UM NOVO SÓCIO.

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♠ Marcelo Clark ♠


O castigo parece ter funcionado bem, Valentina está mais mansa, e tem se dedicado à reforma do nosso ninho de amor. Com isso, ela tem me procurado constantemente para me consultar sobre os pedidos que faz ao arquiteto, e essa aproximação está me fazendo ter umas boas ideias.


Sou tirado dos meus devaneios com alguém batendo na porta. Arlete anuncia que Frank Azzarello quer me ver. Mando ela liberar a entrada e o cumprimento.


- O que o traz aqui, Frank? - Indaguei me afundando na cadeira.


- Estou aqui a negócios. Fiquei sabendo que anda se movimentando e não estou a fim de ficar do lado fraco da corda. Quero apenas uma fração do seu sucesso e ofereço o que tenho de melhor.


- E o que seria?


- Os lugares onde a inocência é superprotegida...


Um código para "escolas". Azzarello era ótimo em recrutar jovens para vender, não lucrava muito com isso porque sua mercadoria era ruim, mas conseguia penetrar onde eu não conseguia e até então nem me interessava em fazer por precaução.


- Soube que você está se armando até os dentes, por quê? - Pergunto.


- Sou muito jovem para morrer, velho demais para não ser rico. - Respondeu o inesperado visitante.


- Se quer fazer negócio comigo, quero suas armas. Sei que você tem parceria com os Strauss, e seu armamento é todo deles. E é exatamente o que preciso - Jogo com ele que solta sua risada escandalosa.


A garotada adora maconha, quando crescerem as chances de cheirarem a coca que eu produzo será muito maior, por que não lucrar logo com isso?
Os funcionários dele com a minha mercadoria, seria uma parceria interessante a longo prazo.


- Quanto você quer? - pergunto.


- Vinte e cinco por cento.


- Quinze - determino com os braços cruzados.


- Vinte, e considere as armas meu presente de boa-fé.


- Sabe que vai ter que deixar sua covardia na porta se quiser entrar, não sabe?


Frank é um cagão, sempre foi, era bom vendedor, mas não bom administrador. Felizmente eu sou bom nas duas coisas e posso carregá-lo nas costas por um tempinho antes de decidir me livrar dele, no mais, são mais porcos para o abate, mais escudos na frente do meu corpo quando eu atacar o coração de Kozlov.


- Ser reconhecido no mercado é mais tentador, e todos precisam correr risco alguma hora.
- Quer correr o risco de estar no fogo cruzado? - pergunto, confesso que estou esperando uma manifestação de hesitação.


- E precisamos?


- Claro que precisamos, quero estar lá pessoalmente para dar um tiro em Kozlov e mostrar ao resto daqueles russos desgraçados quem manda nessa cidade - Senti um leve estremecer no outro homem. - Considere isso uma prova de fogo, Frankie.


Pelo tremor em seu nariz soube que ele não gostava de ser chamado assim. Mas eu não estou realmente me importando com isso, até que uma ideia me ocorre.


Azzarello é um covarde, esconde-se atrás de uma parede de homens enormes e armamento pesadíssimo, ele seria útil para reforçar a segurança de Valentina e do filho durante o ataque que o colocarei muito em breve. Com toda certeza, eu sairei ganhando mesmo se ele morre no meio da coisa toda.


- O que me diz? Ficar rico ainda parece atraente?


Frank não demorou a apertar minha mão e selar o acordo. Dei alguns detalhes, pedi que comparecesse à sede fora da cidade para entregar o carregamento de armas e se inteirar dos planos com meu armeiro.


Quando meu mais novo sócio vai embora, lanço um olhar para Erik, ele está no canto assistindo à conversa ao lado de Luke, que sussurra algo aparentemente engraçado na privacidade da distância. Ele não ri muito e não parece estar se referindo a mim, mas ao convidado. Vejo no semblante de meu amigo alemão a desaprovação, a raiva... A impotência por estar à minha mercê como todo o resto das pessoas em breve estaria. Agora eu tenho tudo o que quero na palma da mão. Valentina e Erik. Quero que morra de culpa por ter colocado uma garota tão jovem nas minhas garras e ter sido enganado por mim. Essa é a minha vingança pelo, o abandono de um melhor amigo, e ela está sendo doce.


- Ele vai trair você - diz John mais tarde em meu escritório. - Sinto cheiro de rato a quilômetros.


- Você e seu olfato aguçado. Erik não pode fazer isso sem acabar procurado pela INTERPOL pelo resto da vida, isso é suficiente para mantê-lo na coleira.


- Ludwig não é idiota, Marcelo.


- Tem razão, e é por isso que ele não vai fazer nada.


Ficamos por um instante em silêncio. John está trabalhando como nunca, me aconselhando em tudo, porém, nessa parte eu prefiro cuidar sozinho. É algo pessoal demais para que eu deixe nas mãos de outra pessoa ou não decida por mim mesmo.


- Tire uma folga, John. Fez um bom trabalho - falo com sinceridade, então ele se levanta e abotoa o terno, despedindo-se com um aceno de cabeça.k


Tudo está se acertando, os acontecimentos se desdobram em minha imaginação quase com precisão cirúrgica.


***


Valentina está espetacular.


Desce a escada devagar amparada pela mão de Erik e por um segundo não sinto o ciúme que deveria. Ambos me olham com nem mesmo um lapso de cordialidade ou sorriso. Me satisfaço ao saber que é porque estão tão presos a mim. Enquanto a cena se desenrola, resgato na memória o gosto longínquo da boca de Valentina e o misturo com o sabor delicioso do sexo. É mais do que posso aguentar e nunca me senti tão poderoso quanto me sinto ao pensar nisso. Talvez seja essa a sensação mais próxima de ser Deus.


Pego o braço de minha esposa com cavalheirismo, pois quero seguir à risca os bons modos para que ela tenha uma noite agradável. O que vai acontecer nesse jantar, o que Valentina vai dizer e fazer, me contará o que eu quero saber.


Já estamos na metade do caminho, no banco de trás do carro, quando ela pergunta, não especialmente curiosa:


- Em que restaurante vamos?


- Ao nosso.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

Sem EscolhaWhere stories live. Discover now