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Depois de alguns segundos, desviei meu olhar e suspirei. Todos sussurravam alguma coisa e eu tentei me manter fora de tudo aquilo.

Foda-se o sentimento!

Paloma me encarou, desconfortável. Não queria isso, não queria esse roteiro pra mim, de pena, de vítima, eu não queria.

— Você tá bem?

Ela sussurrou, novamente.

— Fica tranquila. Estou ótima.

Respondi, levando minhas mãos a cintura e inclinando minha cabeça. Era só mais alguns minutos e tudo acabaria, de uma vez.

Pensando no lado positivo, era só manter a calma. Eu não ô veria por dois meses, ficaria tudo bem, tudo iria passar. Isso, que eu achava que estava sentindo, ia passar.

Ou não... — meu subinho, querido, soltou a voz.

— Eu já sei que temos horário, não tem necessidade de ficar repetindo isso no meu ouvido. Tem como você esperar dez minutos pra eu finalizar o recado? Ou você quer ir sozinha? A porta está ali, Júlia.

Gustavo esbravejou, furioso. Júlia arregalou os olhos, na mesma hora.

— Calma, Gustavo. Não é assim que as coisas se resolvem.

Vitória repreendeu ele.

— Cala a boca você também, porra.

Ele insistiu na grosseria. Todas nós nos entre-olhamos.

— O que é isso? Tava tudo tão ótimo e agora isso? Me tratando mal na frente, na frente dessas, aí, dessas coisas. Na frente dos nossos amigos, na frente de todos. Se arrepende de alguma coisa? Me fale, eu não vou ser tratada assim!

Ah! Meu ovo, tudo o que eu queria era ficar assistindo briguinha de casal. Que saco!

— Qual é, gente? Deixa pra resolver os problemas de casal a sós. Vamos logo!

Vitor aconselhou. Gustavo respirou fundo, parecia que o corpo dele ia explodir, ele espremeu os olhos, passando a mão no rosto.

— Me esperem no carro, eu já vou.

— Mas môz..

— Agora Júlia, eu não tô pedindo. Vão!

Ela ô fuzilou com o olhar e sussurrou algo para ele que não deu para entender. Em seguida, saiu pisando forte enquanto resmungava.

Patrícia e Vitória foram logo atrás, debochando e rindo da situação.

Que falsidade com a garota. Cobras!

Assim que elas bateram a porta, Gustavo voltou a atenção para nós.

— Bom, como eu dizia, o trabalho de vocês vai continuar normalmente. As idas e voltas na van, vai ser com o Vitor. Paloma, quando eu voltar, nós vamos nos acertar, se você já tiver feito tudo como o combinado. O mesmo eu digo a Manuela, Mirela e a..

Gustavo parou, tragando a saliva. Encarei-o, por um descuido mas não consegui sair dali, seus olhos me prenderam.

— Você. Entendido?

Sussurrou, balançando a cabeça.

Meu coração estava forte demais a essa altura do campeonato. Esse efeito miserável. Não sei como alguém podia fazer um clima tão rápido e do nada, assim, tão facilmente.

— Entendido.

As meninas disseram, continuei em silêncio.

— Bom, era só isso, qualquer dúvida, falem com o Vitor. Vocês vão ficar bem?

Nossos olhos estavam grudados um no outro. Ficou perceptível que aquela pergunta final era só pra mim.

— Sim, senhor.

Paloma foi a única que respondeu e me cutucou com o braço. Acordei e saí dos olhos dele, desviando.

Droga! Dei bandeira!

Passei os olhos por todos ali e eles estavam com um ponto de interrogação no rosto. Todos sabiam que Gustavo jamais iria perguntar sobre o nosso bem-estar, ele estava pouco se fodendo para isso, na verdade.

Ele ficou alguns segundos ainda parado. Tentei fingir que não estava ali, e não estava me engolindo com seu olhar e sua presença.

— Irmão, você vem?

Gustavo perguntou a Vitor.

— Não, pode ir na paz. Vou ficar por aqui. Boa sorte, irmão, felicidades. To lá no dia, hein? Mais confirmado que a noiva.

Vitor brincou, dando um aperto de mão em Gustavo, seguido de abraço. Gustavo soltou um sorriso fraco, abraçando ele apertado. Logo, eles se soltaram e ele caminhou até a porta.

Eu estava ô encarando, sem querer, de novo. Minha saliva desceu rasgando ao vê-lo tocando a maçaneta.

Com tudo que foi dito e feito, eu queria que ele ficasse. Mais um pouco. Mais um dia. Mais um mês, mais um ano.

Cacetada Deus, eu já não pedi pra me tirar os contos de fadas?

Senti meu rosto arder, meu nó subiu a garganta. Não, eu me recusava. Fui em direção a escada, pelo menos, tinha acabado. Mas, confesso que estava um pouco ou, talvez, muito destruída, eu tinha muita informação dessa vez para vê-lo saindo pela porta normalmente, como das outras vezes.

— Gabriela?

Ouvi a voz de Gustavo me chamar, meu corpo tremeu e eu me arrepiei. Era estranho demais ir do zero a cem em segundos, só com um tom de voz. Eu nunca ia me acostumar com isso. Me virei, devagar.

— Sim?

Ele largou a maçaneta e veio caminhando em minha direção.

— Eu lembrei, hm. Eu esqueci de acertar uma coisa com você. Por favor, me acompanhe.

Falou ele, em meio aos tropeços. Mirela começou a tossir e Paloma esboçou um sorriso de canto. Eu? Fiquei sem reação.

Eu precisava de um pouco de ar, o meu tinha ido embora por inteiro.

Gustavo passou por mim e seguiu para a cozinha. Me controlei e as meninas fizeram sinal com a mão para que eu fosse logo, enquanto riam. E então, fui, logo atrás, passando por Vitor, que me olhava confuso.

Gustavo foi direto a porta do terraço e abriu-a, começando a subir, fiz o mesmo. Ele entrou no terraço e segurou a porta para mim, prossegui, entrando também.

Fui até distância considerável e virei-me para encara-lo. Ele fechou a porta e virou-se em minha direção também. Apertei meus olhos, confusa e ele se manteve calado, me analisando.

Passado os segundos de terror com aquele olhar indecifrável, Gustavo abriu um sorriso, daqueles que me fazia bambear até as pernas que eu não tinha.

Eu não estava nesse momento, não conseguia sorrir, por mais mexida que eu estivesse. Ele não ia me confundir e me atordoar. Estava cansada de rodeios, seus roteiros finais nunca me favoreciam.

— E então? O que você quer?

La putaOnde histórias criam vida. Descubra agora