Remoendo os acontecimentos.

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♥ Valentina Becker ♥

— Aonde vai? — pergunta Marcelo atrás de mim, mal percebo que estou caminhando para longe dele, subindo rápido a escadaria. Mas para onde? Aquele corredor enorme era cheio de portas e eu nem conseguia decidir em qual entrar! — Valentina!

— Por favor, me deixe em paz! — Meus pés são quase acariciados pelo carpete vermelho do chão, e eu sou encarada pelos quadros nas paredes, pela decoração suntuosa da mansão.

Levo as mãos às portas duplas no fim do corredor, procurando o ar gelado da varanda, se eu sentir frio talvez possa me imaginar de novo em Berna, posso pensar melhor, mas elas não cedem quando as puxo.

Sinto as mãos de Marcelo agarrarem meus ombros e me virarem, encontro o par de olhos castanhos amendoados, me encarando de cima para baixo, seu rosto é sério. Tento me desvencilhar, porém não consigo. Ele é tão forte quanto Erik, sinto-me tão impotente… Desesperada.

— Por favor, não faça isso… Eu prefiro limpar mil chãos… — Talvez se eu implorar ele fique com pena de mim e me dê apenas um trabalho idiota nessa casa, mas tudo o que vejo é que está ofendido com minhas palavras.

— Não prefere, não. Olhe para mim! — ordena, me segurando firme pelas mechas de cabelo da nuca, forçando-me a encará-lo. Minhas costas bate no vidro da porta, ouço o craquelar como se um colar de pérolas houvesse caído ao chão.

— Eu disse que não vou fazer isso como um animal, Valentina, mas se continuar a fugir de mim, é assim que serei forçado a me comportar.

Sinto-me fraca, emocionalmente esgotada e com medo.

— Pense no que vai ganhar com isso, e não o contrário…

♠ Marcelo Clark ♠

Ela me encara e tenta transparecer que não está assustada, porém, eu sei que está apavorada. Suas pernas estão trêmulas, rentes às minhas coxas, pressionadas firmemente contra a porta.

O calor dela é uma delícia. Seus lábios estavam secos. Quanto mais ela passa a língua para umedecê-los mais vontade tenho de possuí-los.

É tentação demais! Dessa vez, não me contenho, seguro sua nuca e encosto minha boca na dela. Valentina se debate e me dá tapas nos ombros tentando se afastar, seguro mais firme sua cabeça impedindo que ela vire o rosto.

— Pare de se mexer.

Inicio o beijo, peço passagem com a minha língua, mas ela é firme e não me concede, mas continuo. É um beijo forçado e difícil, mas ao mesmo tempo me deixa excitado.

Seus lábios tem o gosto do suco de cenoura que ela tomou no café e aos poucos sinto-a abrir a boca para mim.

Na hora que parecia estar cedendo, sinto uma dor imensa em minha virilha! Cacete! Ela me dá uma joelhada, eu a largo de imediato e me curvo, tentando amenizar a dor.

— Porra!

— Fique longe de mim! — grita ela.

Seu calor e seu cheiro escapam de mim, pois minhas mãos estão mais preocupadas em aliviar a dor do golpe. Entretanto me recupero, e saio atrás dela.

Consigo alcançá-la no fim do corredor, antes da escadaria, agarrando-a pela cintura e puxando-a sobre o carpete. Valentina não é forte, mas se mexe como uma cobra tentando rastejar para longe, com aqueles cabelos brancos espalhando-se pelo vermelho como estalactites finíssimos.

Com facilidade, posiciono-me entre suas pernas, e consigo agarrar seus dois pulsos acima da cabeça, forçando-os contra o chão.

— Quanto menos você resistir, melhor será. Você não tem mais opção, Valentina, quando vai entender isso? — Inclino ainda mais o corpo em sua direção, com a boca a centímetros acima da dela. Seus olhos estão marejados. — Próxima gracinha que você me aprontar, terei que fazer algo a respeito. E você não vai gostar, eu te asseguro.

Finalizo a fala e fico de pé. Olho para ela e a vejo corada, ainda com os olhos cheios d’água. Qualquer mulher em sã consciência iria querer ser fodida por mim, por que Valentina Becker seria diferente?

Ela é jovem, já deve ter experimentado alguma coisa, mas pelo medo em seus olhos, posso estar equivocado.

— Você já foi beijada antes?

Ela não me responde. Levanta e sai como um furacão passando por mim, entrando no quarto batendo as portas pesadas.
Será mais interessante do que pensei.

♥ Valentina Becker ♥

Acordo com a claridade do sol e um barulho de máquina no jardim. Fiquei nesse quarto pelo resto do dia remoendo os acontecimentos. Especificamente, tentando esquecer o beijo de Marcelo e sua língua enroscada na minha sabendo exatamente o que fazer, o modo como meu corpo reagiu apesar da recusa. Não é para ser assim, e me culpo por isso.

Eu me levanto e vou para o banheiro, tomo um banho relaxante. Por um segundo esqueço tudo embaixo da água quente, mas quando me dirijo ao enorme closet com muito mais roupas do que eu podia imaginar, penso que não posso dar esse gostinho a Marcelo.

Vou até minhas roupas antigas, as mesmas que cheguei e as analiso. Alguém teve a bondade de lavá-las e agora cheiravam aos ternos de Clark, talvez o mesmo amaciante ou algo assim.

Visto minha blusa fina e a calça, e coloco minhas botas de cano longo. Torço para que ele já tenha ido cuidar da própria vida para que eu possa ter uma refeição sem a companhia do sujeito. Não ouso passar um perfume sequer.

Passo pelo corredor onde ele me jogou no chão tentando não pensar nisso, e desço as escadas atenta aos sons da casa. Por favor, que ele tenha saído…

Não demora muito para Marcelo entrar no meu campo de visão. Há uma mulher ao seu lado. Bonita, do tipo “mulherão” com grandes seios preenchendo o decote e pouco quadril. Penso em apenas passar por eles sem dizer nada, mas, ao chegar no fim da escada, ela resolve me olhar de cima a baixo.

— Agora quer transformar sua casa em um orfanato? — O comentário me faz parar por um segundo.

Eu a olho com desdém e sorrio.

— Não se preocupe, uma casa que já abriga um bordel não é apropriada para criar crianças.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo ♣ ♥ ♠ ♦

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