BUSCA POR RESPOSTA 1

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♥ VALENTINA BECKER ♥

Marcelo não voltou ao quarto, fiquei confusa e aliviada. Só consegui pegar no sono três horas depois, ao ter certeza de que dormiria sozinha.

Abro os olhos e percebo que ainda é cedo. O acontecimento ainda ronda meus pensamentos. Minha mãe nunca falou quase nada a respeito disso comigo, eu também nunca me mostrei interessada nesses assuntos para não constrangê-la, ou a mim mesma. Eu só sabia que doeria quando acontecesse.

O beijo babado do homem foi apenas um momento de curiosidade. Percebi que sabia muito pouco sobre meu corpo.  Eu suspiro pesado com vontade de chorar recordando decomo reagi àquilo!

Reagi a ele! Gostei do que senti antes de entrar em pânico e cair na real! Nada poderia apagar aquilo. Não consegui tocar o lugar para saber o que tinha feito, fiquei com medo, e agora, sob a luz da manhã, a apreensão falou mais alto.

Tinha doído quando ele colocou os dedos e eu precisava saber se eu ainda era virgem. Com um nervosismo fora do normal, levo minha mão dentro do short, me aproximando de mim mesma como se não fosse eu. Está meio úmido, como se estivesse secando e está um pouco diferente do que me lembro, não está mais tão fechada.

Aperto um pouco onde ele "invadiu" e sinto o rastro de dor. Não tenho certeza se ainda estava lá, ou se o que Marcelo fez tinha me tirado de vez a inocência. Sento-me na cama tentando despertar por completo, e no segundo seguinte, ouço uma batida na porta.

— É Helga! — diz a voz do outro lado, e permito a entrada, me arrumando sobre a cama, e sinto tudo rodar. Ela abre a porta e traz uma bandeja prateada, apenas identifico os objetos quando ela os coloca na mesinha de cabeceira. Ela olha com um meneio de cabeça a agulha do soro que antes estava em meu braço.

— Você mesma arrancou? — pergunta com voz doce e respondi que sim. — Posso ver seu braço?

Mostro onde estava dolorido, um furo arroxeado indica o acesso. Helga pergunta coisas comuns como "se estou bem",  "se estou com alguma vertigem" ou se "me sinto fraca". A febre não retornou desde a noite anterior, embora minha cabeça ainda doa, não me considero tão mal.

— Na verdade, estou com fome — digo e ela dá um sorriso.

— Quer que eu traga até o quarto?

— Marcelo está lá embaixo? — pergunto um pouco apreensiva.

— O senhor Clark está no escritório dele, irá tomar café lá.

Assinto com a cabeça e peço a ela para trazer a comida aqui. Preciso de um tempo para pensar, de silêncio para raciocinar e tentar achar alguma resposta. Ela volta com a comida e passo umaquantidade generosa de manteiga numa torrada, meu estômago agradece, e sinto-me um pouco mais disposta ao tomar uma xícara de chá.

Ainda fico revivendo o momento em que Marcelo me virou de bruços sobre aquela mesma cama, e de como não consegui manter a calma sabendo que sentiria dor. Mas por que ele parou? O que tinha acontecido para deixá-lo tão perturbado?

Minha dúvida se ele tirou minha virgindade me deixa angustiada. Eraassim que acontecia? Preciso de respostas, e perguntar ao agressor é inviável.A biblioteca! Lembro-me de ter visto algumas enciclopédias sobre Anatomia e Biologia, é possível que eu encontre o que estou procurando numa daquelas páginas.

Saio do quarto ainda de pijama como se fosse uma fugitiva com a última torrada emmãos, pisando leve sobre o carpete aquecido. Passo em frente ao escritório de Marcelo e sinto meus músculos tensos, a porta está entreaberta e consigo ouvir sua voz vindo de lá.

— Não, eu quero estar presente. — diz e imagino que esteja falando ao telefone. — Ludwig está aqui para isso e duvido que tentem invadir a casa com tantos homens de guarda.

Ele dá uma pausa longa e então espicho o pescoço e identifico a silhueta alta e larga do dito cujo, em pé como uma árvore na frente da mesa. A parte de baixo do meu estômago se arrepiapor dentro quando lembro da cozinha em Berna e do beijo dele.

— Por que não levá-lo? — Um risinho. — No xadrez, os peões sempre vão na frente, John. Estou voltando a New York com Dave e um comboio pequeno, prepare o Bunker para recepcionar o convidado. Obrigado.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

Sem EscolhaWhere stories live. Discover now