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A van parou e todas desceram. Fui direto para a escada, queria cama, mais que tudo.

Fui pro quarto, peguei algumas coisas necessárias e me desloquei para o banheiro, me despi e tomei um banho relaxante. Um filme passava pela minha cabeça.

Assim que saí, escovei os dentes e fui pentear meu cabelo, me olhei no espelho e o susto foi imediato.

Valha-me Deus, que bruxa é essa? - caçoou meu subconsciente.

Sem pensar, dei um tapa na minha cabeça. Me arrependi.

— Aí, caralho!

Reclamei, sentindo a dor e massageando onde bati.

Aquilo havia doído, eu tinha que parar de dar atenção a esse intrometido, quer dizer, a mim mesma. Estava ficando pirando.

Voltei a me olhar no espelho, eu estava com os olhos grandes e inchados, havia olheiras enormes e saltadas. Um verdadeiro caco.

Ok, querido subconsciente, estou horrível mesmo, Deus me livre!

Sorri com meus pensamentos e saí do banheiro, as meninas já haviam tomado banho. Mirela, Manuela e Patrícia já estavam deitadas. Guardei minhas coisas e desci, precisava de uma água.

(....)

— Bu! não foi dormir ainda?

Brinquei ao ver Paloma na cozinha.

Ela estava sentada na cadeira, de cabeça baixa, suas mãos seguravam o cabelo, escondendo o rosto e havia um copo de leite sobre a bancada, à sua frente.

— Já estou indo.

Respondeu, com a voz baixa e arrastada. Estranhei.

Analisei um pouco seu rosto, ela levantou a cabeça e encarou o copo de leite. Estava chorando?

Paloma respirou fundo e engoliu em seco, algumas lágrimas desceram e ela limpou o rosto rapidamente.

Eu era péssima com essas situações. Fiquei ali parada, sem nem saber muito o que fazer.

— O que foi? você tá bem?

Perguntei, me aproximando.

Óbvio que não, burra, dã! — Ele não calava a boca nem nessas horas.

Desde que cheguei aqui, Paloma foi a que mais passava força para todas. Ela era um mulherão completo e agora estava ali, totalmente vulnerável e frágil. Fiquei preocupada.

— Nós não estamos bem, né?

Ela indagou, passando os dedos no copo de leite devagar.

— Precisamos acreditar que estamos bem, que vamos ficar bem, talvez, para termos força, esperança, mas...

Ela começou a soluçar forte, interrompendo a fala.

— Calma, mana, respira! Fica calma.

Ela me olhou, as lágrimas desandaram a cair.

— Tem horas que não dá, sabe? Eu estou com saudade do meu filho, morrendo, estou perdendo o crescimento do meu pequeno, estou com saudade da minha mãe, quero minha vida, minha família, sabe? Não aguento mais ficar presa na porra de uma casa contando as horas pro dia passar, pra que? Fazer um trabalho de merda, pra sabe se lá quando ser solta. Eu quero rever as coisas mais importantes que eu tenho. Estou no meu limite, aliás, já passei dele.

O desespero em cada frase dela foi nítido. Me emocionei junto. Tinha uma dor enorme em cada palavrinha que ela tinha soltado.

Eu nunca fui boa com conselhos. Não sabia lidar com problemas, toda vez que eu tinha um problema, apenas chorava. Não podia virar pra ela e falar: sim, estamos fodidas e na merda, chore!

Eu tinha comigo o que mamãe sempre me falava: Na dúvida, abrace sincero. Foi o que fiz. Sem dizer absolutamente nenhuma palavra, agarrei seu corpo apertado. Ela me retribuiu e soltou todo o choro.

— Seu filho tem uma mamãe forte. Sua mãe criou uma mulher forte. Você consegue, Paloma. Nós conseguimos!

Ela assentiu.

Quando ela se acalmou, subimos e nos deitamos, apagando em seguida.

La putaWhere stories live. Discover now