CAPÍTULO 1

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     Abri a maldita porta que antes me dava tanto medo. O quarto não era tão grande, contava com duas camas em lados opostos cada, mesinhas de cabeceira bem ao lado decoradas com pequenos abajures, um guarda-roupa pequeno, além de duas araras carregadas de cabides. Parecia que um lado espelhava o outro, uma boa forma de dividir.

     Entrei e observei cada pequena parte do lugar que seria meu novo lar por alguns anos. Eu finalmente estava na faculdade, finalmente estava trilhando o meu próprio caminho. Pensar sobre isso geralmente me fazia sabotar meus próprios planos, imaginar se eu seria boa o suficiente para estar na faculdade, boa o suficiente para me tornar independente logo aos dezoito anos. Principalmente levando em consideração que nunca tive pais, nunca houve alguém que eu quisesse chamar de família. Além de Bin, claro.

     Me tornei órfã quase de imediato após nascer, de acordo com a diretora do orfanato que me recebeu, cheguei até lá apenas com roupas do corpo e uma correntinha enrolada no pulso. Era uma recém nascida, e como naquela época o orfanato não tinha como cuidar de alguém tão frágil, fui transferida para outro lugar em Busan. Conforme fui crescendo, continuei a ser transferida de um lugar para outro, fosse pelo lugar fechar ou por estar cheio demais, eu nunca passava mais de dois anos no mesmo lugar. E com tantas crianças no mesmo lugar, era difícil que alguém quisesse me adotar, uma menina comum, com notas comuns na escola e que frequentemente se metia em confusão. Nunca contei à diretora do orfanato, apesar de achar que talvez ela soubesse, mas sempre que me metia em encrenca era tentando ajudar os mais novos que eu. Todas as crianças do orfanato iam para a mesma escola, então todas eram alvo de bullying igualmente. Sempre que podia, eu defendia os menores, o que me rendia algumas discussões e por vezes até confusões físicas.

     Em uma das confusões que entrei, conheci um garoto franzino de olhos falsamente delineados, ele tinha uma expressão hostil, mas não era nem um pouco. Descobri isso depois de vê-lo sendo humilhado por uns garotos da terceira série, tentei não me intrometer, mas quando as lágrimas começaram a escorrer daqueles olhos tão pequenos não consegui me conter e briguei com os garotos, que por sua vez, tinham pais que foram até a escola defender a honra deles. Resultado, voltei para casa segurando a mão de Moonbin o caminho todo, fingindo que o corte na boca que levei depois de tomar um soco não estava doendo nada. Naquele dia depois de chegar em casa, fiquei de castigo ajoelhada em sementes de girassol por duas horas. Moonbin não levou bronca, fiz questão de tomar a culpa para mim, mas ele foi até a cozinha e pegou grãos de arroz, despejou ao meu lado e ajoelhou-se ali durante todo o meu castigo. Naquela época eu não sabia, mas a partir daquele momento eu passaria a ter alguém para chamar de família.

     Bin e eu éramos como irmãos, crescemos juntos a partir do dia que nos conhecemos, éramos inseparáveis. Então foi um choque quando depois de um ano, uma mulher surgiu dizendo ser a tia biológica dele. Ela alegou não saber que o irmão mais velho havia doado o filho depois de ver a esposa falecer de câncer, já que ela morava em outro país e não tinha tanto contato. O fato é que ela estava interessada em trazer o garoto de volta para o seio da família. Foi uma guerra todos os dias que se seguiram, já que ele não queria ir embora sem mim. Houve uma ocasião em que levaram ele embora e ele voltou ao orfanato no meio da noite, todos ficamos preocupados, mas depois de algumas horas procurando o encontrei no porão no meio de algumas caixas velhas. Depois desse episódio ficou muito claro que ele preferia jamais ser adotado, do que ficar longe de mim, a irmã mais velha. A tia o queria demais para desistir, então um dia decidiu levar o brinde que vinha junto a ele, eu.

     — Tá, depois eu falo com você Baepsae... Não, ainda não sei se vou. — Parada no meio do quarto virei em direção a porta e vi um rapaz entrar com o celular ao pé do ouvido. Imaginei que não tivesse me visto, pois sem me cumprimentar deitou na cama do lado esquerdo — Depois eu te ligo Hoseok, tchau!

GOOD NIGHT ✿ JJK (Livro 1) |EM EDIÇÃO|Место, где живут истории. Откройте их для себя