A AUDÁCIA NO JANTAR ll.

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      ♠ Marcelo Clark ♠


— Não tenho muito o que dizer além do fato de achar que você é um completo psicopata. Se quer que eu seja ainda mais sincera, você não é tão ameaçador quanto aparenta. — Ergo uma sobrancelha com a audácia dela e não para por aqui.


— Quando apontou a arma para a minha cabeça na mesma semana em que cheguei, tudo o que você queria era assegurar sua dominância na frente dos seus homens e da sua puta, não queria me matar de verdade.


Valentina fala, mas olhando diretamente para mim e por um milésimo, não vejo a garota ingênua que sequestrei em Berna, ou a menina inocente de quem rasguei a roupa.


— Ao perceber que eu genuinamente queria morrer, você hesitou. Não tem a mesma graça, não é?


Estava me provocando abertamente com um sorriso malicioso e esperto que se esconde por trás da taça de champanhe, ainda longe dos lábios. Não tínhamos feito o brinde e eu não sei ainda a quê brindar com esse julgamento tão explícito sendo esfregado na minha cara com tanta ousadia.


— Ah é? Posso tirar minha pistola da calça agora mesmo e estourar a sua cabeça antes que o primeiro prato chegue — falo tão calmamente quanto ela. — Parece se esquecer constantemente que tenho sua vida em minhas mãos.


— Você é um mandante, Marcelo. — conclui, encarando as pequenas bolhas subirem pelo vidro.  — Não um executor. Erik Ludwig é um executor, e é por isso que também detém poder sobre ele. Sem esse homem, você vai falhar. Eu poderia ter o trabalho de destrinchar porque ele te tira do sério, mas não estou interessada.

Faz uma pausa brincando com a taça com aqueles seus dedos longos e bonitos, o anelar enfeitado com a safira que coloquei ali.


— E você tem razão, pode me matar quando quiser, mas e depois? — pergunta com um jogar de ombros displicente. — Iria tentar meter um filho em alguma daquelas vadias que despreza? Nem consigo me lembrar o nome delas.


O tom de voz dela é mais calmo do que um lago no inverno, mais afiado que o gelo que o cobre.
— E qual a sua brilhante conclusão, Valentina Clark? — pergunto. O rosto dela se contrai minimamente ao ouvir meu sobrenome combinado ao dela, divirto-me com isso.


— Você me deseja porque não pode me ter. Embora você detenha o poder de tirar ou manter minha vida, sabe que ganhar a mim, de corpo e alma, é praticamente impossível. Não sou apenas sua escolhida, Marcelo, sou seu objeto de desejo. Assim como suponho que Erik Ludwig também seja.


Eu fico nervoso a cada segundo, a cada palavra proferida por essa maldita garota esperta. Ela sabe daquela noite a 3 com Ludwig? Não... Não poderia, ele não contaria e ela não deduziria isso olhando apenas uma foto de infância. Era um blefe, um muito bom. Um quase perfeito.


— Você também se esquece do prazer que sentiu naquela cama e de como aquilo pode colocar toda essa sua marra por terra, Valentina. Não seja boba, você também deseja aquilo, está tão à mercê do prazer quanto eu do meu desejo por você.


Ela se permite um sorriso e apenas isso me excita. O que está acontecendo? A expressão de serenidade e controle no rosto dela é assustadora, mas também muito atraente! A troca de argumentações tem embasamento, desafio, e isso me excita. Quando conheci Valentina, não passava de uma adolescente franzina e assustada com tudo, forçada a uma vida diferente da qual estava acostumada só porque eu queria me vingar do pai desgraçado dela. Aterrorizada com a perspectiva de perder seus pais, sem ação. Agora, parece outra pessoa.


Ela ainda contínua de mãos atadas, e mesmo assim, ainda consegue parecer incrivelmente poderosa. A imagem dela nessa posição inunda meus pensamentos. Mordo meu lábio inferior por reflexo.


— Você tem um ponto de vantagem, eu admito. O que houve na cama foi... — sua pausa é como um triunfo para mim — intenso. Mas isso não assegura um bom negócio duradouro.


— Negócio? — repito quase escandalizado, com um sorrisinho de canto olhando-a. Quem ela pensa que é?


— É, Marcelo. Negócio. Não achou que eu fosse ter um filho seu apenas porque assinei a porra de um papel.


— Na verdade, pensei sim. Você é minha, Valentina. Legalmente minha.


— Uhum... Mas eu também ainda sou minha, querido. Essencialmente minha. E você sabe que tudo nessa vida tem um preço.


Guardamos silêncio por alguns minutos enquanto eu tento interpretar o que caralhos está acontecendo nessa mesa! O que ela está tentando fazer? Por que está falando comigo como se entendesse tudo, como se fôssemos iguais?


— O que você pretende com essa conversa, Valentina? Porque nada do que disser vai livrá-la do que vamos fazer quando chegarmos em casa...


— Eu sei que não, mas esse não é o ponto.


— Então diga...


Com uma pausa muito dramática e aqueles olhos maquiados sensuais rolando pelo meu corpo até a taça e depois de volta ao meu rosto, mais sedutora que nunca, ela responde:


— Quero fazer um acordo. Quero te dar o meu preço. — Um risinho escapa, mas ela não me acompanha. Continua séria e com o foco em meu rosto.

— Um acordo? Que tipo de acordo você pensa que pode fazer comigo? — questiono, totalmente descrente e impressionado novamente com tamanha audácia.


Então ela apenas sorri, pegando a taça na intenção de bebê-la.


— Discutiremos os termos quando chegarmos em casa — respondeu e deixou sua ironia gostosa enfeitar seu tom de voz. — Agora, seremos apenas nós dois, meu amor.


O mordomo chega com um apetitoso ceviche de lagostim e Valentina simplesmente dirige toda a sua atenção e entusiasmo a ele.


***


O jantar transcorreu mais calmo do que pensei. Quando esperei receber alguma resposta malcriada, Valentina me ofereceu apenas um delicioso sarcasmo do qual eu só havia visto lapsos em nossas discussões. Nessa noite, ao contrário de todas as outras, não houve hostilidade.


♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦


P.S: Valentina com esse novo temperamento está muito poderosa! Não acham? Vamos ver como fica esse jogo de troca de farpas. Aguardem o próximo capítulo, grande beijo.

Sem EscolhaWhere stories live. Discover now