CAPÍTULO 3

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Esperei uns vinte minutos enquanto lia um livro em pdf pelo celular. Quando ouvi o ronco da moto de Bin ao longe já sabia que era ele, reconheceria esse som em qualquer lugar. Ele buzinou duas vezes quando me viu e estacionou no canto da calçada do prédio azul. Usava sua clássica calça de moletom cinza e camiseta de treino preta. Continuava a usar sua marca registrada nos pés, um Jordan cor de creme com detalhes em cinza. Quando tirou o capacete, minhas bochechas esquentaram por ele, todos lançavam-lhe um olhar de esguelha ou dois.

Moonbin era popular entre as garotas, sempre fora. Desde os treze anos quando começou a falar mais e a praticar esportes, ganhou fama em todos os lugares que ia. As garotas na escola davam atenção a tudo que ele dizia, sempre tinha torcida para ele em seus jogos esportivos e ele até ganhava algumas cartas de declaração de amor. Lembro de uma vez quando tínhamos mais ou menos quinze anos, uma garota ruiva nos parou na rua quando estávamos voltando para casa depois de um dia de aula, ergueu as mãos na direção dele e ofereceu uma caixa de chocolates com uma carta cor de rosa. Os olhos dela estavam cheios de expectativa quando disse que na carta continha todo o amor que ela sentia por ele, mas Bin apenas olhou para mim por dois segundos e retornou o olhar para a garota. O que aconteceu em seguida foi até um pouco cruel, ele não disse nada, desviou dela e foi embora.

Acho que essa foi a primeira vez que o vi sendo indiferente com alguém, talvez tenha sido nesse dia que parei de admira-lo como homem. Sempre gostei do fato de ser tratada tão bem por ele, mas eu era sua irmã, não contava. Pensar que ele tratava as outras garotas com indiferença me deixava mal. Eu não esperava que ele aceitasse as declarações ou fingisse gostar delas, mas existiam formas muito menos dolorosas de dizer não para alguém. Naquele dia passei o fim de tarde dobrando roupas e imaginando a mim no lugar da garota de cachos ruivos, sendo ignorada pelo rapaz que eu gostava na frente de outras pessoas. Pensando nisso tive meu coração partido em mil pedaços, assim como deve ter acontecido com o dela.

— Quer procurar onde primeiro? — Ele falou descendo da moto.

— Não sei. — Dei de ombros — Não faço ideia de onde perdi.

— Não se preocupe, — só nesse momento consegui reparar como ele parecia estar mais forte, talvez fosse a luz do dia — vamos achar.

— Obrigada. — Abri um curto sorriso.

Moonbin me lançou um olhar açucarado, daqueles olhares doces que ele tinha começado a esboçar desde o último inverno quando ficamos presos em uma cabana a noite inteira por causa da neve. Éramos só nós dois, uma lareira que não sabíamos acender e o frio estridente. Fomos passar o natal no interior junto com os pais dele, no meio da tarde Bin estava entediado e me implorou para dar uma volta nos arredores. O problema é que não percebemos que estávamos subindo uma montanha contornando todas aquelas árvores, e quando a nevasca começou, se tornou perigoso demais descer a pé. Tínhamos visto essa cabana no meio do caminho e decidimos que seria mais seguro esperar a nevasca passar. A neve caiu a noite toda. Não tínhamos luz, fonte de calor ou adultos para nos dizer que estávamos seguros. Então ficamos abraçados a noite toda, eu acariciando seu cabelo e falando tudo que me vinha a mente para que ele soubesse que eu estava acordada e que era seguro ele dormir. Levei tanta bronca dos pais dele que quase acreditei que a culpa era realmente só minha.

     — Florista! — Como se o apelido idiota tivesse sido aprovado, olhei para para trás no mesmo instante — Você esqueceu uma coisa no quarto.

     Ele caminha tranquilamente na minha direção, parecia até estar gravando um comercial de amaciante de roupas. Um sorrisinho pequeno nos lábios, uma das mãos no bolso e uma camisa branca nem passada com calça de corte reto. Meus olhos se arregalaram quando voltei meu olhar para Moonbin lembrando que ele estava logo ali, sobrancelhas franzidas e braços cruzados, ele não olhava para mim e sim para Jungkook que já estava ao nosso lado.

     — Você estava no quarto dela? — Bin questionou.

     — E você, nunca esteve lá? — A tentativa dele de ser engraçado foi por água abaixo, Bin descruzou os braços e fez menção de se erguer contra Jungkook, coloquei a mão em seu peito o parando antes disso.

     — Ele só está brincando. — Olho para o lado e vejo que Jungkook não baixou a cabeça, os dois ainda estão se encarando — Não é, Jungkook?

     Demora um pouco para que ele pare com o jogo de egos, mas desliza o olhar para mim e seus olhos encontram os meus. Não tinha reparado antes que ele tinha uma cicatriz na bochecha, mas era tão sútil que até parecia que um floco de neve ficou chateado com ele e decidiu lhe causar um pequeno corte. Lábios, ele tinha lábios pequenos, mas não do tipo linha reta, estavam mais para lábios de criança, quando são pequenos mas não deixam de ser inchadinhos.

     — Eu só queria te entregar isso aqui. — Ele esticou a mão e nela estava repousando meu colar de lótus.

   Um mar de alívio atravessou minhas veias e senti que podia respirar outra vez. Acho que devo ter deixado o colar cair quando fui colocar o celular dele no lugar mais cedo, quando fiquei sem graça e um pouco irritada com ele.

   Jungkook se aproximou um pouco mais e fiquei paralisada. Acho que nunca havia me sentido assim antes, essa sensação de que algo está errado, mas mesmo errado parece bom.

     — Eu posso? — Ele ergueu os dedos com o colar entre eles e só pude imaginar que ele estava pedindo para colocar no meu pescoço, então acento e virei de costas.

     Evitei o olhar de Moonbin quando levantei meu cabelo para facilitar, mas vi de esguelha que ele virou o rosto e pareceu rosnar. Senti os dedos de Jungkook roçarem meu pescoço quando passou os braços por cima dos meus ombros. Ele fechou o colar e me virei para agradecer, ele estava com aquele pequeno sorriso de lábios comprimidos sem mostrar os dentes, os olhos também se comprimiram um pouco e pude jurar ter visto um círculo dourado em volta de sua íris.

     — Acho que depois disso posso passar mais um dia, não é mesmo?

     — O que? Mais um dia? Yeon você passou a noite com esse cara? — Mais uma vez, Moonbin me fez recobrar a consciência de que ele estava ali.

     — Bin...

     — Estou falando da estufa. A Florista está me ensinando algumas coisas. — A mentira dele tinha sido dita de forma tão tranquila que até eu acreditaria ser verdade. — Não é, Yeon?

     Engoli a culpa da mentira e esperei que ela fizesse uma má digestão antes de responder.

     — S-Sim.— Eu odiava mentir para Moonbin, mas dessa vez era necessário.

     Se ele soubesse sobre a noite passada faria uma cena digna de novela. Nenhum irmão gosta de imaginar a irmã dividindo um quarto com outro rapaz, ainda mais um que ela acabou de conhecer.

     — Não sabia, motoboy? — Jungkook estava sendo legal demais pra ser verdade, já tinha voltado a ser o de antes — Não sabia que ela gosta de flores?

     — Eu tenho cara de idiota? — Moonbin aperta os braços já cruzados fazendo os músculos ressaltarem.

     — Eu devo responder?

     — Já chega. — Intervim e fui empurrando Moonbin em direção a moto.

     Sempre tinha um capacete extra na parte de traz da moto, então o peguei e ajustei na cabeça. Subi e não olhei para trás quando nós afastamos do campus.

GOOD NIGHT ✿ JJK (Livro 1) |EM EDIÇÃO|Where stories live. Discover now