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— Não, vai embora!

Gritei, empurrando mais a porta contra o corpo dele.

— Gabriela, por fav..

— Não!!!

— É importan..

— Saí!!! Eu vou chamar a segurança do prédio.

Berrei, enquanto ele segurava a porta.

— É sobre o Gustavo.

Na mesma hora soltei a porta e encarei seu rosto. Arregalei meus olhos e meu corpo todo se arrepiou.

— Se você tiver fazendo isso pra ter a minha atenção, eu vou..

— Não é!

Ele me interrompeu.

Edgar levou as mãos ao bolso e pegou uma carta. Ela estava aberta e um pouco amassada.

— No dia em que ele saiu, ele levou essa carta com um buquê igual a esse para a empresa. Ele entregou a Lúcia e deu a má sorte de esbarrar comigo na saída. Ele me contou os planos dele e meu ciúmes tomou conta de tudo. Ela estava indo te entregar, eu peguei, joguei as flores no lixo e levei a carta para minha sala. Eu ia jogar fora mas você entrou e eu guardei na gaveta, esquecendo. Acho que isso é seu.

Ele falou, me estendendo a carta e as flores.

Peguei-as e meus olhos se encheram de lágrimas. Fiquei alguns minutos parada, até que uma ira tomou conta de mim. Encarei Edgar com desprezo e joguei a carta no chão. Voei encima dele e comecei a dar com as flores em seu corpo, batendo e chutando.

— Seu desgraçado, infeliz, eu te odeio. Seu ridículo, eu te adorava tanto, eu tinha tanta consideração por você e você acabou com tudo. Seu filho da puta! Onde ele está? Me fala? Me fala agora!

Gritei, batendo, enquanto as pétalas voavam.

— Não sei! Eu não sei!

Ele falou e não se defendeu, apenas começou a chorar e se protegia com as mãos.

Edgar foi um pouco para trás e minha força acabou. Eu chorava, olhando com desprezo para ele, ofegante. Joguei a ponta verde que havia sobrado do buquê encima dele e limpei um pouco das minhas lágrimas.

— Me desculpa.

— Não! Nunca mais olhe na minha cara. Eu tenho repúdio ao que você fez. Vai embora. Saí daqui agora!

— Gabri..

— Saí daqui, seu nojento!!!

Berrei descontrolada e comecei a empurra-lo até a escada. Ele se desequilibrou um pouco e eu parei, ofegante e me afastei. Edgar parou e me encarou, chorando. Dei minha última olhada para ele e entrei na minha casa, batendo a porta.

Eu estava muito nervosa e chorava sem parar. Nunca havia me decepcionado tanto.

Olhei para o chão e vi a carta. Me sentei, limpei um pouco meu rosto e peguei-a, abrindo.

"Oi, minha loirinha. Queria te dizer algumas coisas, nem sabia por onde começar quando decidi te escrever, mas acredito que dizer que: eu estou livre, seja um bom começo. Eu sei que dei as costas para você, para nós. Larguei nossa redoma, diminui os seus esforços e não tinha o direito de te procurar agora. Mas, queria te dizer que, nesse meio-tempo, meu coração sempre voltava pra conferir a sua ausência, sempre voltava pra perguntar se você havia feito aquilo mesmo, eu me torturei demais por ter causado a sua partida. Nos meus melhores sonhos, eu me realizava ao constatar que nós cumpríamos o enredo dos clichês: você sempre estava lá quando eu ia a sua procura, com esse sorriso lindo que você tem, e esses olhos gigantes e brilhosos. Acordar e entender que você não estava mais lá, era duro. Tudo passou, a vida permitiu que eu parasse de sonhar. Gabriela, queria te dizer que eu lembro de tudo. Lembro do nosso sexo cheio de desespero, dos seus olhos hipnotizantes que não me deixavam fazer coisas ruins e impulsivas, ao menos que fossem os impulsos que me levavam a te tocar com a minha boca mas isso, nem de longe, era ruim. Lembro da mudança de humor que o seu cheiro me causava, lembro de você deixando meu lado ruim enfraquecido, lembro da culpa tomando conta de mim toda vez que te encarava e lembro-me de sentimentos que eu não conhecia, se apresentando. O modo como seus olhos sorriam pra mim quando eu te dava o mínimo de algo bom me fez querer crescer ele, crescer algo de bom que eu nem sabia que eu tinha. E, o modo como a sua tristeza me surrava quando eu errava, foi a ruína mais vitoriosa e evolutiva que eu já vi em alguém. Foi a minha salvação. Eu achei que havia entendido sobre superação quando fiz uns estilhaços no nosso caminho, para que se você tentasse vir até mim, os cacos cortassem teus pés. Mas, eu entendi, na verdade, o que era o amor quando assim que saí, fui tentar saber sobre toda a sua vida, e não ser mais parte dela, não ter feito diferente, fez com que um eco endurecedor gritasse no meu coração. Ali, me atentou o pensamento, que as pegadas de sangue no chão, eram minhas, porque não importava quantos e o tamanho dos cacos, agora e sempre, amanhã ou dez dias, nesse ano ou rm dez à frente, eu, sempre, voltarei pra você.

Me encontra no terraço, se ainda existe um sim, hoje. O casarão tá abandonado mas dá pra entrar pelos fundos. Sete horas.
Eu te amo, meu amor.

Gustavo.

O desespero tomou conta do meu corpo. Eu só soube gritar, como se ele pudesse ouvir e amassar aquela carta no meu peito.

A vida havia acabado de me dar a maior das rasteiras depois de ter sido obrigada a ser uma prostituta, a decepção com meus pais e agora a tirada do que eu sempre sonhei.

La putaWhere stories live. Discover now