CAPÍTULO 28 [ESPECIAL]

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MEGAN

Por mais que eu estivesse me sentindo aliviada por ter finalmente me livrado de Philipe, no fundo eu não conseguia me sentir feliz com mais nada. Nem com a volta de Thomás e muito menos com o fato de ter descoberto que eu agora tinha uma mãe, quer dizer, que afinal sempre tive uma mãe.

Agora eu estava diante dela e Thomás acompanhava todo o momento encostado na batente da porta da sala. A mulher a minha frente era visivelmente linda e bem cuidada, tinha os cabelos castanhos e uma postura elegante, poderia também notar facilmente alguns traços de Thomás no rosto dela. Então era verdade.

Os seus braços rodearam o meu corpo e o seu perfume invadiu o ambiente, era bom estar novamente segura na presença da minha família, mas eu não consegui mover os meus braços para retribuir o abraço e muito menos sorrir ou dizer algo. Dentro da minha cabeça eu me perguntava porquê só agora.
Porquê só agora Thomás tinha voltado quando eu precisava dele a muito tempo e porquê só agora a minha mãe decidiu me procurar. Thomás sempre soube que ela nunca havia morrido mesmo assim me deixou chorar e lamentar a suposta morte dela durante todos esses anos.

Quando a mulher sorridente a minha frente me soltou, foi para colocar ambas as mãos no meu rosto e observar o meu estado deplorável enquanto ela vivia sossegada na sua casa. Através dos seus olhos eu sentia que ela realmente estava feliz e emocionada por me ver, mas eu não conseguia demonstrar o mesmo e tinha a certeza que os meus olhos nesse momento estavam apenas opacos e sem vida tal como toda eu. Poderia estar bem mais feliz se tivesse os meus filhos bebés comigo, Thomás poderia tê-los salvo se conseguisse chegar alguns dias antes.

A verdade é que tudo isso aconteceu porque eu confiava demasiado nas pessoas e nunca via maldade em nada nem ninguém, esse sim foi o meu maior erro que eu não estava disposta a repeti-lo nunca mais.

     - Por favor, diz alguma coisa, querida. - Levantei o olhar até ela e forcei um esboço de sorriso. - Como você está?

     - Como pode ver... Muito bem.

Sei que não deveria ter respondido dessa forma, mas não havia outra resposta mais adequada para um momento como esse. Era muita ironia da parte dela me perguntar como estou depois de tudo o que passei e nenhum deles moveu uma única palha para me ajudar.

     - Megan deve estar cansada, Mãe. - Thomás interviu ao notar o quanto a mulher havia ficado sem jeito. - Acho melhor explicarmos tudo a ela mais tarde.

Ela assentiu e Thomás me conduziu até ao andar de cima da casa onde ficavam os quartos. Entramos num de hóspedes, me sentei na cama confortável e não conseguia controlar a vontade que eu tinha de chorar, nada disso parecia verdade e a sensação que eu tinha era de que tudo era um sonho e que eu estava prestes a acordar para a minha realidade com Philipe. A realidade em que eu vivi durante meses sendo oprimida.

Thomás pareceu hesitante, mas ainda assim deu alguns passos até mim e se abaixou a minha frente, quando ele tentou segurar a minha mão eu a afastei rapidamente, não sabia explicar mas ter esse tipo de contato me assustava e por mais que não fosse agressivo eu sentia que iria machucar. Ele pareceu estudar o meu rosto e tentar descobrir algo através do meu olhar, mas tudo o que havia para descobrir ele já sabia, dentro de mim já não existia mais nada pra que ele pudesse ver, tudo me foi roubado da maneira mais dolorosa.

     - Está com fome?

Neguei com a cabeça e ele suspirou lentamente.

     - Megan, eu entendo que tudo isso tenha sido uma experiência bastante traumática pra você. Mas agora você está bem, mais ninguém vai te machucar, entende?

Eu sabia que ele estava sendo sincero e eu estava tentando confiar nas suas palavras, mas e se ele como todos os outros mais cedo ou mais tarde me fizessem mal? Afinal não era primeira vez que ele me fazia promessas que não podia cumprir.

     - Thomás, eu... Estou com dor de cabeça e preciso descansar. Desculpa.

O meu irmão assentiu e se levantou, mas antes de sair ele deixou o beijo demorado na minha cabeça e saiu fechando a porta atrás de si. Eu não queria ser rude com eles, com nenhum deles, na verdade eu estava me esforçando para conseguir e pelo menos tentar ultrapassar tudo isso. Mas ainda era tudo muito recente e coisas impossíveis de se esquecer.

Tirei os meus sapatos e me aconcheguei na cama macia, tentava adormecer de várias maneiras mas era quase impossível, era angustiante ter medo de fechar os olhos e achar que mais alguém quisesse te matar. Só depois de chorar mais um pouco eu acabei adormecendo em meio aos soluços espontâneos.

...

Quando acordei de novo a minha mãe estava sentada numa poltrona que eu nem sabia que havia no quarto, era estranho dar esse título a ela assim de um dia pra outro, era estranho acordar e descobrir que na verdade eu tenho uma mãe. Ela tinha uma expressão abatida no rosto e  parecia estar se esforçando para não pisar na bola em nenhum momento dessa atual suposta conversa.

     - Megan, eu não espero em momento algum que me perdoe. - Começou. - Isso é um direito seu, mas eu apenas quero que me oiça até ao fim. - Concordei e ela continuou. - Eu também fui forçada a me casar com o seu pai. Os nossos pais eram parceiros facilmente decidiram sem nem me consultar que o meu casamento já estava marcado para a próxima semana.

Me ajeitei na cama disposta a escutar até ao final quando a única parte que me interessava era a do momento em que ela me abandonava. Ela falava com pesar e se focava nas suas mãos juntas no seu colo enquanto voltava ao passado.

     - Eu tinha apenas dezanove anos e queria terminar a faculdade, mas o meu pai como sempre foi irredutível e querendo ou não eu acabei me casando. Durante os primeiros meses do meu casamentos, tudo era normal e eu até estava começando a amar o meu marido. Mas o seu comportamento mudou radicalmente quando mesmo depois de tentarmos muitas vezes eu não conseguia engravidar. O seu pai se tornou agressivo e passou a me trair com várias mulheres, inclusive com uma das minhas melhores amigas. Pouco tempo depois eu consegui engravidar e o seu irmão Thomás nasceu, durante um curto período de tempo o nosso casamento estava indo bem e eu achava que ele finalmente iria largar as amantes mas eu estava enganada. - Minha mãe deu uma pausa para suspirar antes de continuar. - Ele tinha várias outras mulheres e mesmo eu com o seu herdeiro nos braços ele passou a me ver como um lixo e anos mais tarde eu descobri que estava grávida de novo. Naquela altura eu já o odiava muito e confesso que pensei em abortar, eu não queria ter qualquer tipo de vestígio daquele homem em mim, mas logo me arrependi quando te peguei nos meus braços pela primeira vez. Eu cuidava de você com a ajuda da Júlia visto que o seu pai nunca te aceitou por ser uma garota, foi quando um dia ele chegou em casa e me acusou de tê-lo traído, ele me agrediu e quis me matar, eu não tive outra opção a não ser fugir e viajar para a Europa. Anos mais tarde eu entrei em contacto com Thomás e ele sempre me contava o que estava acontecendo, inclusive sobre o seu casamento.

Continuei olhando para minha mãe a minha frente que já tinha o rosto quase todo molhado pelas lágrimas, era realmente triste a sua história, mas nada justifica o fato de depois de dezassete anos ela não ter voltado para me buscar e isso eu não sei se algum dia a perdoaria.

     - Thomás veio até mim para juntos pensarmos numa forma de te salvar de Philipe e eu sabia muito bem o que era viver oprimida pelo marido. E agora o resto você já sabe e como eu disse, não espero que me perdoe se não quiser. É uma decisão sua, eu precisava te contar isso para me sentir bem comigo mesma.

Depois de me contar tudo isso ela me indicou algumas roupas no closet que havia comprado pra mim e eu fui tomar um banho quente, as palavras dela não saíam da minha cabeça por um único segundo. Mas o bom é que agora eu tinha a oportunidade de viver a minha vida como uma pessoa normal.







Eaí? Gostaram? Acham que Megan deveria perdoar a mãe?

Casada Com Um Psicopata (Série Mentes Insanas - Livro 1)Where stories live. Discover now