CAPÍTULO 11

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     A noite agitada com falta de sono me pegou de jeito, quase não dormi e as olheiras eram prova disso. Justo no primeiro dia de aula estaria com uma cara péssima. Me apresentar para a turma e para os professores com cara de quem bebia no meio da semana não era exatamente um início letivo triunfal.

     Não demorei muito no banho, apesar de precisar de um momento para lavar a tensão que tinha sentido durante toda a noite. Vesti uma calça jeans preta e uma camisa azul com uma frase estampada, sem dar a mínima para chamar atenção no primeiro dia. Tudo que queria era permanecer invisível para ter paz. Peguei a mochila com estampa florida e olhei em volta para ter certeza que não estava esquecendo nada.

     No caminho para o prédio da minha primeira aula, passei por uma cafeteria vintage que me encheu os olhos. Se os cafés fossem tão bons quanto o sentimento que tive ao olhar para a fachada do lugar, esse seria meu novo refúgio no campus.

     A sala estava vazia, exceto por uma garota bem na fileira da frente, cada passo que eu dava na direção dela me fazia constatar que ela era o sinônimo de beleza. Como se fosse esculpida com pedaços de uma deusa, ela tinha uma beleza inocente mas traços sexy. Seus longos cabelos pretos iam até a metade da cintura, tão perfeitos até a noite teria inveja. Ela tinha maçãs do rosto e nariz pequenos, lábios levemente carnudos e um arco do cupido bem desenhado, junto a olhos escuros que pareciam o céu no meio da noite.

     — Olá. — Cumprimentei com meu melhor sorriso — Posso sentar aqui? — Apontei para o assento ao lado do dela e justifiquei — Provavelmente lá atrás vai ser uma bagunça.

     — Claro, o lugar é seu. — Seus pequenos lábios se curvaram em um sorriso doce — Eu sou Park Soo Young, mas pode me chamar de Joy.

     — Sou Kim Yeon. — Olhei para o livro a frente dela e deixei transparecer um sorriso, era O Morro dos Ventos Uivantes.

     Logo soube que seriamos boas amigas.

     Quando as duas aulas da manhã chegaram ao fim, deixei Joy no fim do corredor com um aceno animado. Estava ansiosa para ter mais aulas com ela. Se não fosse pela beleza mais que encantadora, Joy seria minha cópia fiel. Os mesmos gostos para livros, filmes e músicas. Éramos como almas gêmeas.

     Decidi esticar as pernas e finalmente comer alguma coisa. Não tomei café da manhã e não comi nada além do brownie na outra noite, sem contar na vontade que eu estava de visitar o café vintage que vi no caminho para a aula.

     A cafeteria por dentro era tão bonita quanto por fora. As paredes de tijolos tinham um toque medieval na minha concepção, com uma única parede de madeira bem no centro do lugar. Luzes pendiam do teto como se fossem estrelas acima das mesas de ferro, as cadeiras iguais tinham o encosto da coluna com desenhos redondos belíssimos. Nos cantos das paredes haviam mesas de madeira mais longas, com sofás de madeira acolchoados e uma enorme lousa com várias cores de giz para os clientes rabiscarem à vontade. O balcão expositor estava cheio com guloseimas tão bonitas que não pareciam reais, com cerejas no topo e calda de chocolate escorrendo milimetricamente no lugar.

     Fiz meu pedido ansiosa e esperei na fila para retirada. Quando a garota baixinha com avental preto fosco trouxe a bandeja senti o aroma delicioso de capuccino. A quanto tempo não tomava um assim? Nem conseguia lembrar o sabor.

     Virei empolgada para encontrar uma mesa e me deliciar com o café e a fatia de bolo de chocolate, mas não antes que a bandeja se chocasse contra alguém e tudo fosse desperdiçado no chão.

     — Desculpe. — Lamento imediatamente e recolho tudo do chão para a bandeja outra vez.

     — A culpa foi minha. — Suas mãos entraram no meu campo de visão quando o ele ajudou a colocar tudo na bandeja.

     — Não — Levantei a cabeça e o olhei nos olhos — precisa.

     — Por favor, é o mínimo que posso fazer depois... — Ele gesticulou com um sorriso para a sujeira pelo chão — disso.

     Levantamos do chão segurando a bandeja juntos, seu sorriso ainda largo. Uma das atendentes pegou a bandeja das nossas mãos e não havia mais nada entre nós.

     — Não seja má, eu só estou tentando ser um cavalheiro. — Ele brincou com a voz mansa.

     — Tudo bem. — Concordei.

     Como prometido ele me comprou um novo café, e também bolo de chocolate, e mesmo que eu tenha insistido ele acabou pedindo torradas com geleia de morango afirmando que a geleia dessa cafeteria era dos deuses. Enquanto me deliciava com a refeição e comprovava o comentário sobre a geleia, ele me falava sobre como acabou estudando neste lugar já que seus pais moravam em Nova Iorque. Descobri um momento depois que seu nome era Park Jimin e que ele era estudante de Direito, o que era bem estranho considerando seu humor incrível. Sempre pensei que quem fazia Direito acabava sendo carrancudo e até sem brilho, mas Jimin era a personificação de tudo que brilhava. Conversamos tanto que nem tínhamos notado quando o café foi esvaziando depois do horário de almoço.

     — Senhor Park. — Uma vozinha aguda chamou ao lado da mesa e vi uma garota com cabelo tingido de rosa olhando para Jimin — Será que posso sair mais cedo? Gostaria de passar no hospital para ver minha avó.

     Então ele trabalhava no lugar, isso explicava porque ele se gabava tanto pela excelência do café. Provavelmente era o gerente. Muitos estudantes tinham trabalhos de meio período para arcar com as despesas da faculdade.

     — Sim, claro Nari. —Ele sorriu calorosamente para a garota — Leve alguns doces para ela, tenho certeza que depois de comer qualquer um desses ela vai levantar e dançar como se tivesse dezenove anos outra vez.

     — Obrigada, o senhor é o melhor. — Com uma gargalhada curta Nari deixou a mesa e entrou pelas portinhas do balcão.

     — Senhor Park? — Coloquei a xícara no pratinho e abri um sorriso segurando o lábio entre os dentes — Não sabia que você tinha quarenta anos.

     Sua gargalhada era tão boa quanto um bom chocolate quente.

     — Já pedi para não me chamarem assim, mas acho que é uma questão de respeito por eu ser filho do dono.

     — Dono? Dono de quê? — Eu estava pensando em tudo, menos no óbvio.

     A atendente se aproximou com uma bandeja e a ajudei a colocar tudo no lugar para que ela levasse a cozinha.

     — Dessa cafeteria.

     — O que? Por que não me contou? Eu amei esse lugar. — Admiti pegando minha bolsa e nos levantamos da mesa.

     — Bom, não é algo que introduzo em uma conversa do nada. — Suas bochechas ficaram levemente coradas — As pessoas tendem a ficar mais próximas depois que conto isso a elas.

     Olho para meus próprios pés e penso se Jimin acha que serei uma dessas pessoas.

     — Ok. — Contraí os lábios e segurei bem a mochila ao empurrar a porta — Então, obrigada pelo café, você estava certo sobre a geleia.

     Nos encaramos por alguns segundos e seus lábios formaram um arco curvado.

     — Nos vemos por aí, Jimin. — Acenei e fui embora.

     — Até mais, Yeon.

GOOD NIGHT ✿ JJK (Livro 1) |EM EDIÇÃO|Where stories live. Discover now