CAPÍTULO 8

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Abri os olhos devagar e os fechei novamente, repeti esse processo umas dez vezes antes de recobrar a consciência. Uma dor de cabeça tinha me invadido e um maldito mal estar também.

A cama não parecia tão nova assim, a sensação do colchão duro contra as minhas costas me fazia sentir um cansaço leve na coluna. A claridade estava inundando todo o cômodo e eu estava com os sentidos confusos, as lembranças da noite anterior estavam se formando como uma tempestade.

Cocei os olhos e sentei na cama. As cortinas das janelas tinham uma cor horrível, um marrom meio café que não deu certo. Algumas fotos estavam em um canto na parede perto de uma penteadeira pequena e gasta. Eu estava no meu antigo quarto.

— Finalmente. Você dormiu o dia todo. — Ouvi a voz de Moonbin e olhei para a porta.

Ele trazia consigo uma bandeja pequena e um enorme sorriso.

— Que horas são? Dez?

Uma risada lhe escapa.

— Um pouco mais que isso. — Ele colocou a bandeja em cima das minhas pernas e me ofereceu uma xícara com café — São três da tarde.

A meu Deus! Eram três da tarde e estava deitada dormindo na casa dos meus pais adotivos, isso não poderia ser pior. Tinha que organizar meus livros e me concentrar em estar disposta para assistir as aulas, já estavam tão próximas de acontecer e eu estava me embebedando e fazendo Deus sabe o quê. Não conseguia lembrar do que houve na noite anterior, parecia que um pedaço do meu dia tinha sido apagado.

— O que aconteceu ontem?

— Você não se lembra?

Balanço a cabeça em discordância e seu olhar vagueia para longe.

— O que foi, Bin?

Toquei a bochecha dele e virei seu rosto em minha direção para me olhar nos olhos. Vi um curativo pequeno em sua sobrancelha e arregalei os olhos. Toquei meu próprio rosto e senti minha bochecha dolorida. Deslizei os dedos para os lábios e a sensação me fez lembrar aos poucos. Os lábios de Jungkook tocaram os meus. Eu estava tão envolvida que mal conseguia respirar, isso custou algo de Moonbin, provavelmente ele achou que eu não queria o mesmo que Jungkook e iniciou uma briga quando eu caí e bati o rosto no chão. Se ele soubesse que eu fui quem deu o maior passo para isso acontecer...

— Quando aquele idiota beijou você eu não consegui ficar parado. — Ele bufou.

— Desculpe, isso foi por minha causa. —Toquei a sobrancelha dele e o vi fazer uma careta.

— Está tudo bem, apenas coma.

Terminei meu lanche da tarde e aproveitei para pegar algumas roupas que não havia levado ainda para o campus. Bin se ofereceu para me deixar na faculdade e desceu as escadas antes de mim para levar a bandeja e avisar a mãe que estava indo comigo. Eu preferia não cumprimentar a Sra. Kim, mas se eu não a cumprimentasse esse seria um motivo para ela me crucificar depois nas conversas em família.

Coloquei a mochila nas costas e olhei um momento para as fotos na parede. Uma delas era só a minha mão e um coração desenhado com caneta preta, eu era só uma colegial.

Desci as escadas e parei atrás da parede que dividia a sala da cozinha assim que ouvi a voz da Sra. Kim.

— Não sei por que ainda a ajuda. — Seu tom ríspido me fazia ficar apreensiva por Moonbin — Você sabe que ela não é sua irmã de verdade.

— Mãe, eu gosto da Yeon, — Ele sempre me defendia, pelo menos quando ouvia o que ela falava sobre mim — ela foi a única criança que me estendeu a mão no orfanato.

— Até o nome dela é estranho, quem coloca um nome desses? — eu nem conseguia ver mas sabia que ela estava revirando os olhos.

— O nome dela não é esse. — E mais uma vez ele se esforçou para repetir a minha história para ela — Quando ela chegou no orfanato a única coisa que tinha era uma medalhinha de ouro. Era uma flor de lótus. — Ele adorava essa história, sempre me dizia que parecia coisa de filme — Então as mulheres do orfanato a chamaram assim.

— Mesmo assim...

Desci o restante dos degraus e fui em direção a cozinha calçando meus sapatos.

— Olá, Sra. Kim.

— Oi. — Ela pegou uma cenoura na bancada e começou a corta-la sem olhar para mim — Não vi você chegar ontem, não devia estar na faculdade?

Moon Bin lançou um olhar matador a sua mãe e o repreendi com o meu próprio olhar. Tudo bem que ela fosse cruel comigo, mas eu só não queria que ele fosse mau com a própria mãe por minha causa.

— Desculpe, Sra. Kim. — Curvei meu tronco em uma reverência com a cabeça baixa.

Quando Bin e eu fomos levados até a casa dela, aprendemos a ser educados a moda antiga, nos curvando para pessoas mais velhas e as respeitando da forma que a Sra. Kim achava ser adequeada. Claro que Bin tinha regalias e não ouvia críticas quando lhe faltava a educação, mas eu nunca contestei, sempre soube que aquele não era meu lugar. Sempre soube que ela estava me fazendo um favor. Eu realmente não gostava da Sra. Kim, mas, agradecia por ela não ter me deixado na rua na primeira oportunidade.

— Tudo bem. — Ela disse enquanto eu me erguia novamente  — Mas nunca mais chegue na minha casa bêbada igual a uma vagabunda.

As palavras dela sempre foram duras comigo, eu sempre aguentei tudo, mas a palavra vagabunda tinha acertado em cheio o meu maldito orgulho. Olhei para seus olhos acinzentados e dei um passo a frente tomada pelo ódio, mas Bin segurou meu pulso e me puxou levemente para trás.

O toque dele me trouxe de volta para mim mesma e dissolvi o ódio momentâneo que sentia por ela. Relembrei que o que ela dizia não importava, eu sabia que não era uma vagabunda, ela estava errada sobre mim. Eu sabia a verdade e isso sim importava.

— Adeus senhora Kim, e obrigada por me deixar ficar esta noite. — Falei e me curvei uma última vez antes de sair da cozinha.

GOOD NIGHT ✿ JJK (Livro 1) |EM EDIÇÃO|Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum