BUSCA POR RESPOSTAS 2

50 7 1
                                    


♥ VALENTINA BECKER ♥

"Bunker"?

Ele desliga o telefone, mas não fico para saber o que vem a seguir. Pouco me importa depois de ontem à noite, eu só quero distância de Marcelo. Sigo na ponta dos pés para a biblioteca notérreo, termino a torrada e vou direto para o lado das prateleiras, onde lembro ter visto os livros.

Uma coleção verde em capa dura, com enormes letras douradas já quase apagadas, "Estudos Completos: Fisiologia Humana". Tive que abandonar vários volumes sobre neurologia, e descer pelos sistemas respiratórios, digestivos, desviar das fotos reais de vísceras em operações até chegar no que eu queria.

Palavras novas e técnicas pulam sobre meus olhos, desenhos e "mapas" indicam as partes em que fui tocada na noite anterior. Num parágrafo muito polido e formal, está explicado que aprimeira relação sexual dói para a mulher, e que para haver uma penetração completa o pênis do homem deve estar rígido.

Pensei na coisa macia que Marcelo arrastou pelas minhas nádegas, os pontos ainda não se ligam, mas era óbvio que aquilo não era o que deveria acontecer."O órgão sexual masculino precisa estar devidamente estimulado para que a relação ocorra. O manuseio do membro pode levar a um estímulo mais eficaz e rápido por meio da masturbação". Precisaria avançar algumas pá-ginas para descobrir o que é e me sinto uma criança. Eu deveria saber essas coisas! Pelo menos o básico delas. Só não sei se aquele conhecimento teria me deixado mais apavorada do que preparada. Há muitas informações, mas são tão recatadas e vagas demais para as minhas perguntas. Afinal, eu ainda era uma virgem ou não?

Não sei se passei minutos ou horas, mas minha atenção só se desvia das páginas quando ouço som de carros na entrada.

Acompanhada do livro, vou até as portas que dão para a frente da casa e vejo Marcelo entrando num deles. Dave o acompanha junto de alguns dos rapazes que patrulhavam a propriedade mais cedo.

Os veículos arrancam tão rápido que me pergunto se tem a ver com o homem da festa, e sinto um arrepio ao me lembrar dele e seu sorriso de vampiro no escuro.  "Tomara que esqueça da minha existência", penso e fecho o livro com um baque pesado.

Viro-me com impaciência, esticando as pernas num passo largo de volta para minha pesquisa e bato o nariz numa parede preta com cheiro de tecido e desodorante, deixando o volume grosso cair sobre as botas pesadas.

— Meu Deus, por que não bateu antes de entrar? — pergunto, massageando meu nariz dolorido. — Quase me matou de susto!

Não sou rápida o suficiente e, quando percebo, Erik já se abaixava para pegar o livro do chão. Nem mesmo consigo impedi-lo de ler a capa e ver do que se trata, mas seu semblante parecesombrio ao ler as palavras e ao me olhar quando me devolve.

Ele é sempre tão sério, mas de longe se parece com o homem que está na minha frente. Nunca estivemos tão próximos, parece diferente, como se estivesse desapontado, irritado comigo.

— Só vim avisar que Marcelo precisou retornar à cidade, volta amanhã de manhã para ficar com você. — A voz dele não tem o menor sinal de gentileza, é dura como o aço e gelada como o vento.

Pego o livro de volta e o assisto dar as costas. Ele sai da biblioteca sem me olhar uma única vez, sem dizer nada.

Por instinto, o sigo, deixando a enciclopédia num sofá, mas paro no topo daescada, apenas assistindo-o cruzar o corredor do primeiro andar enquanto tira a alça da arma longa do pescoço e entra na última porta solitária. Agora, mais uma pergunta é adicionada ao meu hall.

Por que Erik está irritado comigo? O que eu fiz? Sinto um arrepio de vergonha ao pensar novamente no sonho, em como ele me olhava com ternura muito diferente de Marcelo emquem sempre há malícia.

Isso me assusta nele, me aterrorizou ontem à noite. Encaro o livro outra vez. Não conseguirei saber o que preciso e minha vontade de entender o que senti é mais forte que o constrangimento de ter sonhado com uma vida bonita.

Com um pensamento egoísta na cabeça, tomo caminho até aquela porta.Ele tinha de me responder. Checo se não há ninguém naquele andar vigiando meus passos, e já diante da enorme porta entalhada, bato duas vezes.

Quase um minuto inteiro sem resposta, então bato outra vez, mais forte.Ele não parece querer dar o braço a torcer, então fecho o punho e quando o desço em direção à madeira, a porta se abre de supetão.

Erik parece estar de saída, ele puxa sua camisa cinza de mangas compridas para baixo, como se tivesse acabado de colocá-la no corpo quando me vê. Meu olhar se prende por um momento com a luz que caiu sobre seu abdômen emoldurado.

Músculos muito definidos e quadris estreitos. Meu rosto esquenta, minhas mãos suam e quero que o chão me engula.

— O que você quer, Valentina? — pergunta, ainda frio.

— Eu... — Minha língua trava e não sei o que dizer, até que a impaciência vence e resolvo soltar tudo. — Preciso da sua ajuda com uma coisa particular. Posso entrar?

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

Sem EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora