca de quinze minutos, o tempo de chegada até aqui — respondi, seguindo Igor para dentro de casa. Fomos até o escritório dele, um cômodo grande com vários livros e prêmios nas prateleiras.

— Pulso fraco. — Determinou, medindo precariamente com os dedos antes de pegar uma maleta embaixo da mesa.

Valentina ainda está com uma aparência bem deplorável. Eu não sei bem o que fazer. Ela está transpirando muito. Coloco a mão sobre ela para secar o suor e vejo que também está com febre.

— O que você tem, minha princesa? Aguenta firme, você vai ficar boa.

— Mantenha a cabeça dela virada para o lado, por favor — Instrui Igor. — Para evitar que se engasgue caso vomite.

Faço o que ele manda, ela está tão amolecida... Os cabelos longos quase chegam ao chão e os tiro dali para que não se sujem.

— Ela tem seguido sua rotina comum? — Perguntou, preparando algo em uma seringa.

— O que vai injetar nela? — Questiono.

— Nada de mais, apenas algo para acordá-la. A rotina dela, como tem sido?

— O guarda-costas dela disse que não come bem há dias.

— Greve de fome? É normal nessa idade — fala o médico como se já tivesse visto isso mais vezes que a neve.

— Dá para acordar ela logo, por favor?

Sem responder, Igor se ajoelha ao lado de Valentina e faz todo o procedimento padrão para uma agulhada. Mal a solução entra nas veias de Valentina e ela abre os olhos, puxando o ar com força. Seguro-a para mantê-la quieta por reflexo, agora suas íris azuis rolam rápidas, olhando tudo ao redor, ao passo que tenta se soltar de mim.

— Valentina, fique quieta... — Peço. — Olhe para mim.

Ela obedece, ainda respirando com dificuldade e vai se acalmando aos poucos.

— Sugiro que a leve para o hospital agora mesmo, ela precisa se hidratar com urgência — Diz o médico.

— Não até chegarmos em Dover. — Falei.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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