A negação de aceitar seu destino parte l.

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♥ Valentina Becker ♥

Meu cérebro parece que foi tirado da minha cabeça e jogado numa máquina de lavar. Minha visão está turva e não consigo ver nada com clareza, só consigo sentir o cheiro. Uma colônia doce que me enjoa os sentidos e teima em me deixar em cima do muro, entre o sono profundo e a consciência completa.

Eu ouço vozes de homens como se estivesse debaixo d'água, tudo parece um borrão e não consigo mexer meus braços e pernas. Sinto uma mudança de temperatura, estou confusa.
"Abra os olhos", peço a mim mesma. "Reaja, Valentina!"

Tento me concentrar no que vejo, tudo balança e tenho a sensação de movimento. Tenho a impressão de 

Lembro-me da sombra em pé na cozinha de Klaus e sinto meu coração acelerar.
— Quanto você deu a ela? — pergunta uma das vozes.

— O suficiente para não dar trabalho por mais algumas horas — respondeu outra voz ao meu lado, muito mais fria e grave. Minha cabeça cai para trás e vejo apenas de relance os fios loiros contra a luz e olhos azuis se virando na minha direção, quase piedosos. E então tudo se apaga de novo.

***

Desperto ainda pior. O mundo inteiro parece girar ao meu redor e pela dor de cabeça que sinto, muitas horas devem ter se passado. "Onde?". Forço-me a erguer o corpo apenas para me arrepender, um enjoo forte revira meu estômago e ainda tenho a sensação de "cérebro solto". Aperto os olhos para adaptar minha visão e só consigo ver um amplo quarto claro, mais bonito do que qualquer lugar em que já estive.

A luz pálida entra pelas portas de uma varanda gigante. Arrasto as pernas para fora do colchão, apoio numa mesinha de cabeceira onde acho um par de comprimidos e um copo d'água que ignoro por medo.

Sigo apoiada nas paredes brancas, me arrasto até as portas da varanda e me surpreendo ao ver um imenso gramado cortado por uma estrada de terra e cascalho. Mesmo no inverno, ainda posso ver o verde por baixo dos montes de neve.

O guarda-corpo de mármore me indica que estou pelo menos a dois andares do chão, onde a neve rala ainda não consegue chegar. Minha respiração quente faz o vidro embaçar.

— Bom dia, Valentina.

Viro-me imediatamente e quando meus olhos encontram os dele, meu corpo inteiro gela.
"Não pode ser..."

Que droga! Estava tão boa a minha vida até hoje, a aparição desse homem foi uma maldição. Ele parado bem na minha frente com uma rosa vermelha nas mãos, e só se passa uma coisa na minha cabeça:

Isso está mesmo acontecendo? Meu corpo está petrificado, até minhas mãos aquecendo meus braços contra o frio param ao ver esse ser desprezível. Não consigo sair do lugar.

— Onde eu estou?

— Não é óbvio? Está em casa, meu bem. — Aos poucos meu corpo reage e volta ao normal. Começo a dar alguns passos, recuando. Eu não estou acreditando, num minuto eu estava bem em Munique com minha vida entrando nos trilhos e no outro estou diante desse desgraçado.

— Como você me encontrou?

— Eu poderia te contar, mas isso não é relevante no momento. — Ele tenta se aproximar e, por reflexo, levo a mão às maçanetas da porta da varada. Abro-a com esforço para escapar. Não planejei bem o que vou fazer, talvez correr sobre o gramado e tentar identificar onde eu estou. Não parece a opção mais inteligente, porém não posso ficar um minuto na presença desse maldito.

Usando apenas um pijama simples que não lembro como entrou em mim, corro descalça e pulo o guarda-corpo. A queda é rápida e caio sobre um monte neve. Sinto uma dor imensa em meu pé devido à altura. O chão é gélido e molhado.

Mancando, dou passos com cuidado, sentindo a chuva e o frio beliscando minha pele.
Trombo com um homem alto e musculoso, uma parede preta idêntica à que encontrei na cozinha de Klaus, mas sem uma balaclava assustadora.

Debato-me tentando me soltar dele, mas sua pegada é forte demais, ele é o dobro do meu tamanho! Ele me segura pelos braços, mas parece tomar todo o cuidado para não me machucar, virando-me de costas para ele e de frente para o homem de terno que vinha em minha direção.
Ele caminha como um felino, devagar e ameaçador com a porcaria de uma rosa entre os dedos!

— Solte-a Erik.

O homem afrouxa os meus braços, e me desvio dele de imediato.

— Acho que você já conhece o senhor Erik Ludwig — Diz Marcelo com um sorriso. Me viro para a montanha que impediu minha fuga. É um homem loiro de olhos azuis tão frios quanto o ar em volta, e encara meu algoz com intensidade furiosa. Muitos devem odiar esse homem, sendo assim, por que fazem o que ele manda? — Ele fez o favor de trazer você para mim.

A fúria sobrepõe o torpor do sono, e, sem pensar, minha mão aterrissa em sua face tão forte que o estalo ecoa alto e faz a cabeça dele se virar para o lado. A risada de Marcelo ao fundo e os olhos azuis se voltando para mim me dá um arrepio.

— Você matou o Klaus?

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

P.S: Valentina teve um primeiro encontro nada agradável, essa fúria e seu ódio por Marcelo será que vai durar por muito tempo? O tempo e a convivência com esses homens a fará mudar seu modo de pensar? Para descobrir continuem comigo e vamos ver o que o destino tem preparado para esses 3. Paz e luz no coração das minhas lindas amoras e meus cravos. Boa leitura.

Sem EscolhaWhere stories live. Discover now