Descobrindo qual o interesse de Marcelo.

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♥ Valentina Becker ♥


Eu não bebo, mas parece que estou de ressaca. Minha cabeça está pesada e doendo... Obviamente é porque chorei muito e quase não dormi, e os efeitos do sedativo ainda se recusam a aliviar. Fiquei rondando meus pensamentos a todo momento no que meu pai fez comigo, e no que devo ter feito para merecer tal coisa. Nada justifica isso, nem mesmo uma vingança por ter sido abandonado. Ele foi o causador de tudo isso, e eu nem sei onde ele está e como se parece agora.

Um medo repentino acelera meu coração pensando nas horas anteriores. Eu dei um tapa num homem enorme que poderia me quebrar ao meio, provoquei Marcelo e poderia ter levado um tiro ou acabado numa vala. Mas isso não aconteceu. O que quer que aquele cara esteja "planejando" deve ser importante demais para ele, e duvido que irá me beneficiar.

Esfrego meus olhos, mal posso abri-los, a claridade do sol entra pelas cortinas. Uma tortura para minha vista exausta, então me enfio embaixo do travesseiro largo para tentar bloquear a realidade mais uma vez. Fico aqui, na esperança que essa dor de cabeça vá embora, que esse quarto suma e eu acorde na minha cama, na minha Berna fria e sem graça.

Não demora muito pra eu sentir uma mão tocando meus cabelos, chamando por mim. Eu não preciso nem me mexer para saber que é Marcelo . O cheiro dele o denuncia.

- Val... Valentina, acorde. - Ele balança meu corpo sem parar.

- Já estou acordada...

- Bom dia, levante-se e se arrume, você tem vinte minutos para descer e tomar seu café.

Retiro a cabeça debaixo do travesseiro e com certa dificuldade consigo encará-lo. Ele usa uma calça jeans marinho com partes mais claras na região da coxa, veste uma camisa lisa e escura e usa um sapato preto muito lustroso, talvez formal demais para o resto do visual.

Seus cabelos estão molhados, é notório que ele acabou de sair do banho. Se eu olhar muito tempo, posso até me convencer de que Marcelo Clark saiu de uma revista de moda. Se ele não fosse um doido varrido...

- O que foi? - pergunta com um pouco de sorriso. - Gosta do que vê?
Deixo meu rosto cair de novo no travesseiro.

- Eu te odeio... - Minha voz sai abafada e exausta. Marcelo, pelo jeito, se acha a última bolacha do pacote.

- Não precisa ter vergonha, pense que logo isso tudo será seu.

Eu lanço um olhar descontente e mostro a língua.

- O que quer dizer com isso? - Pergunto para ter certeza se é mesmo o que entendi.

- Quero dizer, se apresse.

Ele abre um sorriso e se levanta da cama.

Saiu do quarto fechando a porta atrás de si, me levanto e vou até minha mala e escolho uma roupa qualquer. Vou para o banheiro, me olho no espelho e me assusto... Eu estou horrível, meu cabelo descolorido e branco parece um emaranhado de teias de aranha. Se Marcelo Clark ainda quer alguma coisa depois de me ver assim, devo cumprimentar sua força de vontade.

Para acabar com a cena horrível que me deparei, entro no banho, lavo meus cabelos e me troco. Coloco uma calça jeans, uma camiseta branca. Por mim, sinto a necessidade de fazer uma make leve para disfarçar a noite mal dormida que tive.. arrumo minhas coisas na mala e repasso mais uma vez para ter certeza que não estou esquecendo de nada. Saio do quarto rumo a sala de jantar.

Quando estou chegando, vejo uma mesa posta próxima das janelas imensas. Cheesecake, bolo de chocolate, pães, frutas, queijo, suco de cenoura e iogurte.

- Não conheço seu gosto ainda, então mandei preparar diversidades para você.

Marcelo está na cabeceira com o bule de café em mãos. Ele deixa sobre a mesa depois de encher sua xícara. Olho para fora e vejo a silhueta do homem loiro, Erik, parado com as mãos à frente do corpo e olhos fixos na cena. Está vestido como um segurança todo de preto, uma arma pesada pende pela lateral de seu corpo. Ele me encara, e desvio o olhar na hora.

- Vem, sente-se. Vamos comer - diz Clark. A única outra cadeira estava à sua direita. Sento-me ao seu lado e, um pouco sem jeito, pego um pedaço de bolo de chocolate com suco de cenoura. - Espero que tenha dormido bem.

- Não quero conversar, não aja como se não tivesse feito o que fez.

Ele não reage, o que me deixa ainda mais assustada.

- Valentina, Valentina... - Diz quase cantando. - Eu disse que não queria fazer nada como um monstro, mas não teste a minha paciência.

O homem de tocaia em Berna, chega e nos cumprimenta e vai logo pegando as bagagens e levando escada acima. Malas que eu não fazia ideia do que tinha dentro, mas pareciam femininas. Outra mulher moraria aqui? Ao ver minha expressão ele diz:

- São suas.

- Eu não teria tantas malas nem acumulando roupas por uma década.

- Agora tem. Quero você bem vestida, apresentável.

- Preciso usar grife para esfregar o chão? - pergunto e ele me encara com o cenho franzido. - Não foi para isso que me trouxe para cá? Para me escravizar ou algo do tipo?

Minha crença ingênua ainda mira nos serviços domésticos para aplacar o medo de ter sido reivindicada por outros propósitos.

- Escravizar? Você gosta desse tipo de coisa? - Pergunta com um olhar ligeiramente malicioso.

- Não foi o que eu quis dizer.

- Quando eu disse que tinha planos para você, estava me referindo a outras coisas. Estava tão louca ontem à noite que nem tive tempo de explicar o que exatamente você está fazendo aqui.
Largo a faca que segurava, fazendo um tremendo barulho na louça.

- Não pode estar falando sério.

- Mais sério impossível - afirmou colocando a xícara de volta no pires. - Você não pensou que eu fosse desperdiçar uma beldade como você no meu chão, pensou? Embora imaginá-la ajoelhada nele seja, no mínimo...

Levanto tão bruscamente da cadeira que ela se arrasta para trás com um ronco. Marcelo continua inabalável, enquanto sinto meu peito se apertar. Eu sou jovem demais, não tenho a menor ideia do que é ser tocada ou... Pior! Meu primeiro beijo não pode ser com uma pessoa desprezível como ele, só pode ser brincadeira... isso é horrível!

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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