CAPÍTULO 18

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Me encostei ainda mais a bancada da cozinha enquanto Philipe avançava na minha direção pronto pra me bater mais uma vez, tinha o coração acelerado e suplicava com o olhar pra que ele tivesse misericórdia. Mas essa palavra era algo que ele não conhecia, Philipe era um homem cruel de coração impenetrável e o seu rosto nunca transparecia o que se passava na sua mente, além do seu olhar frio, essa era uma das características que mais me assustava nele.

     - Você nunca aprende, não é? - A minha cabeça doeu assim que ele segurou o meu cabelo com força e o meu rosto estava bem próximo ao dele, sentia o seu hálito quente enquanto tentava inutilmente me soltar desesperada sem suplicar, sabia que isso apenas o incentivava ainda mais a me machucar. - Sobre o quê vocês estavam conversando, hum?

Dei um grito alto quando ele me encostou na bancada com brutalidade insatisfeito pelo meu silêncio, com a outra mão eu procurava algo que servisse para me defender. Philipe estava me sufocando com ambas as mãos que cobriam quase todo o meu pescoço, não via mais nada no seu rosto a não ser ódio, um ódio extremo. Cheguei até a questionar se não tinha me casado com o próprio Satanás. 

Ele estava mesmo disposto a me matar?

     - Parece que a violência realmente não funciona com você, não é? - Estava caída no chão procurando pelo ar enquanto ele sussurrava próximo ao meu ouvido. - Como você quiser...

Toquei na minha barriga confusa vendo-o se afastar, ainda estava tremendo e com a respiração ofegante, nem sequer conseguia me colocar em pé, tinha de me acalmar pela vida dos meus filhos, a minha gravidez ainda era de risco e um único passo em falso poderia arruinar tudo. Lá fora já estava escuro quando parei de chorar e Philipe voltou a aparecer com a mesma expressão de antes completamente impenetrável, me encolhi soluçando e sem dizer nada, ele apenas me arrastou pelo pulso. Não até ao andar de cima e sim para o de baixo, ao final do corredor tinha uma outra porta onde algumas escadas escuras davam acesso ao subterrâneo, me arrepiei só de pensar na possibilidade de ter adivinhado o que ele estava pensando.

Ao final das escadas Philipe me jogou no chão daquela sala mal iluminada e com cheiro metálico, era um porão onde a única fonte de luz era uma pequena janela, minha volta não havia mais nada a não ser uma cama velha e uma outra porta minúscula que parecia ser um banheiro.

     - Vamos ver se assim você começa a me obedecer. - Na sua mão havia uma pequena chave, com certeza da sala onde estávamos. - As regras agora são ser bem mais simples, você vai passar aqui o resto dos seus dias até aprender, vai tomar um banho quando eu quiser, vai comer quando eu quiser e só vai sair daqui quando eu quiser. E não fique aliviada achando que se livrou de mim, princesa. Eu vou voltar mais tarde pra terminar o que comecei e você vai implorar pra morrer.

     - Philipe, favor. - Pedi. - Você não pode me deixar aqui. Eu estou grávida, eles não vão resistir num lugar como esse... Pense na vida dos seus filhos, por favor.

Philipe se abaixou até ficar na altura do meu rosto e o acariciou, o seu polegar contornou lentamente os meus lábios até desfazer o meu penteado. - Já disse que não gosto que prenda a merda do cabelo. Além disso você está aqui porque mereceu, agora os SEUS filhos vão morrer e a culpa é toda sua. Mas não se preocupe, o pai deles vai cuidar muito bem deles lá no céu.

Não entendi o que quis dizer com aquilo, ele estava se referindo ao Lucas? 

Oh meu Deus, ele vai matar o Lucas?

Em momento algum o meu marido demonstrou algum vestígio de pena ou de arrependimento, mais uma vez a minha teoria se confirmava, ele não tinha qualquer tipo de sentimento dentro dele. A porta se fechou rapidamente deixando o lugar a minha volta quase todo escuro por já não haver luz solar. Ainda no chão, continuei chorando sem conseguir encontrar uma possível solução pra isso.

Mas de certa forma Philipe tinha razão quanto a uma coisa, a culpa de tudo isso era minha e de mais ninguém, eu fui teimosa o suficiente para me casar com ele e agora apenas estou pagando pelo meu erro. Não me lembro por quanto tempo mais continuei chorando, estava cansada e parecia que aquele choro tinha servido para me aliviar um pouco até adormecer naquela cama desconfortável sentindo muito frio.

...

O ruído da porta sendo aberta me acordou, tentei me sentar na cama assustada vendo Philipe se aproximar devagar. Ainda que com a pouca luz consegui notar que ele estava apenas usando uma calça moleton e tinha o cabelo molhado, obviamente havia acabado de sair do banho.

Tentei me manter o mais longe dele possível mas a parede nas minhas costas me impediu.

     - Não entende que tudo o que estou fazendo é para o seu bem? - Permaneci calada. - Você me obrigou a isso. Acha que não me custa ver você num lugar como esse?

     - Então porquê não me tira daqui? Porque não me deixa voltar pra minha casa de onde eu nunca deveria ter saído? - Estava quase sem voz

Philipe deu uma risada irónica.

     - Casa? Você acha mesmo que tinha um lar? Quer voltar para debaixo do mesmo teto que o homem que te ofereceu a mim? Você deveria me agradecer por ter te salvado dele.

     - Do que adiantou ter me salvado quando me trata muito pior que ele? - Sentia a raiva me consumindo mais uma vez, não é possível que ele não consiga reconhecer os próprios erros e ainda acha que está me ajudando.

Philipe continuou fixo no meu olhar até tomar os meus lábios num beijo, não retribuí e esperei que ele desistisse. Nojo, era tudo o que eu sentia por tê-lo me tocando de novo, frustrado, o meu rosto ardeu com um tapa estalado e quase chorei de novo com a ardência.

     - Porquê sempre tem de dificultar as coisas? Porquê continua me desafiando quando sabe que eu posso acabar com a sua vida num piscar de olhos?

Era mais uma afirmação do que uma pergunta que eu nem tive tempo de responder antes de ele me forçar mais uma vez a beija-lo. Ainda usava o mesmo vestido preto curto do velório e estava imenso frio naquele lugar, mesmo assim Philipe não pareceu se importar e continuou me tocando. Aos poucos poucos foi ficando por cima de mim me despindo, eu já nem sequer tentava impedi-lo, não tinha mais forças pra isso.

Depois de abusar de mim, Philipe vestiu as suas roupas e saiu de novo trancando a porta atrás de si. Nem me dei ao trabalho de me vestir, procurei uma posição confortável para adormecer ignorando as dores naquela cama desconfortável sem cobertor mas não conseguia. Estava assustada, nunca gostei de passar muito tempo no escuro por ser um dos castigos que o meu pai mais usava contra mim quando era mais nova e agora parecia que tudo estava se repetindo, mas de uma maneira muito pior.

Casada Com Um Psicopata (Série Mentes Insanas - Livro 1)Where stories live. Discover now